Entrei na casa. Deixei a brisa beijar a cortina de renda e o seu reflexo no soalho mover-se devagar. A porta dava para uma terraço e o terraço para uma larga praça e a praça dava para o mar. Assim, as sílabas claras elevadas até ao terraço formavam um bailado com as nuvens que subiam até ao ouvido da casa. A cor que se desprendia das flores do chá fazia efeitos de luz no fundo da chávena fumegante. Saboreei o momento de paz e não escrevi nessa linha fumegante. Encostei o ouvido ao pensamento para ouvir a voz dos mortos. Nos dedos de Gabriela poisou uma borboleta branca, tão leve que apenas se sentiu na sombra da parede. Ouvi. No andar de baixo, o meu pai desenhava pássaros num papel minúsculo.
Maria Sarmento -2002
«Esta casa, nos meus olhos que recolhem o último detalhe com a consciência do primeiro momento mais além, fez-se sempre de uma totalidade, e muitíssimas parcelas; a totalidade era a luz, caminho envolvente quando eu descansava aqui; essa luz tinha uma individualidade física tão doce que eu não sentia nenhuma distância entre mim e o que a escrita louvava.»
Gabriela Llansol
9 comentários:
Gostei muito Maria.
Disse a Maria: obrigada anónimo pela sua gentil presença e por saber estar neste espaço comum. Pois sempre fui educada num preceito para mim precioso: «Os ensinamentos que recebes cá em casa, devem ser mais atentamente seguidos, quando estás fora dela.»
Pois eu, desculpe a indelicadeza, acho este blogue completamente idiota, fui educada na franqueza em todos os sítios
Anónimo,
beijinho de uma idiota. Fui educada a amar tudo.
(excepto o nada, por impossibilidade do mesmo)
À Trança de Penélope emprestei os meus cabelos. A ti Maria, um sorriso imenso... para um Setembro Aberto... com saudades do futuro.
:)
Jade disse:
há entre Gabriela Llansol e Saudades um fio invisível, como haverá entre as duas e mais pessoas deste blog.E depois anda o Jade que passeia com a Saudades nos lagos e vê as garças e a beleza invisível da Maria e do que nela se solta como luz e voz.
Caro Anónimo (Jade disse:)
Eu também queria ser como a pedra de jade. Resistente. Que de mim se fizessem figuras, recortes, anéis. E queria que uma peça de jade feita de mim iluminasse com seu brilho verde, o sono dos irmãos. Queria levá-los às montanhas azuis que ficariam verde-esmeralda, a cor do jade imperial. E nesse fio de luz verde haveria uma fórmula simples de nos fazer seguir o rasto dos cavalos na neve. Chegaríamos tão longe que olharíamos para trás e veríamos deus a levantar a montanha com os nossos corpos em pedra para a margem do rio. Lá seríamos a pedra rasa de um silêncio cantante. A pedra-rio; a pedra eco; a nossa voz calada.
Obrigada pelas suas palavras.
Enviar um comentário