O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 19 de junho de 2010

Coisas de todos os dias. Carro do lixo

Onze da noite, o carro do lixo não me deixa dormir. Vivesse eu no campo e ouviria o som que amedronta a cidade. O vento calmo nas folhas das árvores, o canto dos pássaros quando anoitece. E se a chuva ameaça, um gemido quase silencioso ocupa o espaço.

Caixote de lixo aberto é caixote liberto do entulho diário. O cheiro se espalha, corre em cada esquina pedindo juízo ao viajante distraído. Quem está na cama não abre a janela. Cerra as mãos no nariz e espera que o cheiro passe.

Conto até dez, inspiro, expiro e volto a contar. Revejo meu corpo da cabeça aos pés. Nessa viagem silenciosa por fim adormeço.

Amanhã é domingo. Descansa o lixo em cada casa.

4 comentários:

platero disse...

vou morrendo no Campo
mas sem cheirar a LIXO

bom fim-de-semana

ethel disse...

e no campo quando inspiro deixo que a morte me abrace devagar. Olá Platero. Beijinho

platero disse...

Paladar

um abraço e um beijo
pelo adeus de Saramago

ethel disse...

recebo devagar cada graça no devido lugar.
Em homenagem ao Homem que parte e deixa saudade.