sábado, 23 de janeiro de 2010
FEBRES DE SÃO TOMÉ - Junho 2005
1
Veio do mar aquele que um dia roubou um pedaço de mim. Parti sem saber meu destino.
- Dona este é o caminho da Boa Morte
- E depois sr Manuel?
- Dona depois é o cemitério de São João
- Me deixe ficar por aqui Manuel, se boa é a morte
- Dona o doutor vai saber que malária é essa que lhe morde a alma
Entre o hospital da cidade de São Tomé e a casa de Daio não sei o que aconteceu. Ouvi o médico cubano segredar que o meu mal só ocupava lugar. Na esquina da dor quase atravessei a morte.
2
Na ilha, na casa de Jesus Nosso Senhor há uma porta de entrada e outra de saída. Tão perto uma da outra – por vezes quem entra esbarra em quem sai. Entrei na casa de Deus - saí em busca de um atalho.
As estradas de São Tomé apodrecem – o alcatrão luta contra os buracos.
- Dona – cuidado! Maria deitou-se com José, veja só o pecado...
Quem me mandou sair do santuário?
- Se aquiete homem, também me deito com Cristo e ninguém me leva ao inferno...
- Dona – cuidado!
As estradas de São Tomé morrem devagar – preguiçosas.
3
Desço a rua do Quilombo, viro à direita passo o Papa-Figo, para trás um horizonte perdido. Na minha frente o mar. Daio está no Passante
- Branca, branca....
Queria que minha a cor fosse como a de Daio – negra.
- Branca, branca...
4
Procurei em Daio meu amor perdido noutra ilha. Vi a malária matar os corpos jovens de São Tomé. Tantos brancos ousaram inventar a sina daqueles que a cor ditou a dor. A branca histérica pregou que o racismo não existe. O preto desviou o olhar - sofreu em silêncio.
- Dona fique por cá...
Os olhos de Daio não mentem. Vejo nele a memória do seu povo. Cada grito calado, cada lágrima contida. Um dia matam todos os africanos.
Quero de Daio a revolta escondida. Lamento constante. Resistência passiva.
- Dona fique por cá...
Quis de Daio cada carinho roubado. Daio triste olhou o vazio. Procurei uma chama, calor de um tempo passado. Daio triste olhou o vazio.
- Dona fique por cá...
- E o que tem essa ilha perdida para além das tristezas vividas?
- Não tem passado. Minha geografia – o vazio.
No regresso à casa, Lisboa quero-te de novo vestida de véu e grinalda!
Mostra-me que também aqui é possivel amar.
Tenho sono. Saudades de São Tomé.
Diz-me Cleo se o teu planeta é melhor do que este que destruímos com tanta pressa?.
Veio do mar aquele que um dia roubou um pedaço de mim. Parti sem saber meu destino.
- Dona este é o caminho da Boa Morte
- E depois sr Manuel?
- Dona depois é o cemitério de São João
- Me deixe ficar por aqui Manuel, se boa é a morte
- Dona o doutor vai saber que malária é essa que lhe morde a alma
Entre o hospital da cidade de São Tomé e a casa de Daio não sei o que aconteceu. Ouvi o médico cubano segredar que o meu mal só ocupava lugar. Na esquina da dor quase atravessei a morte.
2
Na ilha, na casa de Jesus Nosso Senhor há uma porta de entrada e outra de saída. Tão perto uma da outra – por vezes quem entra esbarra em quem sai. Entrei na casa de Deus - saí em busca de um atalho.
As estradas de São Tomé apodrecem – o alcatrão luta contra os buracos.
- Dona – cuidado! Maria deitou-se com José, veja só o pecado...
Quem me mandou sair do santuário?
- Se aquiete homem, também me deito com Cristo e ninguém me leva ao inferno...
- Dona – cuidado!
As estradas de São Tomé morrem devagar – preguiçosas.
3
Desço a rua do Quilombo, viro à direita passo o Papa-Figo, para trás um horizonte perdido. Na minha frente o mar. Daio está no Passante
- Branca, branca....
Queria que minha a cor fosse como a de Daio – negra.
- Branca, branca...
4
Procurei em Daio meu amor perdido noutra ilha. Vi a malária matar os corpos jovens de São Tomé. Tantos brancos ousaram inventar a sina daqueles que a cor ditou a dor. A branca histérica pregou que o racismo não existe. O preto desviou o olhar - sofreu em silêncio.
- Dona fique por cá...
Os olhos de Daio não mentem. Vejo nele a memória do seu povo. Cada grito calado, cada lágrima contida. Um dia matam todos os africanos.
Quero de Daio a revolta escondida. Lamento constante. Resistência passiva.
- Dona fique por cá...
Quis de Daio cada carinho roubado. Daio triste olhou o vazio. Procurei uma chama, calor de um tempo passado. Daio triste olhou o vazio.
- Dona fique por cá...
- E o que tem essa ilha perdida para além das tristezas vividas?
- Não tem passado. Minha geografia – o vazio.
No regresso à casa, Lisboa quero-te de novo vestida de véu e grinalda!
Mostra-me que também aqui é possivel amar.
Tenho sono. Saudades de São Tomé.
Diz-me Cleo se o teu planeta é melhor do que este que destruímos com tanta pressa?.
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4 comentários:
também estive uma semanita em S.Tomé
É mesmo lindo
Gosto de seu exercício de escrita
beijinho
Obrigada Paltero :)
Beijinho
desculpa-me Platero
Desculpar o quê?
Tudo bem
beijinho
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