O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 6 de julho de 2010

- Quem és? Tens olhos grandes demais para ser humano...
(Alguém admirado assim ta descreveria, as lágrimas darão o brilho que falta à silhueta.)
- Quem és?
- Aqui me tens, indestrutível força, lanceolada de espumas e sagrada por vastos e remotos vendavais, absoluta solidão do teu ser poeta.
- Para onde vais?
- Venho de um regresso impossível, posso ainda enganar-me no caminho.
- Sabes, pregar um prego, lavar pratos, cortar a erva, tudo isso me custa. Mas nada me custa tanto como carregar o fardo de um poema das coisas impossíveis. Sabes, poemar dói. Os frutos nascem apenas desse fim como que caídos do chão, percebes?
- Quem sou?
(Boa pergunta)

1 comentário:

Anaedera disse...

Os olhos revelam a "raça",
Do que vem para ser dito,
Do que dizem ter sido feito nas estrelas e criado do Nada.

Do que fores,
Escolhe sempre um fardo leve, aquele que torna tudo possível.

Esolhe escrever a tua história,
Pois os frutos caídos já estiveram na árvore.

E sem regresso, escolhe voltar.

Sei quem és.
Só podes ser a espuma do Mar.