O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 23 de junho de 2008

A fotografia foi tirada ontem na Quinta dos Lobos, enquanto esperava a chegada do Renato.
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Eu queria amar-te
giesta
só perfume e resistência
ardor do sol na pele
estrela
beijo de luz apenas
de manhã somente a comunhão secreta
hóstia de afagos
apenas sorriso e esquecimento

Eu queria amar-te
praia
areia de ouro sob os pés
doçura de haver com que contar as preces
a própria incompletude do infinito
luar
na taça invertida da noite
graal que nos restitui
porque sempre fomos só um
no futuro
de onde vens a cada momento

E queria amar-te
tudo
a tua jangada para depois
o teu arremesso no longe que te sabe
aventura
todas as correntes de ar
todos os sinos de repente
todas as flores não vistas
e a dança no reduto de mármore do silêncio

Era assim que queria amar-te
rumo sem partida
viagem do regresso
Senhora da Luz todo despido
a bordo da nau do Impossível

2 comentários:

Anónimo disse...

Paulo, hoje consegui ler o poema. Não ando a conseguir dizer tudo e a ler tudo. Talvez emudeça de vez para o mundo.

Queria, por tudo o que és de inocência,música e magia, dizer-te:

talvez a Senhora da Luz saiba que a querias amar e amas. Porque ela também deve saber que andas sempre como o rei do Michel Serres.
Espero que conheças. É a tua alma vestida de rei e ou despida de rei. Logo um dia me dirás. A fotogafia a preto e branco tem uma aura benjaminiana que prefiro. Mas isto são projecções filosóficas sobre a fotografia...se calhar não legítimas. Mas como o juízo de gosto é subjectivo...olha, é mais bela a fotografia a preto e branco do que as coloridas! São mais senhoras da luz!
Um afago de luz, como tantas vezes me ofereces.

Ana Moreira disse...

Ainda não te agradeci as folhas, braços de luz que se enlevam volatilizados para o alto, para baixo, para todo o lugar. De como a forma se esquiva dela mesma em profecias cintilantes, uni abrangentes. Ainda não te contei o sonho de todas as estrutura moleculares chicoteadas pela velocidade que se concede o poder de voar...energia...não interessa qual...somente energia liberta. Obrigada Paulo!