O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 19 de agosto de 2008

Canção da noite no baloiço


Para a Anita, esta canção de pernas para o ar, no baloiço do tempo que vai a girar, vai o Sol e a Lua...

Ontem à tardinha era quase dia e a noite suspendeu
Os olhos à procura do som que ainda havia, na noite vazia.
Entre estrela e canto, entre a serra e o mar se perdeu
O vaso onde, à tardinha, era tarde para o dia, e a voz se perdia
E a estrela guardada na arca do vento estremecia. Era o ar, era o dia

A girar as girândolas, as estrelas e as rosas de toucar
A canção da noite cantada, suspensa num lenço
De arder e de rir. Havia canções para quando o tempo
Viesse outra vez libertar a noite que vazia ria
Sem chegar nem partir nem faltar nem cair do chão do ar

Diadema de ouro suspenso na coroa da criança nascida
Ontem à tardinha, quase noite, quase dia, oculto havia
Pendurado na lua um baloiço de luz que a noite vinha
Empurrar como um berço, ao tempo. A mãe sonhava:
Ai que linda infanta que vai a voar, a soltar os sopros

Para lá da roseira que havia na casa, na casa suspensa
Na barca do tempo. Roseira de cantos virados para o mar
Caminhos de neve de pés azulados, na tarde dormente
Dos gestos cansados, rosados de amar. Ai que linda rosa
Que tarda em chegar, vem no pó da noite que deita o luar.

Ai que bela noiva para o dia noivo, que pé tão rosado
Que a fada madrinha dançará na noite da tarde tardinha
Que já cá chegou e esperou pela noite entrada na vinha
Da tristeza alegre da cara que tinha a coroada rainha
Fada que dormia, veio soprar-lhe o dia no jardim sonhado.

8 comentários:

Unknown disse...

:)) é pelo que falas que a terra com a lua roda sem hesitar para o sol, que eu sigo o sonho que sou sem me pre-ocupar... no rio eu confio.

Os teus vôos não são nada rasos (pelo que escreveste de ti ontem...), este i-mundo humano é que teima ainda em pôr-nos a ver tectos onde só há azul, e é nele que o teu poema voa livre, pois o céu és tu. ;)

Unknown disse...

- o céu que é o mar... -

Unknown disse...

Esta Senhora en-canta connosco...

http://br.youtube.com/watch?v=TeOhPR_0x8E&feature=related

:)

Anónimo disse...

Gentil Anita,

Vai nesses voos até onde te levar o coração. O da terra, o do Sol, o da Lua. Empurra sempre o baloiço do sonho e quando estiveres com a cabeça ao contrário, olha a paisagem e chegarás à casa das gaivotas... não precisas de bater, o azul não tem portas, é todo aberto ao vento e às marés. Lá acharás um anel perdido no fundo do mar. É lá que mora a menina do Mar. Lá encontrarás também a Sereia e o Rei. Ouve-o bem, pois ele é sábio e sabe escutar as canções que lhe trazes. Se tiveres sono, dorme encantada, que a vida em terra é mais pesada. Segue o baloiço e ao fim do nada encontra a flauta, segue a melodia acompanhada, deixa-te ir confiante nas águas. Ouve o teu coração. É deserto não é?

Unknown disse...

:) é... bem dizia o Paulo B. do meu nome... Anita significa ser nada... mas prefiro dizer que é mar - a deserto... português, foi dele que vim e que vou.*

Semente disse...

Só uma palavra: ENCANTADA!

Paulo Feitais disse...

É Anita, ser nada sendo tudo.
O resto das palavras fica a levedar para as próximas alvoradas.
:)

Unknown disse...

:) Olha Paulo, uma música linda para ti que és lindo... para adormecer ou para acordar.*

http://br.youtube.com/watch?v=MwQ4RKFjhbQ&feature=related