O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 14 de junho de 2008

canção do pelicano - a camões

Com pés de barro e braços de cera,
Com a chave do ouro nas margens do Nilo,
Com pés de enxofre e braços de sal,
Com sete puras incisões e a luz em sangue

Derramando; com as entranhas em fogo
E a lagoa reclinada a ocidente,
Com a leve aragem que busca a tua mão sulina
E agita levemente as águas como quem chama por ti;


Caminharei, de olhos vendados ainda,
À sombra da estrela flamejante, nas asas cor de rosa
Do entardecer, no serpentino refluxo

De mercúrio. Palavra perdida no mapa astral,
Com os braços cruzados e as pernas recolhidas,
Como um deus numa semente: caminharei.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caminharei e entoarei esta canção...as margens do rio dar-me-ão o ritmo e, com Camões nos lábios, a "maior força saudosa desenvolvida sobre a terra", como diz Pascoaes, quebrarei a tampa de um sepulcro. Reencontrarei os que Amo e não estão esquecidos.
Que estranha sensação de já ter andado nesta paisagem...e canto e agradeço sorrindo

Paulo Borges disse...

Belo poema, Francisco ! Para onde te enviamos a Nova Águia ?

Abraço