O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 8 de setembro de 2009

Uma Canção de Solidão


«Esta terra montanhosa cheia de prados e de
flores claras é um lugar alegre.
Na floresta as árvores dançam e os macacos
brincam,

pássaros dão voz a todos os tipos de belas
melodias e as abelhas esvoaçam e flutuam.

Magníficas cascatas de torrente de Verão
e Inverno,
neblinas de Outono e de Primavera rolam
em novelos,
O arco-íris cintila noite e dia.

Nesta solidão, Mila, o de vestes de algodão,
encontra a sua alegria.
Contemplo o vazio de todas as coisas e vejo
a luz clara,

Feliz quando toda a espécie de coisas aparecem
perante mim: quanto mais coisas aparecerem
mais feliz eu fico,

Dado que o meu corpo e mente estão livres
do mal.

Feliz estou enquanto as coisas redemoinham
à minha volta -

No seu ir e vir fico feliz, por estar livre
dos altos e baixos da paixão.

Feliz na transformação da dor em alegria,
feliz na força do meu corpo,

Feliz nas canções triunfantes que canto,
ao dançar a correr e a saltar,

Feliz ao transformar em palavras os sons
que murmuro

Feliz no meu poder espontâneo..."

Milarepa

12 comentários:

guvidu disse...

"feliz no meu poder espontâneo"...como gosto disso!pk, de facto, somos fluidez cósmica quando nos permitimos discorrer na natureza sem dela nos querermos apoderar, tão somente, contemplar...e a solidão é liberdade, condição de toque e fusão do imanente com o transcendente.
namastê, K.Dorje

João de Castro Nunes disse...

Gosto de ouvir os violinos... na magia das palavras! JCN

Anónimo disse...

ser... simplesmente ser...
namastê

Luiz Pires dos Reys disse...

"Ser", simplesmente "ser", parece-me ficar ainda "aquém" do estado de estar-sendo "sem-qualidades", de que aqui se escutam ecos, que não cabem nas meras palavras...

guvidu disse...

será mais este sentido de "sendo, não-sendo", Damien?

Anónimo disse...

nem ser, nem não ser, nem ser e não ser, nem ser nem não ser... como exprimir o inexprimível com palavras? talvez se consiga mais com actos do que com as palavras...
abraço ao damien:) o lapdrey irascível morreu?

guvidu disse...

tb já tinha percebido este damien.lapdrey ;)

guvidu disse...

e sim, vivamos então o indizível mediante karuna... :) um desafio!

Luiz Pires dos Reys disse...

..hum?

(os costumeiros argumentos budistas circulares são um óptima "des-ajuda": foram-no, aliás, como não podia deixar de ser, no "caminho" de Milarepa ...)

afhahqh disse...

Sítio lindíssimo. Sublime.

Rasputine disse...

A solidão nem sempre canta. Muitas vezes grita muda.

guvidu disse...

grande verdade, Rasputine.

Olivromorreu, em breve estaremos num sítio mágico ;)