Que saudade cresce no lugar do céu e se abre em luz candente
No teu peito de arqueiro do céu? Esculpes na pedra o ouro, e na mente
És a paisagem crescente da montanha tocada de silêncio.
Que chuva de setas prateadas atira o arqueiro da festa do céu
Para a boca do poeta?! O arco do poeta é feito de água de lua
E a sua seta é um desejo vertical de espaço e da lonjura;
A sua imagem é um perfil de píncaros na solidão da montanha.
Para encontrar o poeta, é preciso subir à montanha verde,
Para acertar na cor o pintor renasce poeta; para pintar o céu
O poeta faz-se arqueiro do sonho, senhor da distância, mendigo do ar;
Eco de ser, voz do silêncio que lhe acerta no peito de pássaro
Recortado a negro na vastidão imensa da alma iluminada.
12 comentários:
Lê tudo em mim. Percebe o que digo, o que revelo, o que escondo. Recebe e devolve em beleza o que sou, a forma como sou. Não diz que me encerro na montanha. Sabe que na montanha não há encerramento. Sabe que as palavras em mim não são jogos de ilusão. São grãos. Logo mais respondo com o que fiz ontem sobre o poeta, os poetas com que temos falado. O poeta sublime que nos visita sem nos prender e só, apenas e só, nos embala no que não é do tempo, nas ondas do eterno. Só para isso fala connosco o poeta. Respondo mais logo.Mas abraço-a com toda a trnura que consigo.
O Poeta por vezes
tem que lutar com os seus fantasmas
despe a armadura de luz
e os seus olhos cansados
seguem o prenúncio das águas
sabe que no âmago a montanha é um litoral imenso
mas precisa de lutar com o Anjo
precisa de se mostrar pobre
enfraquecido quase desfalecido
o poeta que perderá as palavras
para falar com a sua mãe
ficará órfão e com frio.
quem pode compreender o poeta
quando ele por vezes não acredita
na sua espada de luz?
Transformar-se-à em pastor
e o mundo será plano
o seu peito
uma alta montanha
o seu coração de luz
o seu verbo
as vibrações do mundo
que braços?
que afagos?
valerá a pena
segregar luz e ir ao encontro dos redutos sagrados?
a vida do poeta não é sua
é do Anjo
e saberá receber
e espera não ser mais ferido
porque é vulnerável
e mais não quer do que
ser sem condicionamentos
libertador
vencedor
pleno
absoluto
Paulo,
Aqui entrego a armadura de luz e a escuridão mais nua. Nunca quis ser poeta, nem o sou. Quero ser apenas um ser que contempla uma parede branca e também quero a paz. Se às vezes esse muro, essa parede, está toda escrita no meu pensamento dela, outras tantas o lamento...
«Que se lixem» as palavras, só quero ser gente e gentia,e passear pelo mar, deixando as palaras fora da minha casa. Atirá-las para o mar... para a montanha... para vós...para fora de mim. Quero despir-me de palavras...quero dizer «Basta! tirem-me daqui as palavras do pensamento».Quero ser humano, como os bichos da terra!
Desculpe o desabafo... hoje quero ser muda.
Saudades! Penso e sinto tudo isso. Nós vimos aqui para aprender a amar. As palavras em mim estão ao serviço disso que é a minha razão de ser. São portas que se abrem. O infinito está na partilha, na abertura à humanidade do outro, ao seu sofrimento, à sua felicidade, à sua grandeza. E nós somos eternos, por isso nos apaixonamos e nos deixamos lavrar pelos delírios dos desencontros. O resto só aos mais raros é dado. Eu prefiro os afagos, as manhãs claras e o mar chão da entrega plena ao que no outro se dá sem mais. Só isso, que parece tão pouco, vale o termos vindo ao mundo. A Festa! A festa da sementeira, as sementes são fundamentais. Nós somos isso.
"We sit together, the mountain and I, until only the mountain remains"
Um abraço, Saudades.
Primeiro a Luiza com quem não converso há muito...Saudades!
À Luiza que me lê tão bem (no outro sítio está o que senti, depois... e a Luiza não sabia...)agradeço o que em mim ressoa cada vez mais constantemente...
Depois a Isabel em cujas conversas bebo e vejo o em que me tornar. Pois que se soltem esses grãos e que o seu poeta se revele no que de mais sublime acontece.
Com uma pedra na boca me despeço. É uma pedra de luz.
Depois o poeta/filósofo que na sã paixão nos apaixona e sabe que a «montnha é um litoral imenso» e também sabe das sementes, da terra e dos astros e nos presenteia com palavras de fogo e de ar que nos animam.
a água que ameaça esborratar
as palavras do livro
da tua menina
sob ameaça de chuva
não poderá libertar-te
das palavras?
Não, Platero,nem essa água...
Adorei as tua rosas e as mãos do do seu jardineiro...um dia vou pintar as rosas do teu quintal, enquanto choro as palavras desbotadas do livro da menina...
Um beijo
Ai Saudades,
não tenho tido muita voz mas escuto-te, sim, escuto, e sinto. Também sou da Montanha. Lembras-te das primeiras vezes em que te falei na Serpente? ( - Os "irmãos" reconhecem-se...)
Tem uma noite feliz.
A pintura é fabulosa!
Espero ver qualquer coisa parecida agora nas férias.
As palavras soam-me muito.
Não me soam a saudade, desta vez...
não sei porquê, mas acho que pode estar relacionado com a montanha. Gosto da montanha. Ela vive, respira, transpira e sempre, sempre está lá para podermos subir ou descer por ela.
Qualquer dos caminhos que façamos é bonito, porque é o caminho que 'nós' escolhemos fazer.
Mesmo o caminho mais dificil é bonito, porque a montanha nos dá prendas na subida, com belas paisagens, com belas palavras, belas vistas, com aquilo a que os nosso olhos passam a chegar, assim ao longe, assim de cima.
Não um 'cima' de supermacia ou de superioridade, mas antes um 'cima' de boca aberta e de olhos abertos para o maravilhoso da distância e da horizontalidade e verticalidade que aumentam... nessa subida, nessa montanha e noutra montanha.
E na descida a montanha mostra-se diferente. Mostra, quem sabe, a saudade da subida, a saudade da beleza que dela se avista,a saudade dessa lua, dessas setas prateadas, das estrelas que nos sintilam.
Posso mandar Saudades?
Beijos de Saudades de Sereia*
Não sei se são as mesmas saudades ou se são outras diferentes das saudades que se podem sentir*
Luiza,
Tenho tido a janela fechada...só agora vi o seu comentário. Encontramo-nos na montanha, junto às tílias, frente ao azul do mar...do lado de dentro da janela, fora dela e em todas as direcções...
Lembro-me perfeitamente das suas palavras iniciis, como não?
Saudades, Luiza
Sereia,
Mesmo a montanha, olho-a como um mar de pedra, e as saudades estão no céu, no mar, no ar, estão espalhadas em perfume por todos os lugares... Estão consigo, também.
Saudades de Sereia são saudades do mar. Obrigada por esse aroma.
Saudades de Saudades
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