O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 1 de junho de 2008


um segredo:
ter-te é perder-te
singrarmos
sangramento
sofrimento
largarmos a arder pelas veredas sonâmbulas de sermos nós
mesmo que no instante
gume cortante e repetido
porque partir é o salto na mão do sonho
no alto dos cumes
no centro da treva que há onde nos procuramos
sempre que queremos ser o que se mente
na saudade quando perdida de todas as ilusões que bradam ecos de termos sido
perder-te
no próprio acto de possuir o coração da noite
entre as sombras as cinzas e os medos
se o vento vem de dentro
trazer arrepios e vazios à roda solta de mais além
com as entranhas do mundo em convulsão
vergastadas de tédio e alvenaria de tempos idos
e o cheiro a incenso que o ar consente
tudo
até o reverso da solidão no lado intentado da pele
mesmo que aberta em flor e rastros de luz que passou de repente
até isso
é nunca te ter tido
no futuro de não seres tudo o que não te é para que sejas

1 comentário:

Anónimo disse...

Um segredo:
belo!
Outro segredo:
o livro é belo, também!
terceiro segredo:
segredo mesmo a valer.

Boa última semana de aulas, mas isto não é segredo para ninguém...