O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Pensamento insituado - Saudade

Saudade: Ausência, Ab-s-entia, desligamento da entificação, di-stância, afastamento do estar.

6 comentários:

Kunzang Dorje disse...

«Tudo é desprovido de fundamento e de substância»; nunca repito para mim próprio esta frase sem sentir qualquer coisa que se assemelha à felicidade. O que me aborrece é a quantidade de vezes em que não consigo repeti-la...»

Emil Cioran, Do Incoveniente de Ter Nascido, Letra Livre, Lisboa, p.66

Kunzang Dorje disse...

«O que é o hua-t'ou («palavra-cabeça»)? A palavra é a palavra pronunciada e a cabeça o que precede a palavra. Por exemplo, quando alguém diz: «Amitabha Bouddha», é uma palavra. Antes de ser pronunciada é um hua-t'ou (uma «pré-palavra»). O que é designado por hua-t'ou é o momento que precede a chegada do pensamento acompanhado da palavra que o comporta. Logo que este chega, torna-se um hua-wei («palavra-cauda»). O momento que precede o aparecimento de um pensamento chama-se «não-nascido». O vazio que não é perturbado nem morto, nem imóvel ou parcial, chama-se o «infinito». A acção de virar constantemente a luz para o interior, excluindo qualquer outra coisa, chama-se «exame do hua-t'ou».

Hsu Yun (1839-1959)

talvez haja alguma relação entre a saudade e o hua-t'ou...

Kunzang Dorje disse...

«A tua vida quotidiana é um rio em movimento, de consequências incalculáveis. Através da meditação, penetra no segredo do Instante. Então poderás prevenir os perigos, como a águia que sobrevoa o rio e abrange com o seu olhar todos os seus meandros.»

Sabedoria Ameríndia, Pergaminho, p.83

ou entre a saudade e o segredo do Instante...
julgo que Pannikar considerava a abordagem deste tema como essencial em todo o diálogo inter-religioso a haver - o "Mythos".

Anónimo disse...

Saudade não tem lugar nem tempo. É uma Ab-s.entia e futura Ausência passada.
Um estar em um outro lugar, em nenhum lugar do Ser. Em nenhum lugar do es.tar, Ishtar, Saudade de um Original estar...

Um abraço saudoso, Paulo
Um sorriso, tão bem...

Kunzang Dorje disse...

Podíamos escrever uma carta ao presidente Obama sugerindo a construção no marco zero do world trade center de um centro de diálogo inter-religioso, onde representantes de todas as religiões, ciências, artes, filosofias, culturas dialogassem... Julgo que Portugal poderia ter um papel activo na divulgação desta ideia.

rosadomundo disse...

Tenho Saudades da substância do fundamento da ausência!