O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 27 de julho de 2009

se procurarmos dentro de um computador não encontramos software, como se procurarmos dentro do corpo não encontramos ideias

14 comentários:

a computador disse...

Procura-te melhor.

afhahqh disse...

É verdade. Encontramos órgãos, mas não ideias. Tal como num computador encontras hardware e não software.

vai por nós disse...

O melhor é traficá-los.

afhahqh disse...

Já vi que o problema não te interessa.

psicóloga disse...

Qual problema? Só se for teu.

afhahqh disse...

O problema: onde estão as ideias? Ou: onde está a mente?
Ou ainda: o que é a mente?

afhahqh disse...

É material, é corpo ou não? Onde está?

mentol disse...

Já vi que lemos de formas diferentes... Fingidamente.

Nada disse...

Se te procurares não encontras nada.

Phineas Gage disse...

Compreendo a tua questão sobre a existência de ideias... É normal que não saibas onde estão.

afhahqh disse...

Ao contrários dos computadores temos consciência de nós e dos nossos estados mentais. Mas também para essa consciência se põe o problema do post.

afhahqh disse...

Phineas, o post não põe em causa a existência de ideias mas pergunta pela natureza das mesmas. E quando se diz ideias engloba-se tudo o que é mental.

ah!!!... disse...

esqueci-me... :(

contradições disse...

Não sei em que país nasce a poesia, a música, a filosofia, a religião; onde se escondem as fadas, os príncipes encantados, os fantasmas, os monstros e todos os seres fantásticos que subsistem para além do tempo na fantasia das gerações. Sei apenas que a minha casa tem tudo isso espalhado pelo chão; que já me custa cumprir as etiquetas das estantes.
Na verdade visível, o acesso ao mundo é feito pela porta dos sentidos e nada nos indica que dentro da caixa craniana haja qualquer coisa como pensamento, mente ou consciência. A medicina explica-nos o funcionamento biológico do cérebro e suas ligações de poder com a totalidade do corpo mas tem obrigatoriamente que estender a mão à Filosofia, à Psicologia, às Neurociências Cognitivas, à Psicanálise… para tentar justificar o injustificável, ironicamente, elas próprias nascidas desse injustificável.
Perdemo-nos no deserto das “bossas” frenológicas, do estudo do cérebro, da linguagem, dos delírios dos viajantes… Bem podem os Brocas deste mundo tentar perfurar a grandes profundidades, remexendo no lixo de todas as deformações, doenças e acidentes que não passarão da face externa do que somos. A ciência não consegue comprovar para além do fisicamente comprovável. Compreende a estrutura, a função mas a informação será sempre incompleta. Somos talhantes apenas, bons cortadores de cérebros e estudiosos de lesões, cheios de instrumentos avançadamente rombos, sacrificando sabe-se lá o quê por viagens insanas até à própria imaterialidade cuja compreensão nos está vedada precisamente por sermos corpo. Somos prisão em forma de chave. Abrimos o mundo onde tudo nos é possível, menos nós. E por isso, nos consumimos em irrealidades, acrescentamo-nos geograficamente a novas terras, chafurdamo-nos em todas as cavidades ósseas, exploramos hemisférios, circunvoluções, jardins zoológicos e estrelas em busca de corrente, de sintonia, de sentido… E onde está Deus? Que Deus? Criador, função física ou imaginação? Não sei. Talvez no lado contrário da ciência ou dentro dela, explicando-a. No erro. Na perfeição. Na mente e, por isso, na verdade e na mentira. No corpo. Na ausência. Na energia. No conceito. Em tudo o que existe. Em tudo o que se pensa que existe. Em nada. Mas a saudade diz-me que está na memória de mim. Sei que falei com ele na infância mas desarrumada como sou, não me lembro onde o deixei e desisti-o. Estou certa de que o procurarei na estação terminal do meu cérebro, onde um dia, me esperará… Ou talvez não.