quinta-feira, 5 de junho de 2008
"Cinema Paraíso"
Vivemos (n)um filme com transmissão directa no "cinema -do- Paraíso".
Porque é tão incrível pensar que esta vida imaginada –feita de imagens- é apenas uma fita cinematográfica?
Passamos a vida a “fazer fitas” e a ver fitas (dos outros), será assim tão inconcebível ver a própria vida como uma fita - um filme?
Cada vez que vou ao cinema, quase sempre me esqueço de mim e sinto algo inexplicável, aquela sensação de que sou algo que está para lá “deste” mim momentâneo e, ao mesmo tempo, sinto-me tão indefinida e definitivamente: Eu.
Porque nunca colocámos, de modo verdadeiro, a hipótese de que a própria vida real é também ficcionada? Se todo o universo tende para Um, tudo, no seu âmago, é Um. A realidade não tem que ultrapassar a ficção, a própria realidade É ficção: literalmente! Não crêem nisto? E como podemos nós crer tanto numa coisa que hoje existe e que “amanhã” já não existe na face da terra - aos nossos olhos ou de outros, esta nossa “aparição”, esta nossa vida material, corporal? O que é mais verdadeiro, esta terra e este corpo onde vi-vemos, ou o contínuo sentimento que vivemos dentro de nós? Como podemos acreditar tanto –ou só- numa coisa tão falível (porque perecível) como é o corpo? Como podemos não acreditar naquilo que persiste em nós, “este” indefinível sentimento?
Não importa nomear o sentimento que nos liga, importa respeitá-lo, importa cuidá-lo, viver sem esquecer que é ele o que nos faz estar mais próximos do que somos autenticamente.
Este sentimento, se não é definível, como pode viver num mundo definido como este? Como podem duas coisas contraditórias se juntarem? Se existe esse sentimento indeterminado dentro em nós, indica que há algo em nós de misterioso que não se restringe a este mundo factual. Mas não nos perdamos naquele “outro” -que vive em nós- enquanto vivemos “neste”. O fundamental é sentir que o nosso ser é tudo menos algo definitivo, portanto, o nosso ser primordial persiste para lá destas imagens. Ou melhor, de modo a valorizarmos este mundo como o fazem as crianças, os objectos desta realidade são apenas simbólicos, representam os seres como a estátua do santo que está no altar. A única diferença é que este nosso objecto -o corpo- ganhou vida através de nós. A criança também brinca com bonecos, nós também devemos brincar com bonecos, que podem ser os objectos aos quais chamamos “reais”.
O bloqueio da humanidade é sempre o de “cair na tentação” de separar o que conhece. Nada no universo é passível de estar separado, muito menos do seu oposto complementar. A realidade que vivemos é uma invenção constante. Porém, como vemos as coisas a partir da nossa mente isolada, vemo-las totalmente distintas, não conseguimos perceber que a nossa infância é, absolutamente, o modelo para toda a nossa vida adulta. As brincadeiras da infância são o exemplo do que deve ser a nossa vida. A vida é para ser jogada de ânimo leve, porque o nosso ânimo, se é puro, é leve!
Porque é tão incrível pensar que esta vida imaginada –feita de imagens- é apenas uma fita cinematográfica?
Passamos a vida a “fazer fitas” e a ver fitas (dos outros), será assim tão inconcebível ver a própria vida como uma fita - um filme?
Cada vez que vou ao cinema, quase sempre me esqueço de mim e sinto algo inexplicável, aquela sensação de que sou algo que está para lá “deste” mim momentâneo e, ao mesmo tempo, sinto-me tão indefinida e definitivamente: Eu.
Porque nunca colocámos, de modo verdadeiro, a hipótese de que a própria vida real é também ficcionada? Se todo o universo tende para Um, tudo, no seu âmago, é Um. A realidade não tem que ultrapassar a ficção, a própria realidade É ficção: literalmente! Não crêem nisto? E como podemos nós crer tanto numa coisa que hoje existe e que “amanhã” já não existe na face da terra - aos nossos olhos ou de outros, esta nossa “aparição”, esta nossa vida material, corporal? O que é mais verdadeiro, esta terra e este corpo onde vi-vemos, ou o contínuo sentimento que vivemos dentro de nós? Como podemos acreditar tanto –ou só- numa coisa tão falível (porque perecível) como é o corpo? Como podemos não acreditar naquilo que persiste em nós, “este” indefinível sentimento?
