Tudo que escrevi até hoje
foram asfixias infatigáveis d’agonia,
intenções inconscientes para um segundo eu ler,
anomalias abjectas a tornar realidade já amanhã
com direito a promessa desconcertante
e cruel auto-desonra em seguida.
Mas, com estes livros que aqui nascem
toda a voracidade à tangente será recusada
e, do útero do caos, emergirá recompensa...
Repudio o óbvio massificado e creio
na individualidade universal capaz de
nunca se cansar de viver lamentos e palpites
que inflamarão o brilho de cada falésia,
como cócegas num cadáver idêntico
que, ao mínimo contacto, acolherá o impalpável
sem receios do nosso interior absurdo.
Os facilitismos da fala são substimados,
cegam a participação à imposição imediata
de cada confissão registada no auto dos olhos
poder assumir e sugerir achaques tão díspares nas
imperceptibilidades onde intenções são sentenciadas
e grupos espessos finalmente deformados...
Tanta sílaba já vi deambular no secretismo
da tentativa suposta relegada para outro erro,
porque fúria é fracasso que colapsará
se te agarrares ao vexame da própria sarna;
desliga a mentira e abraça a integridade
quando sentires a sugestão constante
irradiar-se com calafrios compreensivos,
arremessa-te como aperitivo no
espeto da cobra dorsal do licor ritual.
2004
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