O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 17 de abril de 2008

Uma experiência de êxtase laico e contemporâneo

"Aí onde penetrei era uma esfera de cristal, onde tudo era luz e silêncio - tudo isso que subitamente veio e me envolveu. Esfera feita duma substância poderosamente dura e frágil. Irradiante e geometricamente definida. Fremente e calma: a verdadeira vida nesse lugar desvendada. Impondo-se por uma potência irresistível, uma autoridade incontestável; mas vulnerável, susceptível de ser posta em fuga à menor falta da minha parte. Vinda expressamente para mim, mas fugaz. Impossível de aprisionar porque indizivelmente livre. Uma só imperfeição existia nesse paraíso, não lhe pertencendo, mas acompanhando-o: a certeza do seu fim inevitável, inelutável, num momento desconhecido mas próximo. Esta apreensão subsistia, tal um ponto negro sobrenadando neste mar cintilante de pura alegria" - Dalila Pereira da Costa, "Três meditações sobre o êxtase", Porto, Lello & Irmão, 1972, p.9.

Dalila Pereira da Costa é uma Amiga, autora de vasta obra, a cuja homenagem será dedicado o III Colóquio Luso-Galaico sobre a Saudade, em 19 e 20 de Maio, no Porto e em Viana do Castelo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Êxtase é sair ou entrar ? Ou as duas coisas ?

Anónimo disse...

Seria interessante reflectir sobre este "ponto negro": a "certeza" do fim da experiência extática provoca a "apreensão", o medo, ou são eles que provocam a "certeza" do fim da experiência, que desde o início a minam por dentro ?