O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 3 de setembro de 2010

"A obra vale pela densidade de silêncio que nos impõe."

“Compreender a Esfinge, compreender a poesia é olhá-la sem a tentação de lhe perguntar nada. É aceitar o núcleo de silêncio donde todas as formas se destacam. A obra vale pela densidade de silêncio que nos impõe. Por isso os poetas que imaginam dizer tudo são tão vãos como as estátuas gesticulantes.”

Eduardo Lourenço, in Tempo e Poesia

4 comentários:

Kunzang Dorje disse...

"Quando se examina um hua t'ou, o mais importante é dar origem a uma dúvida. A dúvida é a muleta do hua t'ou. Por exemplo, quando se pergunta: «Quem repete o nome do Buda?», logo surge um sentimento de dúvida em relação a este «Quem». Esta dúvida não deve ser rudimentar; quanto mais elaborada, mais ela vale. Em todas as épocas, em todos os lugares, esta dúvida, só por si, deve ser constantemente considerada, como um regtato cujo curso nao é interrompido, sem dar origem a um segundo pensamento. Em «Quem repete o nome do Buda?», o importante é a palavra «Quem» e mais nenhuma. O «Quem?» do hua t'ou é ma prática maravilhosa no treino do tch'an."

Hsu Yun

Kunzang Dorje disse...

Talvez a pergunta da Esfinge aqui trazida por Eduardo Lourenço seja a questão «Quem?» colocada pela tradição Tch'an, cuja resposta é a "densidade de silêncio que nos impõe".
Talvez "os poetas que imaginam dizer tudo" somos nós que, à pergunta esfíngica «Quem és tu?» respondemos «Eu sou».
Talvez «ser» se assemelhe à estátua de Nabucodonosor - "com cabeça de ouro, peito e braços de prata, ventre e coxas de bronze e pernas de ferro" e com "pés de ferro e argila".
Talvez o castigo infligido pela Esfíngie à "tentação" de lhe perguntar seja a pedra que converteu a estátua numa montanha que cobriu o mundo inteiro.
Talvez a pedra sejam as bastonadas que um Mestre dá ao seu discípulo perante um estado de torpor.
Talvez a montanha seja o "núcleo de silêncio donde todas as formas se destacam", o fruto da "prática maravilhosa no treino do tch'an".

Kunzang Dorje disse...

que posso concluir disto tudo? atirai-me pedras pois!

Paulo Borges disse...

Transformam-se em flores...