O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 17 de junho de 2008

No ópio de uma flor

Por ali andava,
esquecida do pensamento e das cinzas;
o sítio era de perfume e sem regresso.





( não havia fragmento, viagem ou miragem,
o silêncio não se distinguia da véspera
e eu ao caminhar não saía do mesmo lugar -
como num deserto em que todas as linhas do horizonte
se tornam iguais ao ponto, prodigiosamente.
Eram tílias, dunas de tílias, ao olhar para elas,
de opiáceas flores, céus delas.
O mais era brisa e pólen e poções solares
em chuva astral suspensa num enternecimento impossível )

3 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia,Luiza

Indisinto o silêncio
Não ouviu as sandálias do vento
a espalhar o perfume das tílias
Era dia e os desertos,
sóis de olhar a morte,
como os passos sem regresso,
moviam-se parados nos céus.

As flores das tílias
moviam-se em doces perfumes
inefáveis, inextintos
inelutáveis,inebriantes
inequívocos e inexistentes
os desertos.
O mais era a voz da água
a bater na saudade
da pedra lume dos céus
sopro de zéfiro.

Um sorriso:)

Anónimo disse...

Ainda BomDia,

O rio não corre
para onde o destino
ousa chegar
vejo o meu ser parado
afastar-se em silêncio
para outro lugar...

luizaDunas disse...

Saudades,

Na aldeia dos meus pais no norte há uma Tília no centro do povo, em frente à nossa casa. É a única árvore central e com uma ramagem abundante, alberga inúmeros pássaros. No verão acordo com o acordar deles, são tantos a falar ao mesmo tempo, cumprimentam-se, combinam partidas, todos sem excepção numa disposição matinal contagiante. Não fosse ser tão cedo a maior parte das vezes tomaria com eles o pequeno almoço. Junto-me a eles mais tarde na varanda quando regressam do dia, novamente em grande excitação. Ao longo do dia ainda encontro vários deles nas minhas deambulações campestres. Estou em Lisboa mas estou lá, neste agora que te falo, onde te queria levar: à Tília. A princesa da lameira, como lhe chamo. Na minha adolescência colhia as flores para um saco de pano. À volta da Tília há uma argola que serve de assento e ponto de encontro, conversa e descanso. Quanto ao perfume, já sabes onde me leva, quando deixo ou desejo.

Muito bonitos os teus versos estivais das tílias e saudades.