O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Serpente, I



"Não há luz.

O tremor do útero anuncia a sílaba...
Digo tua profecia enquanto refaço o evangelho.
A boca sorri tortuosa maldizendo a dança dos temores.

Pronuncie! Não ouse sussurrar o caos.

O terço se enrosca em minha língua,
enquanto a primeira estrela se arrebenta.

Hospedo-me nas gavetas do inferno,
onde os verbos maceram.

Não olhe: vou nascer!

A garganta arreganhada permite o sibilar do cio.
Esfrego-me em teus pudores,
enquanto conjugo um bocado da lua.

As escamas pulsam displicentes,
sob a fronteira húmida da dor.

E o verde rasteja infindável,
trazendo a serpente!"

Agostina Akemi Sasaoka
Imagem: google

5 comentários:

Semente disse...

Mais um que gostei muito de ler*

Anaedera disse...

Não ficou mesmo mesmo como desejaríamos, mas como eu digo, vamos tentando...obg

baal disse...

na imagem é visivel o eterno retorno, e o mal volta, o mal existe... se o mal voltar estamos condenados à derrota? (na serpente é sempre necessário dizer alguma coisa ligada á terra).

Anónimo disse...

baal,

Na serpente é sempre preciso devorar-se em infinitos de uroborosa saudade...
Seja no "evangelho" dos homens da "revolução permanente"; seja no eterno feminino que nos vê mater nascida no ciclo infinito da contracção da terra, o que é uma revolução permanente de outro modo, sempre acima da história, igual à que em baixo se cruza...

Uma sílaba é um sinal num rosto feminino... de terra é a Serpente... tem asas e é uma mágica força que a si se cria...

Um sorriso aberto, baal.

Anónimo disse...

(Desculpe a indelicadeza de ter começado a conversar com o baal... mas quis responder-lhe...)

A imagem que apresenta no seu post é-me muito querida, também um pouco temida, devo dizer, mas não quero explicar porquê.

Apenas para assinalar a Serpente e as suas peles que tão bem se vêem este outono. Nuas, à luz de textos, de mágicos néctares; de perfumes de outono; de pnsamento vertiginoso.

Entre Serpentes e estrelas construímos a nossa casa. Ela é sem portas e sem janelas; ela é, a nossa alma deserta, soprada pelo vento revolucionado dos céus e dos
"verbos macerados"...

Nasce-se na hora de uma morte
Que seja de prazer conjugado na imagem de uma lua crescente...

A terra... uma vez mais... o eterno feminino o eterno retorno... alquimia do verbo!

Um abraço em luz e pax