O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 26 de julho de 2010

9


PRECISO DE UMA MULHER para estar comigo entre as nove e as onze
Alguém com pronúncia pouco pronunciada
Uma espécie de Greta Garbo com Frida Kahlo
Ou Alice Vieira com Natália
A nossa Natália Correia que um dia me levou ao período Futurista!

Tem alguma ideia?
Pode ser uma mulher meia calada que eu pôr-lhe-ei palavras na boca
Uma com cheiro a pinho
Com longas tranças de escamas de peixes
Se tiver tronco de árvore não faz mal
Eu próprio lhe darei forma
As minhas mãos sempre foram invejadas
Basta entender de anéis solares

Preciso de uma mulher para coser meus pensamentos
De preferência da cor do meu telhado
Que é branco em cima de um fundo negro
Aviso já que não é fácil
Só autodidacta consegue!

Achará que eu quero violar essa mulher
Danados!
Malditos!

Tenho poemas por acabar
Tenho o sangue prestes a esgotar
A muralha da China vê-se lá do alto
Outro dia confirmei isso
Sem me levantar da cadeira

Quero essa mulher para guiar minha mão que (in)segura a caneta
Quero essa mulher em trajes que me façam entender uma bandeira!
Quero o sol e a lua na mesma embalagem!
O terror e a lucidez parados numa esquina!
Ou em banhos de espuma!

Entre as nove e as onze ardo em fosfóricas saudades
Um agrafador pisca-me o olho com naturalidade
Uma cópia de Dali denuncia que está vivo
A água da torneira a ir pela bacia abaixo
As luzes das minhas ideias com as mãos na cintura
O som
Os sons

As magníficas correntes do ar
O cesto de papéis achando a vida uma ova
A ferida que eu não curei abrigando répteis

Penso num A e sai-me um O
Ó que terras mal acamadas! Não vedes que eu desabo!

Dirão agora que mereço essa mulher
Coitado deve participar em antologias
Escolher poemas da fase da parvalheira
Jogar flippers e mostrar à garina o quanto vale

Odeio a simplicidade!
Odeio as complicações!
Entre eu o nada não existe intervalo

Sempre escutei Vinícius de Moraes antes de adormecer
É bem melhor que uma velinha acesa num copo de azeite

Os homens morrem
A arte fica
Eu hei-de morrer sem saber o que me resta!

Quem está doente
Doente morrerá
Quem está de saúde
Terá boas amantes

Quero agora essa mulher
Entre as nove e as onze
De preferência entre as nove e as onze da noite
Assim sabe melhor o salmão
Posso traduzir Dostoievski
Embora não percebendo nada de russo

Vou-me embora antes que a tabacaria encerre
São quase nove
Vêm aí nove meninas
Cada uma com nove meninas em cada mão
Qual delas saberá mudar a água aos peixes?

7 comentários:

platero disse...

muito a meu gosto
e
gosto muito

abraço

ethel disse...

sou a mulher que dizes precisar
nem Kallo, nem Garbo
sou a mulher por fazer
de manhã espreguiço-me na cama
espero por ti ao alvorecer

sou a mulher que nunca casou
sou a mulher do depois
de noite me visto
de dia me dispo
nesse intervalo que dizes não existir
sou a mulher pronta a moldar
anciã de uma tribo extinta
virgem da nova era

sou a mulher que não queres
a que refila noite e dia
a que te implora um beijo todas as manhãs
sou a mulher do outro
a que apetece levar para a cama

sou a mulher que enganas
quando sais da Tabacaria

JSL disse...

Ó F ... faz tempo que não te vejo homem. Hoje foi mais uma vez. Tu e as tuas musas sempre a fugirem à dialéctica da roda dentada. Deixa estar que já te apanho.

platero disse...

Paladar da loucura

claro que também gosto de ti.
de ti não sei - da tua poesia - que é o mesmo

ouso, por isso. recomendar-te blog de que sou velho frequentador. de dia e noite
:

"putas resolutas" ah, já agora, tb

"ellenismos"

garanto vais gostar

beijinho

ethel disse...

OLá Platero!
Vou consultar esses blogs :)
Tb gosto você, Platero.

Beijo

platero disse...

PL

se me trata po vc
não sei como tratar-te

bjo

ethel disse...

oh, desculpa-me! nasci no Brasil. É verdade que estou cá mais de metade da minha vida. Sou portuguesa, mas se reparares os meus textos são uma confusão entre o português e de lá:)
e desta vez o vc foi mesmo carinhoso, dengoso...
mais informal que o tu!
beijinhos para TI!