O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 28 de junho de 2008

poema de alexandre vargas

Deus, num ápice


Levanta-se Deus não bebe o leite das galáxias
mas café forte da negra noite circundante
e sumo solar em planetas e laranjas
com ovos estrelados céu translúcido de glória.

No prato cósmico espeta o garfo de Neptuno
e de Vulcano esquenta logo o banho rápido
nebuloso espírito paira prévio sobre as águas
depois do vinho e pão, outros deuses mesmo lume.

Leva a bandeja para a cozinha fica diante
da mesa de ardósia a barca o diário
que regista, ouvindo as notícias da rádio:

“No princípio era o Verbo”, transcreve para o livro do dia antes
de tirar o sobretudo da cruzeta, sair à pressa,
cria Deus o universo num verso.

(2003)



Alexandre Vargas, nascido em 1952, é poeta e tradutor. Publicou, entre outros, os livros Cyborg (1979) e Vento de Pedra (1981). Participou em antologias, cadernos e publicações colectivas como Múltiplos de Três (1997) – com Miguel Torres-Chaves e Rui Caeiro – e PoesiaDigital - 7 Poetas dos Anos Oitenta – com Amadeu Baptista, António Cândido Franco, Fernando Guerreiro, Helga Moreira, José Emílio-Nelson e Luís Adriano Carlos. Traduziu os músicos-poetas Peter Hammil e Patti Smith.

6 comentários:

Duarte D. Braga disse...

http://alexandrevargas.no.sapo.pt/

Anónimo disse...

Vargas num ápice Deus cria
Duarte assim o revela
grande é a poesia
que a tudo tira dela

Anónimo disse...

Se Deus cria o Uni(Verso) num verso, Alexandre Vargas inventa Deus numa folha do dia de véspera.

Grande Alexandre Vargas, que assim nos trazes Deus para o prato e para o dia de hoje. E a boa lembrança que o trouxe para o pé de nós.

Anónimo disse...

Assim a Serpente vai mudando de pele. Que bela está com este poema!

Anónimo disse...

Obrigada Duarte! Pelo poema e pelo Alexandre Vargas que não conhecia.

Anónimo disse...

"Ao Todo-Poderoso Alexandre Vargas e a Duarte Braga, seu profeta"

Alexandre Vargas mas não vergado
Sobes por este poema aos céus
Donde p'las alturas inspirado
Revelas o despertar de Deus

Se vês Deus seu Deus és
E Duarte o teu profeta
Traz-te o Verbo na fronte
A ungi-lo ébrio poeta

A vossos pés oferendas depomos
Como ante sacrossanto altar
As Musas são laranjas aos gomos
E tudo é rir, folgar e cantar