segunda-feira, 7 de abril de 2008
Batota Dupla* ou só para dizer que ainda existo
Das janelas calafetadas ( Over de afgedichte ramen, traduçao de Arie Pos)
Na tua casa todas as janelas são calafetadas.
Têm fitas adesivas
siliconizadas
para reduzir o coeficiente de atrito
de tracção
Fecham sem deixar abrir a janela.
Mesmo assim
quando chove
os caracóis marcham deslizando suavemente pelos vidros.
Deixam uma caligrafia viscosa que me arrepia.
- Grito
horrorizam-me os caracóis.
Eles assustam-se
recolhem os seus pauzinhos
estagnando na tua vidraça calafetada.
O seu rasto viscoso permanece nos vidros da tua janela
nas madeiras envernizadas
nas carpetes densas
nos meus pés nus
no meu pescoço
E eu grito
os vidros racham-se.
E eu grito
porque sinto o caracol no meu pescoço,
a subir pela nuca
deixando o seu rasto viscoso
no meu pescoco.
Tu apaziguas-me
dizendo que as janelas estão calafetadas
siliconizadas
os caracóis amedrontados
e o rasto viscoso é apenas o da tua língua
no meu pescoco.
De como as tuas janelas calafetadas não me protegem de arrepios.
in Joana Serrado, Emparedada Uit de Muur Hendrik de Vriesstipendium 2008
*Publicidade à obra futura e preguiça de escrever post, portanto cópia directa da minha Botânica
Na tua casa todas as janelas são calafetadas.
Têm fitas adesivas
siliconizadas
para reduzir o coeficiente de atrito
de tracção
Fecham sem deixar abrir a janela.
Mesmo assim
quando chove
os caracóis marcham deslizando suavemente pelos vidros.
Deixam uma caligrafia viscosa que me arrepia.
- Grito
horrorizam-me os caracóis.
Eles assustam-se
recolhem os seus pauzinhos
estagnando na tua vidraça calafetada.
O seu rasto viscoso permanece nos vidros da tua janela
nas madeiras envernizadas
nas carpetes densas
nos meus pés nus
no meu pescoço
E eu grito
os vidros racham-se.
E eu grito
porque sinto o caracol no meu pescoço,
a subir pela nuca
deixando o seu rasto viscoso
no meu pescoco.
Tu apaziguas-me
dizendo que as janelas estão calafetadas
siliconizadas
os caracóis amedrontados
e o rasto viscoso é apenas o da tua língua
no meu pescoco.
De como as tuas janelas calafetadas não me protegem de arrepios.
in Joana Serrado, Emparedada Uit de Muur Hendrik de Vriesstipendium 2008
*Publicidade à obra futura e preguiça de escrever post, portanto cópia directa da minha Botânica
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11 comentários:
hum ... aaahhh ... uma "língua no meu pescoço" ... aaahhh! Fecho os olhos ... "take my breath away" ...
hummmm... aahhh... um pescoço na minha língua... ummmhhhh.... Um pescoço de caracol na minha língua de formiga... uummmmhhh !!!... Batota dupla !
Fortíssimo. Parabéns.
Mostra o quanto o contacto físico se torna repugnante quando os corações se fecham.
A verdadeira poesia dissolve o poeta e o poema.
E o Amante Formigo dissolve-me ...
o que aqui anda... ai estes amantes...
que engraçado, Ana M., nunca tinha interpretado dessa maneira...Tens razão. (O "eu lírico" ainda está pior do que eu pensava!)
o que é mais engraçado - ou menos - é que eu tenho mesmo horror aos caracóis. Os meus piores pesadelos são com caracóis.
(Não tenho salvaçao possivel, pois nao?)
Engracado ... Os meus piores pesadelos em crianca eram com aranhas e adoro comer caracois no inicio do Verao;) ...
O teu eu lirico esta excelente, por favor nao te subestimes.
Bjs,
A
Horror a caracóis !... Então porquê, Joaninha ?
Os caracóis são criaturinhas tão pacíficas.
Há salvação: vai até ao campo, ou a um jardim, um muro e, atentamente, segue os seus percursos lânguidos e indolentes... sem nada fazeres, observa apenas os seus movimentos, deixa-te levar por eles, sem juízos disto ou daquilo... Já sossegada, "apaziguada" permite que deslizem suavemente na tua mão, não faças nada, sente-os apenas... experimenta isso. Resulta.
Nunca mais terás horror a caracóis... nunca mais os verás da mesma maneira...
"Adoro comer caracóis" !? Cozidos vivos !...
Sim, eu sei, aind atenho muito a evoluir no que diz respeito a etica alimentar:-( ...
Os meus habitos alimentares sao tipicamente Tugas ... Sardinhadas, bacalhoadas, caracoladas ... Esta a levar tempo para me desfazer deles ...
Ana Margarida,
A propósito de caracóis, outros seres e certos hábitos alimentares...
Uma dica: passa pelo site da
União Budista Portuguesa
(www.uniaobudista.pt)
e, em Actividades, ao fundo da página encontras um excelente texto:
"O Significado da Libertação dos Animais".
Vai, lê devagar... não faças como eu que nem sequer tinha reparado que comias caracóis.
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