domingo, 30 de janeiro de 2011
Se levarem Vénus...
Mais um capítulo só para Clara distrair-se. Revejo textos antigos. O do diospiro encaixa no meu livro.
Clara chega sempre sorridente. Fala baixo. Ouve só o que quer.
- Então Ana?
Feliz, digo que escrevi, escrevi, escrevi, escrevi! Na estante todos meus desabafos (alguém conhecido assim condenou a minha escrita). Orgulhosa mostro quase 20 páginas A4.
Enquanto acomoda-se no sofá, faço um chá - Flores da Paixão – chá verde com rosas.
Clara avisou-me que ia apontar todos os erros. Aceito como um exercício de humildade.
- Ana, falta a ligação... Não estás a escrever só para ti. Nada é tão óbvio.
- hm
- E depois os diospiros não se descascam!
- Nunca os comi, apenas imaginei.
- Mas está errado amiga. O diospiro abre-se. Chupa-se.
- Deixa-me descacar a fruta Clara. Deixa-me dar dentadas na laranja.
- Eu deixo. Mas está mal. Olha, não te vou largar. Vou ser uma chata. Só vais alterar se achares bem. Mas não te vou poupar.
Hoje, David enviou-me uma mensagem a dizer que eu comesse o fruto como bem quisesse. Quando menos espero apetece-me morder um ananás com casca. Ferir os lábios, sangrar. No meio da dor o suco da fruta a fazer-me feliz.
- Quero mostrar-te a carta que escrevi a Cleo quando Gabriel saiu de casa. Quero expulsar a dor que resta. Importas-te?
- Claro que não.
Ontem, disseram-me que uma energia intrusa tomou conta da mim. Baco, Vénus, Sansão e Dalila moram comigo. Se os expulsar o que vai restar de mim?
Estou tão cansada desta convivência! Por isso, não resisto. Que venha à superfície o que sou.
Como sempre, sigo o meu impulso. Meu Deus que procuro eu? Mostrar que valho a pena? Esta modéstia mentirosa. Vou tirando o disfarce. Dalila não me cortes o cabelo!
A febre volta a tomar conta de mim. Deliro. Quero embebedar-me. Esquecer. Tirar a roupa, perder-me de desejo.
Se me levarem Vénus como vou existir?
- Ana. Acorda linda. Vai correr tudo bem. Contenta-te com o que tens.
Água salgada que limpa o meu rosto. Lágrimas uma seguir as outras. Na garganta um nó! Mãe aparece, dá-me o teu colo que eu hoje sou criança de novo. Faz de conta que me deixo engolir pela onda e tu dizes que sim. Não me puxes para norte mãe, eu quero o sul.
Olha meu corpo cheio de nódoas. Esta é a cor da dor mãe – roxa. Tem um som fundo, quase silencioso. Vem do estômago este grito que ninguém ouve.
Uma bofetada me acorda, Clara assustada, implora:
- Ana... Ana, ACORDA
Na minha face um sorriso mostra que a febre passou. Não sei qual o arquétipo que me ressuscita, sempre que beiro a loucura. Como se nada tivesse acontecido levanto.
No toca-discos Cássia canta:
“Antes de me despedir, o meu pedido final,
Não deixa o samba morrer, não deixa o samba acabar”
Clara pede a carta que escrevi a Cleo.
Lisboa, 15 de Junho de 2005
Querida Cleo,
Um dia ele chegou, abriu a porta e saiu. Eu ainda nem bem tinha começado a saber ajustar minhas omoplatas, adequar a postura correcta, saber inspirar e expirar. Não deu tempo porque a porta se fechava no meu movimento esquecido de respirar.
Na capoeira as galinhas correm para o milho, debicam um a um, gritam desassossegadas, abrem as asas e não voam. Ensurdecedor o ruído das galinhas na capoeira.
Fico pensando que prometi escrever, você está longe do outro lado do mar, lá onde os homens são mais baixos, olhos puxados, hábitos outros. Você está por aí tentando adivinhar se respiro. Confesso que tento, ai como tento fingir que tudo isto aconteceu para meu bem. E assim esotérica vejo na desgraça a luz.
A minha ginecologista diz que tenho quistos no colo do útero porque engoli as palavras e cultivei um jardim de bolinhas sebosas na entrada do meu sexo. Receitou florais de bach, um para o coração, outro para o sono e finalmente, outro para a timidez.. O do coração é para quem sofre de ciúmes e possessividade. Tão bem se ajusta a mim que sempre amei tomando posse do meu amado. O do sono é tão óbvio, serve para dormir! O da timidez para que eu me expresse. Parece que meus quistos assim explodem e dos meus lábios as palavras aparecerão a contar a minha dor.
