O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

METAMORFOSE A DOIS

(Camoneando)

Amámo-nos os dois intensamente
de tal maneira ou tanto que, de facto,
os nossos corações, a nossa mente
era uma apenas, mesmo sem contacto.

Nunca ninguém, suponho, assim terá
de parte a parte amado como nós:
nunca se viu nem nunca se verá
dois seres se falando a uma só voz.

O que um queria, o outro pretendia
de igual maneira e mesma intensidade
em plena consonância e harmonia.

Se acaso alguma vez no ser amado
se converteu quem ama, em paridade,
em nós o caso está... padronizado!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Coimbra, 6 de Dezembro de 2009.

2 comentários:

Estudo Geral disse...

Eu acho o soneto bem bonito.
E quem diria
que o amor perfeito,
afinal,
sempre existia.

platero disse...

Sim senhor

digno de Canto IX - ilha dos AMORES -
se não me trai a memória liceal

abraço