sábado, 9 de janeiro de 2010
Depois de tudo resta o tédio
Inventou o silêncio antes de me dar o bom dia. Sentou-se. Olhou em volta. Olhou-me. Devagar, afagou minha cabeça, distraído sorriu. Do lado de fora, depois da janela, o Inverno queimava toda a colheita de outrora.
Acordei sorrindo com a minha descoberta:
- Acho que mudei de estação…
Com um olhar vago abanou a cabeça afirmativamente.
- É Inverno e eu estou na Primavera. Não fui eu que inventei o tempo. Este aqui onde estou é o meu, sem dias de ano novo, nem fatias douradas, ou bolo-rei. Prefiro mil vezes a flor da amendoeira. Agora existem sempre romãs doces e vermelhas por dentro…
Abraçou-me. Exausto silenciou minha boca com um beijo. Ainda tentei desfazer-me dos lábios que não me deixavam falar, mas ele delicadamente impediu-me. Seu braço pesado esqueceu-se do abraço em mim. Devagar olhei em volta. Devagar olhei para o chão coberto de folhas rabiscadas. Desenhos ou letras, pouco importa. Nada se lia. Já não havia mais nada a escrever.
Na noite passada ele tinha brilhado no palco. Cantou todos os seus poemas. No regresso à casa, abracei-o sem nunca dar conta do seu cansaço. Enrolei meu corpo no dele como se fosse meu e nunca vi seu olhar vago procurando a janela do lado de fora.
Esteve aqui em todas as estações do ano, entre o palco e a folha branca preenchida até não restar o branco.
Na manhã em que descobri a Primavera, antes de partir, mostrou-me seu corpo tatuado. Em todo o pedaço de pele li: “Depois de tudo resta o tédio”.
Depois do resto, resta ainda um bago doce vermelho.
Acordei sorrindo com a minha descoberta:
- Acho que mudei de estação…
Com um olhar vago abanou a cabeça afirmativamente.
- É Inverno e eu estou na Primavera. Não fui eu que inventei o tempo. Este aqui onde estou é o meu, sem dias de ano novo, nem fatias douradas, ou bolo-rei. Prefiro mil vezes a flor da amendoeira. Agora existem sempre romãs doces e vermelhas por dentro…
Abraçou-me. Exausto silenciou minha boca com um beijo. Ainda tentei desfazer-me dos lábios que não me deixavam falar, mas ele delicadamente impediu-me. Seu braço pesado esqueceu-se do abraço em mim. Devagar olhei em volta. Devagar olhei para o chão coberto de folhas rabiscadas. Desenhos ou letras, pouco importa. Nada se lia. Já não havia mais nada a escrever.
Na noite passada ele tinha brilhado no palco. Cantou todos os seus poemas. No regresso à casa, abracei-o sem nunca dar conta do seu cansaço. Enrolei meu corpo no dele como se fosse meu e nunca vi seu olhar vago procurando a janela do lado de fora.
Esteve aqui em todas as estações do ano, entre o palco e a folha branca preenchida até não restar o branco.
Na manhã em que descobri a Primavera, antes de partir, mostrou-me seu corpo tatuado. Em todo o pedaço de pele li: “Depois de tudo resta o tédio”.
Depois do resto, resta ainda um bago doce vermelho.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Se a alma é pequena... o tédio acaba sempre por imperar. O Pessoa combatia-o... etilizando-se. JCN
essa é que é essa, ó nunes
Pois é, ó cardo(sa)! JCN
Enviar um comentário