O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Para um bom entendedor... instantâneo


Fotografia, Vergílio Torres
E imprevistamente reparo que há luz no ar. Não vem do Sol para um sítio determinado, que é a Terra. Espalha-se por todo o lado, não vem de parte alguma, se o Sol desaparecesse, continuaria a iluminar. Porque é uma luz de si própria, da essência de si, que é ser luz sem mais na sua iluminação. E estou contente. E sou também da essência da alegria, que é ser feliz para antes de se saber que a felicidade e tem um nome.
Vergílio Ferreira

6 comentários:

Unknown disse...

o título remeteu-me a...
(lá pelo meio entendê-lo-ás)

"Espalhem a notícia
do mistério da delícia
desse ventre
Espalhem a notícia
do que é quente e se parece
com o que é firme e com o que é vago
esse ventre que eu afago
que eu bebia de um só trago
se pudesse

Divulguem o encanto
o ventre de que canto
que hoje toco
a pele onde à tardinha desemboco
tão cansado
esse ventre vagabundo
que foi rente e foi fecundo
que eu bebia até ao fundo
saciado

Eu fui ao fim do mundo
eu vou ao fundo de mim
vou ao fundo do mar
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher

A terra tremeu ontem
não mais do que anteontem
pressenti-o
O ventre de que falo como um rio
transbordou
e o tremor que anunciava
era fogo e era lava
era a terra que abalava
no que sou

Depois de entre os escombros
ergueram-se dois ombros
num murmúrio
e o sol, como é costume, foi um augúrio
de bonança
sãos e salvos, felizmente
e como o riso vem ao ventre
assim veio de repente
uma criança

Falei-vos desse ventre
quem quiser que acrescente
da sua lavra
que a bom entendedor meia palavra
basta, é só
adivinhar o que há mais
os segredos dos locais
que no fundo são iguais
em todos nós

Eu fui ao fim do mundo
eu vou ao fundo do mim
vou ao fundo do mar
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher"
Sérgio Godinho

rmf disse...

Lá nesse meio rodeado de nada,
espaço amplamente vazio,
recheado de coisa alguma,
entre um pricípio e um fim,
entre uma sombra e luz,
ouviu-se um trovão.
Sinal tardio
clarim iluminado,
instante remoto,
mais que passado.

Lá pelo meio entendê-lo-ei.
Até lá, tripé e máquina às costas.
Dura profissão esta a minha de Carpinteiro!

Para a próxima, levo esta música comigo... e que me sirva de amuleto, que isto de andar à caça do clarim-bala-luz tem que se lhe diga...

Para uma boa entendedora, um obrigado basta...

E agora... venham anónimos ao comentário!

Abreijos!

Anónimo disse...

Isso... ser feliz para antes de se saber...

Semente disse...

Vergílio Ferreira e Sérgio Godinho juntos!

Como os adoro! Aos dois!

Beijos à Anita (esta é das minhas músicas favoritas do Sérgio. Sempre a surpreender-me com as músicas, Anita!!!) e ao outro Vergílio
:)

Paulo Borges disse...

Vergílio, gosto muito do texto, como de muito do que escreve o Vergílio Ferreira, mas gosto bem mais da foto, porque revela a sombra que é inseparável de toda a luz.

Grato

Anónimo disse...

Entre um princípio e um fim...

Entre um princípio e um fim...
…a incerteza!

Efémeras luzes,
efémeras afeições…
Ecoem trovões
tardios, que os desejo…