O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 7 de abril de 2008



dentro da casca plúmbea do depois
as árvores as aves os sonhos as aventuras os desejos as dores sem carnes parturientes
as manhãs rubras de purpurina e não ter sido
acoitam-se da desolação
ao olhar tudo se furta se a luz se entrelaça com o desejo
e esperam o rasgar das veias do silêncio
pelo gume cristalino da saudade
entrelaçam-se em nós de pele e crinas com sabor a sangue
os ecos das batalhas e as orações dos que não partiram
cântico degolado
na quietação das aves depois do crepúsculo
as nuvens e as vertigens os amantes e os gritos as escoras do chão que ninguem pisa
e é de par em par que a noite se desfaz dos prantos e dos restos mortais
de haver mundo

3 comentários:

Anónimo disse...

Restos mortais de haver mundo: bela expressão !

Anónimo disse...

Cada fenómeno é o estilhaço de uma explosão que nunca se deu.

Anónimo disse...

Imagem de infinita beleza ...
Poema que respira e estremece de eternidade