O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 5 de janeiro de 2010



Ascende ao profundo

a epiderme do mundo

a ilusão da distância

a música o silêncio

na morte a culminância

a ferida de tudo ao rubro

transfiguração

de mãos dadas antes de ter

se nada se agarra nada se perde

sonhar é o avesso de ter que viver

nada se tem nada extravasa a promessa

de nos vermos soltos de querer

não ter pátria outra que a Perdição

a vida revolta de dentro feita canção

a seiva a voz sempre recém-nascida

não pode ser colhida

nectarina pura e bela

bebida na fonte

com a frescura de não ter sido

no Longe a festa não é um fim

o beijo em visão

a esperança em agonia

resumo de toda a presença

na percuciência da luz

instantes de esquecimento

sem espaço ou tempo ou demora

o impossível a ser agora

impreterível e abrupto