O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 25 de julho de 2008

aceitação

A noite enrola os cabelos

Sob os dedos do sol.

O pasto dos anos ressequiu

A gota de luz que nos guiava.

Lembro-me dela:

Uma lua solar. Nenhum incógnito:

Por toda a terra as sombras com olhos

Lambiam pregadas essa noite

O eco dos rastos e dos rostos

Consumidos na distância.

Os mortos ressentidos chispavam

No aço fino da voz: tudo foi dado,

O nobre nascimento e o voo sempre inédito

Das cinzas no oceano sem telhados.

3 comentários:

platero disse...

será que a morte é igual
a nunca se ter nascido?
Será tudo virtual?
Fará a vida sentido?

mais para dar um grande abraço ao meu amigo, a partir daqui- da Barragem do Divor.

ah, e porque estamos vivos

Anónimo disse...

...“Sob os dedos do sol”
A vida desprendia os seus nós,
As naus e os pés do vento
Abriam janelas no mar,
Para a tarde chegar
De.vagar, vinham de longe as vozes
Chegavam à praia em eco
As grutas que fomos sendo…
Éramos nós as vozes deixadas
Eram vagas as ondas atiradas
À memória em cinza do nosso canto
Encostado à distância, nau côncava,
As mãos e o gesto de afagar tristezas,
De rumar a casa, à barca da ternura.


Um beijo de saudades

Paulo Borges disse...

A Barragem do Divor! Que saudades dos bons momentos lá passados! Afinal ainda tenho saudades de alguma coisa... e não apenas da não-coisa!...