O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Não é

Tudo me cansa... canso-me de mim, e o que me resta? O que mais pode haver?
Ou... como se foge de si mesmo? Dum si mesmo que não há?

Ó noite, ó sono, ó vazio...

ó

ó o que seja que não exista em mim.

Ó sentimento madrasto, que me fazes sentir a ser apenas quando me não sou a mim!

Ó mim que não há... que só existes por nada do que para ti existe tu és. Para que te pensas tu?? Porquê esta voz? A voz do que nada é... Para que pessoa me achei sendo? Se nunca isso é ser-me.

Viver não pode ser este assistir ao que nunca é.
Não, não pode ser. Não é.

Ahh que inútil vontade de não ser o nada que sempre fui. E que sempre serei.
Até que seja finalmente tudo o que há em mim.

5 comentários:

platero disse...

anita - gostei

não sei por quê. como posso gostar de um dia de sol em pleno outono, mesmo depois de o sol se pôr

beijinho

Unknown disse...

Gostaste do que "não é"? Bom, cada um com a sua loucura, é certo. ;P
Eu também posso dizer que gosto dessa "chuva de África", mesmo que nunca a tenha sentido... :(

Unknown disse...

Enviado por um amigo mesmo a propósito do trocadilho...
"não é"-Noé...

Do Jornal de Letras, de Eduardo Lourenço, a parte final do texto "O poeta na cidade, hoje":
" A Poesia - quer dizer a longa trama dos poemas onde a humanidade a si mesma se construiu, a única Arca de Nóe que sobrevive a todos os dilúvios - não é a nossa maneira de nos evadirmos do que somos mas de nos apercebermos, embora em figura, como dizia São Paulo, de quem verdadeiramente somos. É uma barca de palavras, mas tem o poder de transfigurar o que é opaco e não humano naquela realidade que tem um sol no meio e chamamos vida, a nossa vida, a nossa única vida. É só nela que nos é dado tocar e ser tocado por aquilo que uma nossa maravilhosa poetisa , Fiama Hasse Pais Brandão, chama o sol da realidade. E como só um poema, que é sempre a poesia toda, diz o que a poesia é, terminarei com ela,

Uma casa que sonha com o mel
tem a luz que está a ser sonhada.
Nela, os habitantes vivem e morrem,
ouvindo só o som do mar distante.

Porém um dia, os habitantes saem
para o mar. A casa acorda
e não mais se recorda do seu sonho,
Deixando entrar outro sol da realidade. "

Anónimo disse...

Sossega a mente que isso e isto tudo passa...

Unknown disse...

:) a minha mente anda como o meu coração a deixa estar... sossegar o coração? hmmm talvez fosse recomendável senão fora ele que me controla a mim... e mesmo não convém que ele adormeça... :P