sábado, 2 de janeiro de 2010
Nem diferença, nem identidade: um novo paradigma - ENTRE
"Erra-se, creio, ao encarar a diversidade das culturas sob o ângulo da diferença. Pois a diferença reenvia à identidade como ao seu contrário e, por consequência, à reivindicação identitária - vê-se suficientemente quantos falsos debates daí se seguem hoje em dia. Considerar a diversidade das culturas a partir das suas diferenças conduz com efeito a atribuir-lhes traços específicos e encerra cada uma delas numa unidade de princípio, a qual se constata imediatamente quanto é arriscada. Pois sabe-se que toda a cultura é plural tanto quanto é singular e que não cessa ela própria de mudar; que é simultaneamente levada a homogeneizar-se e a heterogeneizar-se, a desidentificar-se como a reidentificar-se, a confirmar-se mas também a resistir: a impor-se como cultura dominante mas, imediatamente, a suscitar contra si a dissidência. Oficial e underground: o cultural não se manifesta e não se activa senão sempre entre os dois.
É por isso que preferi, na minha oficina aberta entre a China e a Europa, tratar não de diferenças mas antes de afastamentos. Pois o afastamento promove um ponto de vista que é, já não de identificação, mas, diria, de exploração: ele considera até onde podem desdobrar-se diversos possíveis e que ramificações são discerníveis no pensamento. [...]"
- François Jullien, Les transformations silencieuses. Chantiers, I, Paris, Bernaerd Grasset, 2009, pp.36-37.
Um novo paradigma: ENTRE. A hora não é de promover identidades, ou seja, muros culturais, mas sim de desvendar as pontes, as relações, de que é feita a tessitura do humano e que se ocultam na aparência de fronteiras essenciais.
arevistaentre.blogspot.com
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Sejamos cada vez mais diferentes... para sermos cada vez mais iguais! E acabaremos todos... mais ricos. JCN
Será que eu também me etilizei? JCN
Enviar um comentário