O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A Plenitude

Instantes há em que, desprevenidos e sem intenções, livres dos hábitos mentais e emocionais, subitamente nos surpreendemos trespassados de um inefável sentimento de infinito, plenitude, felicidade, potência, luminosidade e liberdade. Não somos senão isso que sentimos e sabemos então, pela mais simples evidência, ser essa a realidade e verdade primeira, última e eterna de tudo. Porque nesses instantes a plenitude que sentimos é a plenitude, não a nossa irreal plenitude, mas a plenitude de todas as coisas. A plenitude que se sente sem cisão sujeito-objecto, a plenitude que se vê sem conceito, a plenitude em que corpo, sentidos, mente e consciência são tudo a testemunhar e celebrar sua eterna infinidade, perfeição e esplendor. Uma plenitude sem centro nem periferia, sem interior nem exterior, sem proprietário nem destinatário. Uma plenitude sem porquê nem para quê. A plenitude.

Paulo Borges, Da Saudade Como Via de Libertação, QuidNovi, 2008, p.87

10 comentários:

Kunzang Dorje disse...

Desejo-vos um Natal pleno de plenitude!! E que o Ano Novo vos traga Natais todos os dias...

Anónimo disse...

Instantes que quiséramos eternos!
Eternidades vividas no instante, sem porquê nem para quê, como que infantes saudosos do que se vê.
Saudade sem porquê nem para quê!

Natal em espírito e em plenitude e em sintonia com Tudo e Todos...

Pax

João de Castro Nunes disse...

Já estou com "saudades"... de agora mesmo! "Sem quê nem para quê"?... De modo algum. Tão-só porque "agora"... acaba de passar. Contingências! JCN

João de Castro Nunes disse...

"Assusta... sermos contingentes"

Prof. Amadeu Carvalho Homem

Intermitentemente, ao assumir
diversas outras personalidades,
Pessoa com as suas veleidades
é como se deixasse de existir.

Ora sendo uma, ora outra criatura,
despindo como a cobra a sua pele,
deixava por momentos de ser ele
embora não mudasse de figura.

Cada um de nós podia ser Pessoa
em face da tremenda contingência
que envolve a nossa cósmica existência.

Só que nem todos temos a coragem
de estilhaçar por dentro a nossa imagem
quando nos surge a névoa pela proa!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paulo Borges disse...

Desassinando-me, desejo a todos o Natal/Nascimento nessa Plenitude que não tem quem a diga ou contradiga!

Que a eterna e imensa Perfeição de tudo esplenda sempre em nós!

Anónimo disse...

Amigo Paulo,

"Que a eterna e imensa Perfeição de tudo esplenda sempre em nós!"

Obrigada.

rmf disse...

Obrigado, Kunzang.

Desejo plenamente retríbuido!

E na plenitude dos instantes que mais parecem eternidades, te envio, o voto sincero de Boas Festas!

Abraço, no meio da ponte!

Kunzang Dorje disse...

Abraço retribuído!