O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 18 de março de 2009

Filósofos e poetas ao poder


Filósofos e poetas ao poder


Segundo os impulsionadores do Movimento Internacional Lusófono (MIL) em Barcelos, apresentado na noite da passada segunda-feira na biblioteca, chegou o tempo do poder político ser constituído por filósofos e poetas. A razão? Simples: “Foram eles que deram os grandes passos da Humanidade. Já não são os proletários de todo o mundo que se têm de unir, mas os filósofos de todo o mundo!”. As palavras são de José Lourenço, que se propõe influenciar a sociedade civil com as teses de Agostinho Silva, Platão ou Thomas More, em substituição dos deputados, “que são uma classe completamente destituída”, e, por isso, o MIL tentará fazer chegar as suas ideias à Assembleia da República… embora a criação de um partido político seja, como o próprio reconheceu, a morte do próprio movimento. Mas não deixou de assumir que o movimento quer “mexer com estes partidinhos que andam a chatear”. Não podemos aceitar que sejamos governados por uma maioria absoluta de apenas 15 por cento da população”.
“Estamos a ficar fartos!”, avisou Lourenço, defendendo, ainda que, ao contrário do que aconteceu nas recentes convulsões sociais na Grécia e França, não se deve “queimar pneus e fazer revoluções… devemos é queimar quem nos anda a queimar!”.
Antes da apresentação, os escritores Flávio Lopes da Silva e José Torres deram um toque ainda mais singular à noite. O primeiro emprestando um texto, declamado por Armindo Cerqueira, sobre as “sete mil razões de estar de mal com Portugal”, um país que vive a sonhar com os “craques da bola”. O segundo, criticando o Acordo Ortográfico, dizendo que movimentos como o MIL fazem muito mais pela língua portuguesa, por ser, ao contrário do oficial, um “acordo das diferenças. Quanto mais diversa for a língua mais rica ela é”.
Terminando, de forma optimista e contra miserabilismos em relação ao futuro de Portugal, lembrando Pessoa: “Quem gosta deste país há-de fazê-lo cumprir dia-a-dia”.

Publicado no Jornal:

Barcelos Popular

1 comentário:

Laura disse...

Mas isto não está em contradição com uma das petições do MIL?

"A nosso ver, o Acordo Ortográfico é o instrumento fundamental para uma mais forte e fraterna relação entre todos os países lusófonos – desde logo, para todos os projectos de intercâmbio de professores, que doravante terão a segurança de haver apenas uma ortografia para todo o espaço lusófono. E para uma mais clara relação dos países lusófonos, no seu conjunto, com o resto do mundo – nos fóruns internacionais, como na ONU, os documentos oficiais não terão que ser mais traduzidos para as duas variantes da língua lusa, como acontece até agora."

Agora fiquei confusa...