Não importa nomear o sentimento que nos liga, importa respeitá-lo, importa cuidá-lo, viver sem esquecer que é ele o que nos faz estar mais próximos do que somos autenticamente.
Este sentimento, se não é definível, como pode viver num mundo definido como este? Como podem duas coisas contraditórias se juntarem? Se existe esse sentimento indeterminado dentro em nós, indica que há algo em nós de misterioso que não se restringe a este mundo factual. Mas não nos perdamos naquele “outro” -que vive em nós- enquanto vivemos “neste”. O fundamental é sentir que o nosso ser é tudo menos algo definitivo, portanto, o nosso ser primordial persiste para lá destas imagens. Ou melhor, de modo a valorizarmos este mundo como o fazem as crianças, os objectos desta realidade são apenas simbólicos, representam os seres como a estátua do santo que está no altar. A única diferença é que este nosso objecto -o corpo- ganhou vida através de nós. A criança também brinca com bonecos, nós também devemos brincar com bonecos, que podem ser os objectos aos quais chamamos “reais”.
O bloqueio da humanidade é sempre o de “cair na tentação” de separar o que conhece. Nada no universo é passível de estar separado, muito menos do seu oposto complementar. A realidade que vivemos é uma invenção constante. Porém, como vemos as coisas a partir da nossa mente isolada, vemo-las totalmente distintas, não conseguimos perceber que a nossa infância é, absolutamente, o modelo para toda a nossa vida adulta. As brincadeiras da infância são o exemplo do que deve ser a nossa vida. A vida é para ser jogada de ânimo leve, porque o nosso ânimo, se é puro, é leve!
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8 comentários:
Prolongar a brincadeira ingénua da infância e esquecê-la levando-a demasiado a sério é o que quase todos fazemos. A questão é o que fazer com o sofrimento que daí resulta: fruí-lo esteticamente como parte do filme, sonho e ilusão, como propõe cruelmente Alberto Caeiro, ou fazer alguma coisa para nos libertar a nós e aos outros disso, mesmo sabendo que em absoluto nada verdadeiramente existe ? Questão já aqui amplamente debatida...
Sim é cruel para o nosso entendimento actual... como era cruel a vida de antigamente vista por nós hoje, o que será cruel amanhã, ainda não sabemos. Não conhecemos o fim à linha...
De modo nenhum ! Fruir o sofrimento dos outros foi, é e será sempre cruel, em todos os tempos e lugares ! Nisto não há qualquer relativismo possível.
Eu não percebi isso em Caeiro. Para mim não há fruir nem deixar de fruir é somente tomar como natural. O que Caeiro representa é uma Criança que não cresceu, que não distingue o que vê: o ideal do homem...
"Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo / Porque a imperfeição é uma cousa,/ E haver gente que erra é original, / E haver gente doente torna o Mundo engraçado. / Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos, / E deve haver muita cousa / Para termos muito que ver e ouvir..." - "O Guardador de Rebanhos", XLI.
Porque não também: "E haver Auschwitz torna o mundo engraçado" ?
Levamos à letra o que não é para levar, e não levamos à letra o que é... a meu -diminuto- ver, claro.
Ficar agarrado ao que quer que seja é tomar a parte pelo todo, sejamos leves e pesados, crianças e anciãos, árvore e rio e sol e mar e tudo... só aí estaremos para lá da brincadeira e da seriedade, só aí atingiremos o que está para lá da relação...
O que as crianças têm de transcendente, não é tanto a brincadeira, é mais a LIBERDADE (indefinível presença do que não tem causa nem é por acaso)
As crianças ainda sabem que o seu destino é a liberdade.
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