quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Desabrigado
Em criança pensava que algumas pessoas nasciam nas esquinas outras na maternidade.Quem nascia na maternidade crescia devagar, quem vinha da esquina nascia com rugas – morria sem dentes.
Da janela do meu quarto via o senhor José todos os dias. Umas vezes deitado, enroscado feito criança. Doutras sentado de olhos fechados. Nas pernas o chapéu barrento pedia a esmola. Na boca um obrigado apressado. Não me lembro de o ver comer. Não sei de cor o cheiro daquele homem que acompanhou minha infância. Sinto frio quando me lembro do seu corpo durante o Inverno. No chão, restos de papelão. No corpo, um cobertor velho.
No Verão tirava o casaco e mostrava sem pudor uma camisa sem cor.
Mudei de casa sem me despedir. Certa que um dia voltaria e ele estaria por lá. Afinal a esquina era dele.
Sempre pensei que os homens que dormem na rua, na rua nasceram.
Hoje quando me deito sufoco de medo. Se me tirarem o cobertor não passo deste Inverno.
Da janela do meu quarto via o senhor José todos os dias. Umas vezes deitado, enroscado feito criança. Doutras sentado de olhos fechados. Nas pernas o chapéu barrento pedia a esmola. Na boca um obrigado apressado. Não me lembro de o ver comer. Não sei de cor o cheiro daquele homem que acompanhou minha infância. Sinto frio quando me lembro do seu corpo durante o Inverno. No chão, restos de papelão. No corpo, um cobertor velho.
No Verão tirava o casaco e mostrava sem pudor uma camisa sem cor.
Mudei de casa sem me despedir. Certa que um dia voltaria e ele estaria por lá. Afinal a esquina era dele.
Sempre pensei que os homens que dormem na rua, na rua nasceram.
Hoje quando me deito sufoco de medo. Se me tirarem o cobertor não passo deste Inverno.
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17 comentários:
uma esquina é o que nos faz sombra.
mas lembro-me sempre de ricardo reis
'se for antes lembra-te-ás de 'mim
nesta esquina morreu um homem com frio.na mesma esquina outro homem ocupa o mesmo lugar no chão. aponta-me o lugar onde podemos viver todos na rua - sem medo
na revolução. onde o caminho é uno.
que seja a rua a casa de todos
morre-se de morta matada, se não fosse o capitalismo e o fascismo viviamos como homens justos.
se não fosse a cobiça o abraço era somente um abraço. Um dia, Baal...
abraço-te. foste justa.
á luta.
abraço-te Baal, nesta esquina agora minha.
se for sombra antes queria o ricardo reis dizer. porque não há passado nem ausência. acolho-te na revolução.
e o teu texto comoveu-me.
querido Baal, muito obrigada.
A revolução só não se concretiza
porque a energia motora é a inveja e o ódio por quem vence pelos próprios esforços.
Além do caminho ser individual.
logo, transformar gente em rebanho vai de encontro à regra universal da evolução.
O caminho é sempre individual, mesmo dentro do coletivo. É sempre um problema quando se fala em coletivo ou em caminho do indivíduo. Eu que não consigo ver um sem o outro sinto-me perdida na discussão.
Em última análise... todos querem uma esquina só para si, a começar pelo BAAL. O mais... são tretas... para a gente se perder, como a "paladar da loucura" que, pelo visto, já não sabe de que terra é.
JCN
Queres que te dê a mão para que não te percas? Já encontrei o Norte antes dessa tua sentença! E olha que não te peço qualquer contrapartida.
e em nome do paladar digo (sei que escrevo mal e sou repetitivo) és a minha antitese. que escritas tão bonitas.
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