O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 25 de junho de 2008

à maneira antiga

agora eu vou escrever estes versinhos
que um dia alguém rebuscará nos meus papeis
e com este e com outros imprimirá um livrinho
com uma nota prévia, e o venderá por 5 mil réis

e dirá: o poeta isto e o poeta aquilo
- ver o poema tal a páginas não sei quantas
e já eu serei a toca de algum grilo
por baixo de leituga aberta às tardes brancas

mas eu enquanto vivo e a Primavera estoira
nos pompos do vergel que plantei há pouco
vou na alegria anelada de uma vaca-loira
entre as ervas rasteiras como se voasse louco

e escrevo a leite de ocre por cima da verdura
estes versinhos todos muito bem rimados
para alegrar um dia a criatura
que meter as mãos nos meus papéis guardados

Sem comentários: