O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 4 de junho de 2008

todos os versos
derramo-os sobre a pele da ausência de que és afinal
da impenetrável a correr de luz e sangue de inquieta e salgada não te ver
palavra
e derradeiro
nos mesmos olhos que se cruzam
nas mãos baças que se perscrutam
tentativas apenas tentativas
porque os dias são escassos para ir ao fundo
a vida mesmo se estendida ao sol nunca se desnuda da treva
e afinal és tudo
cada gota do tempo sorvida sem lábios ou língua
cada traço do desejo na areia rutilada de serpentes
e és o gume na língua cravado no acto de dizer o desfazer das preces
só serapilheira de encher buracos de treva nos leitos a arder onde o amor se consente
tudo
até a maresia com que vens na tarde equestre
até os silvos da noite nas certezas crestadas do sol no poente
até o quase a beira transbordante da plenitude
e no fim já te sabia

2 comentários:

Anónimo disse...

No fim já sabemos tudo...

Anónimo disse...

O Verão está a tornar o Paulo ainda mais solar, apolíneo...

Um Sorriso!