O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 7 de julho de 2008

ANIVERSÁRIO DE CHAGAL

Hoje lembrei que não nasceste. Não morreste. Trouxeste flores para a tarde do teu regresso. Nunca saíste daqui. Mesmo que me desmintam direi que nunca aqui estiveste.

Mesmo assim, ofereceste à nossa iludida voz, a tinta com que pintaste a tua passagem na barca. Dissolveste em tinta azul a pétala da rosa e foste com ela florir o outro lado do rio.

13 comentários:

Anónimo disse...

Estas flores são para quem nunca existiu. Que a vossa barca chegue dissolvente em tinta azul e flores de Chagal ao porto da saudade que não há.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Tenho dificuldade, por vezes, em entender-me nessas palavras do "não haver"... talvez porque a minha mente prefira enganar-se sabendo-o, prefira sonhar.

Unknown disse...

(prefira ser Deus.)

Anónimo disse...

Anita, se pode ter preferências, tenha-as. Bem basta que as não tenhamos quando não as pudermos ter. Até lá... sonhe-se Deus e espere, para ver o que acontece.

Anónimo disse...

Para ver as coisas tal como Deus as vê, ou mesmo como os poetas as vêem, não basta preferir enganar-se e sonhá-las. Aí não haveria engano. A sua subjectividade e dualidade não a poderia levar a vê-las na sua verdadeira natureza.
Para transmutar o humano em divino e o divino em humano, a matéria em espírito... é preciso conhecermos o que em nós quer. Essa é a lei da liberdade e não a do livre-arbítrio. Muitos optaram por considerar que nada sabem dos desígnios de deus e de si mesmos. Ver não é criar. Sentir é reconecer as coisas enquanto fenómenos, aquilo que se dá à consciência. As suas propriedades caracterizam-se num tempo e num espaço. Deus é phainomenum?

PS. Já pareço um filósofo que não conhece bem os conceitos, a falar.
Peça ajude a quem sabe.
Mas quer-me parecer que a Anita não é Deus.

Um abraço.

Unknown disse...

Posso não ser Deus, mas posso ser-Me Deus...

Unknown disse...

(não me pensando, nem como tal, nem como qual...) ;)

luizaDunas disse...

Ai Saudades,

Abri agora as janelas da sala e o vento entrou a rodopiar com as folhas dos escritos sobre os livros e dos vasos da varanda, e as flores de Chagal deixaram de ser na árvore e o tronco de ser mão que as agarra. Ando a apanhar as rosas e o algodão, para devolvê-las ao quadro e o sol à lua. Mas que lua aquela. E que amada a mulher que perfuma Chagal.

Tamborim disse...

Amo este quadro e todas as suas rosas.

Anónimo disse...

Luiza,

O ramo de puras rosas, rosa são o instante perfeito para a neve que refresca as folhas ou o algodão que cai do céu...o azul e a barca são estampas chinesas ou travessias sob a lua crescente.
O conjunto é uma dádiva da iconografia russa para o sol do dia em que uma rosa mais fresca nasceu.

Tamborim,

Chagal é de uma sensibilidade que dói.
Anita,

Não se pensando nem Deus nem não Deus, verá a rosa da Chagal para quando tiver saudades.

Saudades

platero disse...

julgo que eramos mais próximos
no ano em que morreram os 3 PABLOS:

Casales?
Neruda?
Picasso?

há quantos anos?
há quantas gerações?

Anónimo disse...

É preciso dizer, Platero, mais próximos de quê? Da inocência? da verdade? da consciência? da criação? da ilusão? da Saudade? de quando éramos mainheiros?
Quantas gerações levantámos ao colo?

O que resta de nós de que valha a pena ter saudades?
Não vale debruçarmo-nos sobre varandas que não dão para lugar nenhum. A memória é um rio que muda e nós com ele... Mesmo quando não houver Pablos para recordar ainda vale a pena navegar o rio.
E se esquecermos que há rio e mudança, ainda assim nos debruçamos sobre os versos que devolvem à inexistência que nos somos, o som de uma cigarra no verão, ou uma rosa queimada pelo sol no jardim que plantámos.