Mas morrem mais devagar do que nós.
A voz que foi a deles fica como uma baba, um cuspo,
Ou uma seiva que ainda anda a ser folha
Em qualquer parte,
Para além do bicho e da seda.
A morte dos poetas
É qualquer coisa que continua a ser árvore
Mesmo depois da raiz ou para além dela.
É uma forma que continua a ser corpo
Em qualquer espaço
Onde o vento se mova;
Onde haja musgo ou água
Ou fruto que se trinque
Para além do sabor e da semente,
Para além da boca que a morde
E continua sabor para além dela
Para além da mesma morte
A morte do poeta começa muito antes
Da noite e do dia da nossa mesma morte.
Agora morre o Eugénio
Amanhã haverá menos verde
Na relva que há amanhã.
A morte dos poetas é uma ficção nossa
Como a vida é uma ficção de poetas.
13-06-05
2 comentários:
Poema maravilhoso!
Adorei!
A verdade das palavaras que os poetas nos deixam e amentira e a ilusão e arealidade ilusionada, muito para além da morte e da vida. Muito para além dos que lhes sucede, a essas palavras a esses sentimentos.
Obrigada pelas lindas palavras escolhidas.
Sereia,
Agradeço os cantos e as imagens que nos aproximam do seu mundo... Os lugares, os afectos. Escuto a sua voz, mesmo sem a ter ainda comentado, ela já se inscreveu na memória do grande texto para escutar. Obrigada pela partilha. Dê saudades ao mar, quando mergulhar, saúde os peixes, as plantas e as grutas do seu mundo, por mim, diga-lhes que não tardo.
Saudades
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