O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 11 de junho de 2008

Relatório do encontro do blog

Tocava o sino das sete da tarde quando os serpentados se punham em fila indiana à entrada da Feira do Livro de modo a serem revistados caso trouxessem objectos metálicos cortantes. Estava um dia de calor e toda a gente comia o seu gelado. Os serpentes não, já tinham comido cada um o seu e o trincar obsessivo do pau do gelado denunciava-lhes a ansiedade do primeiro encontro.
As moças traziam plumas que serviam de leque que abanavam com toda a elegância de quem tem leques ainda que a brisa dos campos elísios soprasse forte e duradoiramente.
Os homens olhavam para o relógio e perguntavam com impaciência quando é que o encontro começava.
Eu, enquanto gnomo da floresta, mantive-me atrás dos arbustos e ainda vi lá o obscuro com uns binóculos a ver se se inspirava na Guida para uns poemas. A Guida lá estava, encalorada fazendo bolas de sabão. Avistei também a Joana Sousa que pintou nas pernas, para a ocasião, pontos cardeais pretos de orientação.
Era Verão, tinha de se ter cuidado com a insolação mas não, os serpentes esperavam ao sol, as damas roçavam os volumes dos vestidos uns nos outros e o encontro nunca mais começava.
Eu, como sou inteligente, mantive-me à sombra. Eram vinte para as oito e o encontro nunca mais começava. Começavam já a reclamar da organização, que só mesmo neste país.
O Maltez, habituado a esperar, sentou-se na relva com a Anita Silva e liam um livro que tinham lá comprado na Editora Viver a Vida, Pensar a Morte. O Paulo Feitais mais o Paulo Borges tinham trazido cada um o seu tabuleiro de xadrez e jogavam juntos algumas partidas, enquanto o xadrez restante foi oferecido à Luiza Dunas e à Isabel Santiago que preferiram olhar para os passarinhos.
O Mauelinho não foi avistado, O Casto Severo também não: não se pode avistar tudo ao mesmo tempo.
Tocava o sino das oito quando chegavam o Luar Azul vestido de saltimbanco acompanhado por Ana Moreira que envergava um fabuloso vestido Dior da colecção mais recente.
A partir das oito e meia é proibido estar nos arbustos, de modo que saí no momento exacto em que os serpentes entravam para uma tenda branca. Dirigi-me para lá mas os seguranças não permitiram a entrada, não se podia entrar após o começo do encontro. Foi por um triz.
As luzes da tenda apagaram-se, ouviu-se ainda "Que o encontro comece!". A dúvida, se estariam a jogar à cabra-cega ou se foram feitos reféns de extraterrestres no que afinal seria uma nave em vez de tenda, mantém-se.

14 comentários:

JoanaRSSousa disse...

serpentinar !

Anónimo disse...

O melhor do encontro foi a confirmação de um facto: Que nós somos o único e verdadeiro governo secreto do mundo.

Não foi à toa que as meninas lá reunidas passaram mais e metade do tempo a falar de nós.

=^..^=

Anónimo disse...

Gostei...desta... recriação do "real"!

Ana Moreira disse...

Tive pena de não te ter conhecido.

Anónimo disse...

Não estavámos a ver e ouvir os passarinhos. Estávamos à espera da Águia...

Um sorriso

Anónimo disse...

Quem tu viste com os binóculos foi o meu irmão. Nem mesmo com o corpo emprestado tem valia, aquela alma. Tinha logo que se deixar ver...

Ana Margarida Esteves disse...

Olá Joana,

Gostei ao menos de te ver à distância de umas cadeiras e de trocar uns sorrisos.

beijinhos:-)!

luizaDunas disse...

BonDia Rita,

A mim quase que me queriam prender, como uma vez em Portsmouth na entrada para o Museu Naval Real por ter na mochila uma faca que tinha levado para descascar uma maçã. Desta vez, por causa da espada de Nuada que trago ao peito, que era um objecto perigoso e que tinha de a tirar e deixá-la lá… Não sei bem como foi, mas o facto é que entrei pacificamente, eu diria mesmo, invisivelmente, depois de lhes ter falado da espada na linguagem dos pássaros.

Anónimo disse...

Sim Meowarchy !

As meninas falaram ... mas disseram que não somos deuses, que temos profundas limitações, medos, terrores ... que somos tratados como "resíduos sólidos" pelas Câmaras Municipais e que há um sítio "aprazível" em Monsanto onde somos enjaulados... passamos muita fome, ali urinamos, ali defecamos ... e a curto prazo passamos para os fornos crematórios... Mas sobretudo que precisamos daquelas meninas todas a cuidar de nós.

Anónimo disse...

Mas houve algum encontro !?...

JoanaRSSousa disse...

Olá Ana!
Algo me dizia que eras tu!

Anónimo disse...

Como pode haver encontro? Não há nada a encontrar...

Anónimo disse...

Ritinha, tu estavas distraída!
O Manuelinho andava por lá acompanhado duns animaizinhos simpáticos que pareciam lesmas.
E o Casto Severo... bem, o que esperavas? Ficou com as musas todas. Com ele por perto sou invísivel!

Joana Serrado disse...

as coisas que eu perco por estar aqui perto da aurora boreal....
Ninguém quer ir a Mafra, do surreal Triplo V , ao encontro das alquimias, falar de homens e do sol? (um bom sítio para o obscuro...)