O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

À flor da pele, a pele em flor

A flor da pele é o respir da alma debruçada no parapeito omnipresente dos poros escancarados para as lembranças sufocadas no porvir.

À janela está o sentir a haver, escorrendo-se em saudade pelos cabelos dourados das ondas inexistentes que, indo-se no nunca virem, trazem à praia, que tristes tragam, os olhares esquecidos dos areais do fado brasio de todos os quibires: sertão labirintado das áfricas de suassuna cumprindo-se imperador em pedra do reino no brasil de agostinho menino.

O império de ouro é a quinta núpcia de phílon e de sophia, em desnudo conúbio, infindos em sua viagem estática pelo oceano opalino da vidraça velhinha de pascoaes - esse irmão verdadeiro de caeiro, pseudo-verdadeiro pessoa de ninguém.

Aí, então, o azul dos pés reflectirá o céu da nova terra, amamentando o olhar branco da rainha do pão de rosas ... em flor na flor-de-lys: pele em flor de nós.

Donis de Frol Guilhade



Estas palavras têm em Saudades o jardim de sua raiz futura, têm o azul dos pés de oiro filosófico em Isabel Santiago, têm a maresia do silêncio nas Dunas de Luiza, têm nos demais o que têm, e têm por toda a parte a vastidão do abraço lusofânico em Paulo Borges, que nos irmana com as brisas de uma outra margem na grande perfeição do além e aquém vacuidade de "Todo o mundo-Ninguém".

A estes, e a todos os demais serpentinos, para quem, no nenhures do algures de si mesmos, o império em si queiram quinto-emplumar, e assim seja este o lugar - "a capella" imperfeita - de todo o dizer e contradizer mais afeiçoado, em todo o mais extreme conciliar e reconciliar.

Como se nada fosse, porque tudo vale a pena ...!

4 comentários:

Anónimo disse...

No dizer do poeta “ não há morte”. Não a há para o eternamente nascido. Não a há para a alma que de vasta e não pequena se alarga para alcançar o aqui e o além dela.
Uma”capella imperfeita” é uma reconciliação, pois vai em nós lavrar uma ideia que por não se ter fechado em si, em ogivas e arcos, em estradas e paisagens musicais, estelares notas de um canto alto; um canto de emplumar, se ergue sobre a nossa contemporaneidade, atravesando-o de uma luz nova: uma ponte, uma montanha; um livro aceso contra o céu; uma afeiçoada voz de emplumado e alado destino de pássaro na garganta do abismo. “Como se nada fosse”, porque a alma é grande e o rio corre do futuro para este lugar re.nascente, fonte quiçá de uma nova Aurora... “porque tudo vale a pena...!” E o Caminho da Serpente é o desafio, a tudo ultrapassar e atravessar, para ir, sem caminho, "além dele, Além de Deus.

Conciliando-se e reconciliando-se para ir onde não há caminho, estando nele.

João de Castro Nunes disse...

Para além de Deus... só há mesmo Deus! JCN

João de Castro Nunes disse...

Para além de Deus... só há mesmo Deus! JCN

João de Castro Nunes disse...

Sinto à flor da pele... o som dos violinos! JCN