O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 24 de janeiro de 2010

mortos

"Milhares de estátuas ocupam as cidades,

incrível população!

Somente numa praça.

Estáticas, posadas

mil estátuas marciais.


Nas casas de comércio, de cultura

palácios, templos, hospitais

estátuas, sim, estátuas

sem os rústicos cuidados manuais

destituídas de engenho e arte.


Ruas inteiras congestionadas

metrópoles, países.

Cordilheiras de estátuas pesadíssimas

ora de ouro e prata fabricadas

estátuas de cristal:

proliferam demais


Espantalhos de pedra mantidos

para medrar as flores.

Não se transita mais

senão entre rochedos.

Este Planeta vai rachar

de tanta penedia.


Observem

Conselhos

Ordens, doutos

cátedras, os Júris.

Há estátuas falando, aplaudindo.

Nomeiam-se estátuas.


Atenção para os conceitos de granito:

defendem-se em carne!

A essência dos deuses, carne apenas.


Reúnem-se estátuas todo dia.

Existem comissões formadas só de rochas.

Há estátuas de elite planeando.


Metamorfose tristíssima de ontem:

Um artista virou também.

E as últimas notícias dão-nos conta

que uma senhora queria parir pedras.


Está difícil encontrar um homem.

Não se conversa há tempo sobre ossos.

O grito é som antigo:

Sombria peça de museu da História.

O pranto: uma loucura.

Por não se ver sangrar o coração

sabe-se de memória só

vermelho o sangue.


Quanto ao Âmago do Homem

- Espírito ou Ser –

dizem estátuas

que são coisas mortas..."


Tempo de Estátuas, César de Araújo

5 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Porque não chamar-lhe "A síndrome das estátuas"? JCN

Paulo Feitais disse...

O problema são as estátuas vivas, as que andam como zombies à volta das outras.
:)

João de Castro Nunes disse...

Estátuas vivas... é coisa que não há, a não ser que alguém se queira imaginar como tal. Há narcisos para tudo, até para se arrogarem o estatuto de estátuas... a fazer de conta. De tudo existe um pouco na vinha do Senhor! JCN

João de Castro Nunes disse...

Faltou-me dizer que esta frase é do homem de saias que dá pelo nome de Dalai-Lama: o seu a seu dono. JCN

Julio Teixeira disse...

Homens Homens bem alimentados em torno uns dos outros solidários e fraternos em vez de estátuas.
São Paulo, por exemplo faz a melhor pizza do mundo, e consome 1 milhão por dia.
Se fossem estátuas vivas comeriam demais pizza.

Já as pizzas mais caras do mundo são feitas em Brasilia, e por incrível que pareça nem são feitas por estáruas vivas, mas por verdadeiros zumbis...
E também vampiros.

São as viuvas de Stálin.
Larápios da mais baixa moralidade.

Ex revolucionários.

Mas ainda esquerdopatas.

Viva então São Paulo, de José de Anchieta e Manuel da Nóbrega, completando hoje 456 aninhos!

Cresceu, essa moça em riqueza, beleza e humanismo!

E vindo de fora como retirante da fome, cresceu um verme que se fez simulacro de estadista.