O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Viver (apenas) na mente... é o mais de-primente

O maior saber que alguma vez poderei alcançar é o próprio viver:

saber viver é não saber.

12 comentários:

Unknown disse...

"Cansaço

Por trás do espelho quem está
De olhos fixados nos meus?
Alguém que passou por cá
E seguiu ao deus-dará
Deixando os olhos nos meus.
Quem dorme na minha cama,
E tenta sonhar meus sonhos?
Alguém morreu nesta cama,
E lá de longe me chama
Misturada nos meus sonhos.
Tudo o que faço ou não faço,
Outros fizeram assim
Daí este meu cansaço
De sentir que quanto faço
Não é feito só por mim."
Amália Rodrigues
Composição: Joaquim Campos / Luís Macedo

http://br.youtube.com/watch?v=sWBW_cqxngQ

Unknown disse...

Já a mesma promessa canta em nós há muito...

"Que amor não me engana
Com a sua brandura
Se de antiga chama
Mal vive a amargura

Duma mancha negra
Duma pedra fria
Que amor não se entrega
Na noite vazia

E as vozes em barcam
Num silêncio aflito
Quanto mais se a partam
Mais se ouve o seu grito

Muito à flor das águas
Noite marinheira
Vem devagarinho
Para a minha beira

Em novas coutadas
Junto de uma hera
Nascem flores vermelhas
Pela Primavera

Assim tu souberas
Irmã cotovia
Dizer-me se esperas
O nascer do dia"
José Afonso

http://br.youtube.com/watch?v=4h9Ax1Z_s6A

Unknown disse...

... e a que não podia faltar!

"Quando a corja topa da janela
O que faz falta
Quando o pó que comes sabe a merda
O que faz falta
O que faz falta é avisar a malta

Quando nunca a noite foi dormida
O que faz falta
Quando a raiva nunca foi vencida
O que faz falta
O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é acordar a malta
O que faz falta

Quando nunca a infância teve infância
O que faz falta
Quando sabes que vai haver dança
O que faz falta
O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é empurrar a malta
O que faz falta

Quando um cão te morde a canela
O que faz falta
Quando a esquina há sempre uma cabeça...

Quando um homem dorme na valeta
O que faz falta
Quando dizem que isto é tudo treta
O que faz falta
O que faz falta é agitar a malta
O que faz falta
O que faz falta é libertar a malta
O que faz falta

Se o patrão não vai com duas loas
O que faz falta
Se o fascista conspira na sombra
O que faz falta
O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
O que faz falta dar poder a malta
O que faz falta"
José Afonso

http://br.youtube.com/watch?v=uVTqO9xEYNs

Paulo Borges disse...

Há várias funções na mente... A mente também é vida e, nas suas profundezas, da mais subtil, aquela que não nasce nem morre. É bom não se cair em repetidas generalizações, que são sempre simplistas...
O mesmo se pode dizer do saber. Há saber e saber. Como a etimologia mostra, saber tem a ver com saborear... A sabedoria de vida, por exemplo, não se confunde com o saber científico, que conhece objectivando.

Unknown disse...

Certo... o que acontece é que se inverteu o que é predominante... não-saber é principal.
Mas aproveito para clarificar o título.

Abraço Paulo!

Paulo Borges disse...

Cara Anita, há uma nobre tradição na teologia e filosofia ocidentais que é a da "douta ignorância", a qual é todavia uma forma de saber, seja um saber na ausência de conhecimento conceptual, seja um saber que não se sabe. Significa isto que há uma ignorância apenas ignorante e, ao falar de não-saber, convém dizer em que sentido o fazemos.
Por outro lado, ao fazer-se a apologia do mero viver, sem mais explicações, pode também parecer que se exorta a essa ignorância ignorante que é própria da irreflexão dos instintos vitais, da luta pela sobrevivência, etc. Como se vê, a mente é bastante necessária, que mais não seja para fazer estas distinções.
Creio por outro lado que a Vida, a vida imortal, a vida verdadeira que há em nós e em tudo, se experimenta e sabe, transcendendo as oposições da função conceptual da mente, que separa saber e viver.

Unknown disse...

Exacto Paulo, é isso, não há que distinguir o que é no fundo o mesmo:
saber e não-saber.

Viver é não-saber, incluindo este o saber.

A ignorância ignorante, parece-me, que é o que o Homem apelida de ciência, é o saber que o Homem leva como se fora algo real, igual à vida - apenas física... ao pretender aplicá-lo a ela.

Unknown disse...

Para mim, a verdadeira reflexão é reflectir-se o que a vida é para nós, e o espelho não reflecte pensando a imagem que mostra...

Quando escrevo apenas deixo que aconteça a escrita. Apenas leves pinceladas de acerto o meu consciente dá. Sendo que houve uma aprendizagem que me possibilitou entender melhor o que a vida me é: atentar à continuidade que existe em tudo... à esfera que em todo o fenómeno roda...

Unknown disse...

"ao fazer-se a apologia do mero viver, sem mais explicações, pode também parecer que se exorta a..."

O intuito é exortar ao, já referido antes, saber de cor. O que nasce já com cada um. Esse saber original, principal.

Anónimo disse...

Estou a adorar. Anita para presidente da CPLP!

Unknown disse...

Anónimo,

cada um para Presidente de si mesmo! Isso é que é...

Unknown disse...

(a tal aprendizagem que referi foi o Princípio Único do Tao, mas suponho que já vinha com ele, esta sociedade é que nos decepa uma metade de nós)