O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 17 de setembro de 2008

FOLIA, Tu És Isso!



A Lua cheia estava baixa e o céu ainda azul.
Foi escurecendo, aos poucos. E a Lua foi subindo.

Cheguei e juntei-me à multidão.
Todos à espera de qualquer coisa que não sabiam o que era. Só imaginavam, como eu, o que poderia ser.

Uma voz feminina e forte chama por um nome: SEBASTIÃO!
As luzes acendem, as caras surgem e, com elas, as palavras que a multidão esperava ouvir.

Palavras.
Palavras de luz. Palavras largadas em noite de lua cheia. Uma noite fantástica de Pentecostes.

Todos estavam ali, em plena serra de Sintra, num dos locais mais fascinantes e que mais 'estórias' tem para contar: a Regaleira. Todos estavam ali para festejar um mistério, para vislumbrar a luz que deveria descer sob a forma de línguas... a qualquer instante, sobre as nossas cabeças duras. Todos haveriam de formar uma Irmandade depois de renunciarem aos apegos e aos vícios de vidas que não são mais que "cadáveres adiados".

Todos haviam de passar os cinco níveis de libertação e chegar à luz do páteo para assistir à coroação do Imperador do Quinto Império.

Fui ungida com uma tinta braca na testa e encaminhada para junto de outras Ninfas e Deusas, assim apelidadas, como eu.

Sei que a coroação se deu e que todos comemos pão e azeitonas e bebemos água e vinho. Um bodo com tudo o que é sagrado e tudo o que é profano.

Fazia frio e a lua cheia estava cada vez mais alta.
As gaitas de foles tocavam, os tambores soavam, no peito batia também qualquer música que não soube identificar. Não era importante identificar e dar nomes às coisas que sentia. Era importante senti-las e sentir a vibração.

E, então, dancei.
Uma dança viva. Uma roda, um par, uns passos...
16 passos para lá, mais 16 passos para cá,
depois 8 com o pé direito e mais 8 com pé esquerdo,
depois 3 meias voltas...

Dancei vezes sem conta!
Numa alegria contagiante, num rodopiar de vida e de FOLIA!

Nessa noite, com o meu renascimento chamei-me Camila. Um nome que nunca deveria pronunciar... E acho que consegui identificar palavras que conhecia dentro de mim mesma, mas distantes de mim, de onde estou e sou agora.

Que pena!
Queria tanto viver AQUELA FOLIA toda a minha vida!
AQUELA FOLIA! Não uma folia qualquer. AQUELA!

SAÚDE IRMÃOS!
Renascidos depois de se terem abandonado, ainda que por breves instantes.

Foi LINDO!



P.s:
Caro Paulo Borges, A FOLIA é linda!
Não posso deixar de dizer que é LINDA!
E Linda é a palavra que para mim significa o meu gosto por qualquer coisa que me faz ver como eu gostaría de ser ou estar.
Quando sinto Saudades do meu Futuro, é assim que me imagino.
Foi mesmo o teatro da minha vida, das nossas vidas!

2 comentários:

Paulo Borges disse...

Cara Sereia, a beleza que sentiu na Folia só pode ser a que há em si.

Haja Folia!

platero disse...

parabens Sereia

pela força de sentir e de viver