O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 1 de abril de 2008

Resposta ao Paulo Borges

É mesmo verdade: Tudo nos beija e abraça mas nós, na nossa visão e sentir limitados, recusamos todo o Amor que o Universo nos dá. Com muita frequência, aprendemos cedo demais a não gostarmos de nós mesmo, a imaginarmo-nos “menos que” e por isso obrigados a mostrarmos que somos “tanto quanto” para nos sentirmos merecedores de viver.

Á custa do desamor de nós mesmos e das desilusões com a vida que tal desamor propicia, aprendemos a rejeitar, por vezes de forma violenta, todos os “mimos” que o Universo nos oferece, pois no fundo de nós mesmos temos medo de que sejam condicionais, que tragam consigo a expectativa de que nós tenhamos de provar que somos “tanto quanto”, ou então que nos sejam tirados da mesma forma inesperada e incontrolável como nos foram oferecidos.
Por isso, com muita frequência preferimos nos acomodar a um cinzentismo sem grandes sobressaltos do sentir do que correr o risco de entrar na montanha russa que é a aceitação dos “mimos” que o universe nos oferece.

Digo isso pois eu própria padeço (e quanto) desse pecado. Que vocês e o Universo inteiro me perdoem.

“Existe a noite, e existe o breu.
Noite é o velado coração de Deus
Esse que por pudor não mais procure.
Breu é quando tu te afastas ou dizes
Que viajas, e um sol de gelo
Petrifica-me a cara e desobriga-me
De fidelidade e de conjura. O desejo
Esta da carne, a mim não me faz medo.
Assim como me veio, também não me avassala.
Sabes por quê? Lutei com Aquele.
E dele também não fui lacaia.”

Hilda Hilst (Do Desejo, 1992)

3 comentários:

Anónimo disse...

Hoje, se quiseres, meditamos...
Trago lembranças da viagem, símbolos de "embarcadiço"

Quantas vezes morri
Na sombra onde os pinhais
Embalam a forma
Aérea do mar?

Quantas vezes dormi
No pensamento
De uma vaga obscura
- Corpo submerso
Nas primeiras águas -
Antes de haver ouvido
Para a voz que é o mundo?

Quantas vezes morrerei ainda
Antes que a dor sossegue
E o coração se una
Aos quatro pontos cardeais
Do círculo que é o mundo?



Cinco pontas tem a estrela
E no centro, em luz, o fogo arde
Cinco, os dedos da mão,
E quatro, os pontos cardeais
A terra é una
E o homem só
Segura na mão o fogo da palavra.



O cego leva de encontro ao peito, a luz
E, no labirinto iluminado,
As deusas seguem o branco dos olhos,
Caminham em busca desse fogo
Que está mesmo no centro,
A arder, dentro do coração.

Muita ternura
Um sorriso:)
Muita Paz

Ana Margarida Esteves disse...

Morreremos tantas vezes quantas forem necessarias ate visitarmos, partilharmos, vivermos e transcendermos de todas as matizes da experiencia humana.

Ansia de sermos nos e tudo ao mesmo tempo ...


Um abraco terno
Um sorriso:)
Muito carinho e muita Paz

Anónimo disse...

Um forte abraço, Ana Margarida...