O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 1 de agosto de 2008

a última palavra

Não é nunca a última

Paixão. Persiste,

Eco do sol a depor o dia

Sobre o musgo do planalto:

a

Orar

Em silêncio repetindo os nomes,

Mergulhados na distância dissolvida,

Asas paradas, repetindo os voos

Longitudinais

Junto aos rios

Que ainda não viram o mar;

O peso das águas, constritivo

Da resistência maleável das raízes

Na terra onde nascemos,

Vendados os olhos,

Cegos de caminhos

Que nunca se descobrem.

Não é nunca a última

A palavra.

6 comentários:

luizaDunas disse...

Nunca é cedo para uma primeira palavra,
vou até ao planalto e abeiro-me da lonjura, e sem dar nomes e por todos, oro. E findo sem uma única palavra. Sim, Francisco, a palavra nunca é última.

Anónimo disse...

Francisco,

...A última palavra, a que não nos pertence é muda.
Um sentimento grande de ternura por todas as palavras que cabem no teu coração e pela poesia e verdade que há nelas.

Um grande abraço de saudades...

PS... e não chegaste a sair do planalto para a planície...

platero disse...

não há última palavra
- a não ser um grito

abraço amigo

Anónimo disse...

...a que escreve, é aliás, geradora das mais belas e inesgotáveis em nós. E vêm cheias do silêncio que só o poeta conhece. E conhecê-lo é sê-lo. Os seus poemas são dos mais silenciosos e cheios de verdade que tenho lido. Agradeço muito o que escreve e o que mostra, mesmo e sempre por detrás do pano das sombras. Já ajudei muito a fazer teatro de sombras. Os alunos adoram e eu rejubilo com a alegria deles. Obrigada. Obrigada mesmo.

Semente disse...

Será a última palavra a de que quem lê?
Uma palavra muda, como diz a cara Saudade. Um som mudo de bater do coração, a palavra solta de uma voz desconhecida, a voz de quem lê...

Quem escreve poderá ter sempre a primeira palavra dentro de si, ou pode escrever no decorrer das palavras de alguém (lidas ou escutadas)...

Eu diria que não existe própriamente - A Primeira Palavra - e/ou - A Última Palavra -.
Não sei...

Acho mesmo que o principio e o fim não foram palavras, embora possam ser sons :)

Semente disse...

E eu gostava que a última palavra fosse um som. O do mar*