quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
in "Setembro dos Desgarrados"
(...) Um ano tem quatro estações! O dia - vinte e quatro horas. Num lugar sem idade onde o velho era velho apenas, como repartir o dia?
O leite era de quem tivesse sede. Com a chegada do tempo medido, a garrafa passou a ter dono. O litro passou a ser dividido como o tempo daquele novo presente.
João sonhava com um sino numa igreja a badalar de hora em hora. Em cada casa um relógio a marcar a hora do regresso a casa.
A criança chorava em horas marcadas. De duas em duas horas pedia o peito da mãe.
Quando cada coisa tem um tempo acordado, nasce a pressa do tempo esgotado. (...)
(...) Pouco a pouco, mais depressa que nunca Setembro se organizava. A ordem tomava conta de cada esquina. Sem demora em cada casa uma nova rotina. Igual aos lugares da partida.
Na cama as mulheres passaram a fazer contas. Depois da menstruação o amor passou a ter dia marcado para a procriação.
Nos outros dias – descansavam. Os intervalos ganharam o enfado.
E se a vizinha achava que estava de esperanças, raivosas as outras rogavam pragas aos maridos incapazes.
Veio o esquecimento do tempo sem pressa. (...)
(...) - Um dia morres miúda!
- Esse dia existe mamã?
- ?
- O dia de morrer… Existe isso mamã? Ouvi dizer que tudo é vida.
- És muito nova para perceber. Mas um dia alguém vai te explicar melhor que eu.
- Esse alguém fez o curso da Morte? Porque ouvi dizer que tudo nasce e morre e volta a nascer. Parece que é o curso da vida… Não percebi nada, mas ouvi.
- Vá Canela. Despacha-te que chegas atrasada a escola…
(...) in Setembro dos Desgarrados
O leite era de quem tivesse sede. Com a chegada do tempo medido, a garrafa passou a ter dono. O litro passou a ser dividido como o tempo daquele novo presente.
João sonhava com um sino numa igreja a badalar de hora em hora. Em cada casa um relógio a marcar a hora do regresso a casa.
A criança chorava em horas marcadas. De duas em duas horas pedia o peito da mãe.
Quando cada coisa tem um tempo acordado, nasce a pressa do tempo esgotado. (...)
(...) Pouco a pouco, mais depressa que nunca Setembro se organizava. A ordem tomava conta de cada esquina. Sem demora em cada casa uma nova rotina. Igual aos lugares da partida.
Na cama as mulheres passaram a fazer contas. Depois da menstruação o amor passou a ter dia marcado para a procriação.
Nos outros dias – descansavam. Os intervalos ganharam o enfado.
E se a vizinha achava que estava de esperanças, raivosas as outras rogavam pragas aos maridos incapazes.
Veio o esquecimento do tempo sem pressa. (...)
(...) - Um dia morres miúda!
- Esse dia existe mamã?
- ?
- O dia de morrer… Existe isso mamã? Ouvi dizer que tudo é vida.
- És muito nova para perceber. Mas um dia alguém vai te explicar melhor que eu.
- Esse alguém fez o curso da Morte? Porque ouvi dizer que tudo nasce e morre e volta a nascer. Parece que é o curso da vida… Não percebi nada, mas ouvi.
- Vá Canela. Despacha-te que chegas atrasada a escola…
(...) in Setembro dos Desgarrados
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13 comentários:
Lá fantasia... não te falta! JCN
Existiu Setenbro - porto de abrigo de todos os desgarrados. Não tivesse havido fantasia - eles não existiriam. Nem eu, nem tu JCN.
Foi coisa que sempre disse... e pratico: tirando a fantasia, o que é que fica, senão a vil matéria de que todos somos feitos?! O que nos salva... é a Poesia. "A galope, fantasia" - dizia o Eça - "plantemos uma tenda em cada estrela!". Terei companhia? JCN
não percebo porque falam com o jcn. é porque não há mais ninguém?
sabes quem sou?
Por mim... não estou interessado. JCN
Ó baal, que perguntinha mais tosca e sensaborrona! Como se saber quem és fosse importante.
Que grande glória... ter tudo e todos contra mim! "Atirai pedras, medíocres!". Prometo... não as devolver. JCN
Até parece, ó BAAl, que és o Papa... açorda! JCN
Se a semente for fantasia serei sempre companhia. Quem ama assim a poesia não perde seu tempo em conversas vãs.
Nada maos acertado. Uma tenda em cada estrela! Entrada condicionada. JCN
ó fausta para ti não é importante mas para os inímígos é.
um sonho acordado? não é bonito mas não pude deixar de citar a(o) fausto(a).
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