sábado, 3 de outubro de 2009
"Aquele que vê o espantoso esplendor do mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo"
"Dizer que a obra de arte faz parte da cultura é uma coisa um pouco escolar e artificial. A obra de arte faz parte do real e é destino, realização, salvação e vida.
[...] Aquele que vê o espantoso esplendor do mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo. Aquele que vê o fenómeno quer ver todo o fenómeno. É apenas uma questão de atenção, de sequência e de rigor.
[...] Esta lógica é íntima, interior, consequente consigo própria, necessária, fiel a si mesma. Se em frente do esplendor do mundo nos alegramos com paixão, também em frente do sofrimento do mundo nos revoltamos com paixão. O facto de sermos feitos de louvor e protesto testemunha a unidade da nossa consciência"
- Sophia de Mello Breyner Andresen, "Posfácio", in Livro Sexto, Lisboa, Caminho, 2006, pp.73-74.
[...] Aquele que vê o espantoso esplendor do mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo. Aquele que vê o fenómeno quer ver todo o fenómeno. É apenas uma questão de atenção, de sequência e de rigor.
[...] Esta lógica é íntima, interior, consequente consigo própria, necessária, fiel a si mesma. Se em frente do esplendor do mundo nos alegramos com paixão, também em frente do sofrimento do mundo nos revoltamos com paixão. O facto de sermos feitos de louvor e protesto testemunha a unidade da nossa consciência"
- Sophia de Mello Breyner Andresen, "Posfácio", in Livro Sexto, Lisboa, Caminho, 2006, pp.73-74.
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2 comentários:
Impossível escolher que passo seja o mais importante nestas espantosas e ciciantes palavras de Sophia.
Quando ela escreve: "sermos feitos de louvor e protesto testemunha a unidade da nossa consciência", parece-me isso uma das mais sublimes expressões da "esférica" beleza de ser consciente.
Nelas ecoam-me essoutras, de sua obra “Coral”:
"Ouve:
Como tudo é tranquilo e dorme liso;
(...)
Fecha os olhos e dorme no mais fundo
De tudo quanto nunca floresceu.
Não toques nada, não olhes, não te lembres.
Qualquer passo
Faz estalar as mobílias aquecidas
Por tantos dias de sol inúteis e compridos.
Não te lembres, nem esperes.
Não estás no interior dum fruto:
Aqui o tempo e o sol nada amadurecem."
(in "Coral", Portugália Editora, Lisboa, s/d, pág 40)
Deixei, propositadamente, para o final (só Sophia, para quebrar o silêncio de Sophia!) os três versos que estão omissos na citação acima.
Eis-los, como se fora um haiku:
"Claras as paredes, o chão brilha,
E pintados no vidro da janela,
O céu, um campo verde, duas árvores."
Está-se pronto a partir, tão-só se "leia" isto...
Já partimos.
Abraço
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