O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Livro de Horas de "Saudades-do-futuro"- Serpentes de Mar

(Para os da Serpente (e os do Jardim): Livro de Horas de Saudade. Horário e sabor das "poisagens" de alma. Livro das horas de uma entrega às Índias de Alma do Corpo alado dos Poetas não regressados. Poesia e Verdade?:))

"Serpente do Mar"


O Silêncio engole-me os desejos e um deus vivo entra na pele desse extremo arrepio. Corta o silêncio em dois uma fina navalha de bruma!


O que sinto e o que penso: poentes nascidos no avesso do ser. Por regressar!


Quem me dera morrer (me) na inocência azul de uma bola de frescura, na minha testa em febre! A Natureza de uma coroa na cabeça de uma Serpente.


A aura do mar levantou a beleza, a pedir perdão aos céus de dor tão supremamente bela!


Não posso sentir o que penso. Não posso dizer o que sinto. O Silêncio engole-me, como em uroboros(a) serenidade o mar aceita a luz nele entrada.


Uma luz entra nos poros, lisa, luminosa. Ir para onde sopra o vento ou dele desatar o nó que chia no apertar estreito da manhã. Um regresso para passados do futuro.


Escrever é uma paisagem das horas, uma companhia de solidão.


Há litanias na voz. O mar é uma maçã de vento. Não espera o sabor do dia. Há pomos que têm jardins na boca.


Uma baía é um mar fêmea. Atracam nela os barcos como horas de atraso no porto. Deitam-se os sóis, acordam os dias! Não há barcos para a Alegria! Vem ver-me dormir, tristeza! Literatura das horas!


Sem o Real existir não haveria matéria, nem sólida nem rarefeita, para construir castelos que suspendem o próprio ar, sem peso; nem haveria poemas para saudar as coisas que vivem na imaginação do Real.

Crescem nas suas asas: os sonhos! Vejo a aura do sol nas minhas costas!

Há palavras que se comem, outras, desaparecem esbatidas na paisagem, como cinza de neve a derreter no céu-da-boca húmido das palavras mais leves. Com essas e com as outras fazem-se barcas, que são nuvens, desfeitas: sopros de pétalas!

Os barcos estão há tanto tempo parados! As âncoras são poema condenados a navegar: Ulisses de uma Penélope longe dos barcos. As gaivotas atravessam o ar. O instante é perfeito.


Há vento entrado no pescoço do mar. Ainda a beleza da vida brota em luz!


Há um momento em que a vida transborda da taça da palavra. Que seja Azul, lápis-lazúli da alma. Quem tarda?!

A luz, ombro a ombro com o azul, inventa o horizonte. Há barcos desde a véspera. São recortes de não regresso, são poentes olhos na paisagem.

UM ANO CHEIO DE BELEZA, DE BONDADE E DE VERDADE!

FELIZ 2010!

10 comentários:

platero disse...

espero (egoísta)ser primeiro beneficiário de teus votos altruístas

Beijo - BOM 2010

Anónimo disse...

São do cor-ação,querido Platero!

Paulo Borges disse...

Querida Saudades, já tinha saudades da sua bela e sapiente palavra! E esta tanto aqui diz!

Um excelente Ano para todos!

Anónimo disse...

Não nos resta mais nada do que matá-las... a todas!
Um sorriso muito grato, Paulo.
Um ano pleno de realizações em prol do que de mais alto e mais belo sonhemos para a humanidade, para a terra e para o não lugar onde tudo isto acontece plenamente...
Morra a Saudade! Que viva a Saudade que nos liberta!

fas disse...

Um texto muito sugestivo e uma belíssima foto. Olha, sabes, o que mesmo desejo é um ano cheio de Saudades do Futuro.

Anónimo disse...

Pois é, "irmão" Soares. Estamos juntos n'Isso das Saudades do Futuro.
Bom ano para todos!

Isabel Santiago disse...

Passo por aqui para confirmar que tudo o que escreves me toca, me transparece...que ler-te é receber abraços no meu ser mais fundo. Obrigada por seres tão esplêndida morada. Muito bom ano!


Mas a todos, sem excepção, desejo o bem, a beleza e a grandeza de tudo o que o coração torna maior do que a vida e o tempo.

baal disse...

saudades chegaremos ítaca, virar à esquerda oceano atlântico, atlândida torre submersa à primeira babalada (babalada)?

saudades que bonito texto.

bom ano, e a todos os justos que somos.

Anónimo disse...

Este é um livro das Horas mágico que trouxe da distância do azul (dos seus pés azuis...) o anjo da Amizade nas mãos de Isabel,na Bondade, na Beleza e na transparência das suas palavras.

Um Bom ano, Isabel. O que for melhor para ti, será melhor para todos, pois que os desejos podem ser dom, dádiva, oferenda e cuidado.

Um óptimo ano queremos que seja e será,o de 2010, pois que saibamos sê-lo em nós recolhidos votos e desejos ardentes.

Anónimo disse...

baal,

Claro que seremos justos e caminharemos pela torre onde, entre gestos e cantigas, brindaremos ao novíssimo que aí vem a "babalar(se)".

Gosto de ter gostado.
Até à Atlântida da Alma!
Em breve. Torre 12:))