O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

"Que invisivel se vê" F.P.

"O incognoscível, porém, não tem nome e habita no coração do homem. Pólo, limite, impulso, são formas de dizer o que se não diz. Nomeá-lo é com efeito não apenas forçá-lo de algum modo à redutibilidade, mas sobretudo separá-lo de nós e correr aí o risco de lhe inventar uma morada que não é a sua. Porque se nomear é demominar o que se nomeia, é também separar isso que se nomeou e arriscarmo-nos a esquecer que fomos nós que nomeámos, ou seja, que criámos o momeado, que a existência do que existe fomos nós que a fizemos existir: foi porque esquecemos que criámos os deuses, que os deuses acabaram por nos criar a nós..."
Vergílio Ferreira, Espaço invisível 1, Bertrand Editora, pg.12

2 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Ser bom escritor... nem sempre é ser bom pensador. JCN

Paulo Borges disse...

Rara a palavra que não separa, na verdade...

Bem vinda!