O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 28 de setembro de 2008

Arte



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Como num bloco de mármore ou num dicionário ou no espectro solar ou numa série de sons, há em ti uma obra de arte ou do pensar adormecida. Tu não sabes qual seja e às vezes já não tens tempo de o saber. Mas que um artista ou um pensador crie essa obra e tu reconhecerás que a criou em ti. Toda a obra tem de existir em nós para existir. Porque toda a obra é impossível se ninguém a reconhece. Ela está em ti, no traçado invisível que lhe delimita o contorno, no submerso da sua latência, e é o artista que a faz vir à superfície, lhe define a visibilidade, mesmo do que lhe será sempre invisível. O artista ou o pensador criam a sua obra. Mas é em ti que eles a desenham para existir. Como Deus, aliás, que também.


Vergílio Ferreira, Pensar

2 comentários:

rmf disse...

Ele, ausente...)

Ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as pedras.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Alberto Caeiro

Anónimo disse...

Parabéns!...Um abraço!