O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

in "Setembro dos Desgarrados"

(...) Um ano tem quatro estações! O dia - vinte e quatro horas. Num lugar sem idade onde o velho era velho apenas, como repartir o dia?
O leite era de quem tivesse sede. Com a chegada do tempo medido, a garrafa passou a ter dono. O litro passou a ser dividido como o tempo daquele novo presente.
João sonhava com um sino numa igreja a badalar de hora em hora. Em cada casa um relógio a marcar a hora do regresso a casa.
A criança chorava em horas marcadas. De duas em duas horas pedia o peito da mãe.

Quando cada coisa tem um tempo acordado, nasce a pressa do tempo esgotado. (...)

(...) Pouco a pouco, mais depressa que nunca Setembro se organizava. A ordem tomava conta de cada esquina. Sem demora em cada casa uma nova rotina. Igual aos lugares da partida.
Na cama as mulheres passaram a fazer contas. Depois da menstruação o amor passou a ter dia marcado para a procriação.
Nos outros dias – descansavam. Os intervalos ganharam o enfado.
E se a vizinha achava que estava de esperanças, raivosas as outras rogavam pragas aos maridos incapazes.

Veio o esquecimento do tempo sem pressa. (...)

(...) - Um dia morres miúda!
- Esse dia existe mamã?
- ?
- O dia de morrer… Existe isso mamã? Ouvi dizer que tudo é vida.
- És muito nova para perceber. Mas um dia alguém vai te explicar melhor que eu.
- Esse alguém fez o curso da Morte? Porque ouvi dizer que tudo nasce e morre e volta a nascer. Parece que é o curso da vida… Não percebi nada, mas ouvi.
- Vá Canela. Despacha-te que chegas atrasada a escola…

(...) in Setembro dos Desgarrados

13 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Lá fantasia... não te falta! JCN

ethel disse...

Existiu Setenbro - porto de abrigo de todos os desgarrados. Não tivesse havido fantasia - eles não existiriam. Nem eu, nem tu JCN.

João de Castro Nunes disse...

Foi coisa que sempre disse... e pratico: tirando a fantasia, o que é que fica, senão a vil matéria de que todos somos feitos?! O que nos salva... é a Poesia. "A galope, fantasia" - dizia o Eça - "plantemos uma tenda em cada estrela!". Terei companhia? JCN

baal disse...

não percebo porque falam com o jcn. é porque não há mais ninguém?

baal disse...

sabes quem sou?

João de Castro Nunes disse...

Por mim... não estou interessado. JCN

Anónimo disse...

Ó baal, que perguntinha mais tosca e sensaborrona! Como se saber quem és fosse importante.

João de Castro Nunes disse...

Que grande glória... ter tudo e todos contra mim! "Atirai pedras, medíocres!". Prometo... não as devolver. JCN

João de Castro Nunes disse...

Até parece, ó BAAl, que és o Papa... açorda! JCN

ethel disse...

Se a semente for fantasia serei sempre companhia. Quem ama assim a poesia não perde seu tempo em conversas vãs.

João de Castro Nunes disse...

Nada maos acertado. Uma tenda em cada estrela! Entrada condicionada. JCN

baal disse...

ó fausta para ti não é importante mas para os inímígos é.

baal disse...

um sonho acordado? não é bonito mas não pude deixar de citar a(o) fausto(a).