O meu amor abriu a porta e saiu. Lá na casa dele, só entro se pedir autorização. Na geladeira dele as frutas e legumes fazem a festa. Almofadas cor de laranja, Bilal na parede a contar em quadrinhos, histórias de amor. Os discos – são tantos- ainda moram aqui, assim quando me viro à direita e vejo o passado, dos clássicos ao jazz, do rock ao pop, os meus brasileiros ainda desarrumados. Quando me visita vai à estante e tira um par de discos. Pouco a pouco a nossa história vai ficando sem peças.
Hoje, disse como está feliz. Abriu a porta de nossa casa, fechou e saiu. Lá na casa dele sozinho acorda quando quer. Se tem companhia para dar o bom dia não sei. Sei que na minha cama tomei seu lugar, me viro a direita e vejo o vazio. Por mais que me toque não vem o orgasmo, estou sozinha.
Da rua vejo sua janela, indiscreta adivinho sua rotina. Por vezes telefona-me e vamos ao supermercado. E assim os dois nos encontramos nos corredores das frutas e congelados. Tão grande foi o ultimo super que só lá voltaremos talvez daqui a dois meses. Assim, não sei que pretexto teremos para estarmos juntos de novo. Tão feliz está ele a viver sozinho.
Meu cunhado telefona e diz que temos de facturar, “Tu não estás motivada”. O informático aproveita e diz que seus erros são fruto da minha tristeza.
Fui trabalhar e doente fiquei, tão mal cabia naquele espaço. Prometi escrever, mas só lembro da porta fechando. Você que está aí desse lado do outro lado do mar adivinhando se ainda respiro. Eu te digo que por vezes me sonho no mar, por vezes me vejo na lama. Seja onde for espirro vezes sem conta porque estou alérgica ao ar.
Assim descanse que entre um espirro e outro vou respirando.
Clara devolve a carta. Calada, sempre calada me abraça. Não há o que corrigir nesse texto
Clara chega sempre sorridente. Fala baixo. Ouve só o que quer.
- Então Ana?
Feliz, digo que escrevi, escrevi, escrevi, escrevi! Na estante todos meus desabafos (alguém conhecido assim condenou a minha escrita). Orgulhosa mostro quase 20 páginas A4.
Enquanto acomoda-se no sofá, faço um chá - Flores da Paixão – chá verde com rosas.
Clara avisou-me que ia apontar todos os erros. Aceito como um exercício de humildade.
- Ana, falta a ligação... Não estás a escrever só para ti. Nada é tão óbvio.
- hm
- E depois os diospiros não se descascam!
- Nunca os comi, apenas imaginei.
- Mas está errado amiga. O diospiro abre-se. Chupa-se.
- Deixa-me descacar a fruta Clara. Deixa-me dar dentadas na laranja.
- Eu deixo. Mas está mal. Olha, não te vou largar. Vou ser uma chata. Só vais alterar se achares bem. Mas não te vou poupar.
Hoje, David enviou-me uma mensagem a dizer que eu comesse o fruto como bem quisesse. Quando menos espero apetece-me morder um ananás com casca. Ferir os lábios, sangrar. No meio da dor o suco da fruta a fazer-me feliz.
- Quero mostrar-te a carta que escrevi a Cleo quando Gabriel saiu de casa. Quero expulsar a dor que resta. Importas-te?
- Claro que não.
Ontem, disseram-me que uma energia intrusa tomou conta da mim. Baco, Vénus, Sansão e Dalila moram comigo. Se os expulsar o que vai restar de mim?
Estou tão cansada desta convivência! Por isso, não resisto. Que venha à superfície o que sou.
Como sempre, sigo o meu impulso. Meu Deus que procuro eu? Mostrar que valho a pena? Esta modéstia mentirosa. Vou tirando o disfarce. Dalila não me cortes o cabelo!
A febre volta a tomar conta de mim. Deliro. Quero embebedar-me. Esquecer. Tirar a roupa, perder-me de desejo.
Se me levarem Vénus como vou existir?
- Ana. Acorda linda. Vai correr tudo bem. Contenta-te com o que tens.
Água salgada que limpa o meu rosto. Lágrimas uma seguir as outras. Na garganta um nó! Mãe aparece, dá-me o teu colo que eu hoje sou criança de novo. Faz de conta que me deixo engolir pela onda e tu dizes que sim. Não me puxes para norte mãe, eu quero o sul.
Olha meu corpo cheio de nódoas. Esta é a cor da dor mãe – roxa. Tem um som fundo, quase silencioso. Vem do estômago este grito que ninguém ouve.
Uma bofetada me acorda, Clara assustada, implora:
- Ana... Ana, ACORDA
Na minha face um sorriso mostra que a febre passou. Não sei qual o arquétipo que me ressuscita, sempre que beiro a loucura. Como se nada tivesse acontecido levanto.
No toca-discos Cássia canta:
“Antes de me despedir, o meu pedido final,
Não deixa o samba morrer, não deixa o samba acabar”
Clara pede a carta que escrevi a Cleo.
Lisboa, 15 de Junho de 2005
Querida Cleo,
Um dia ele chegou, abriu a porta e saiu. Eu ainda nem bem tinha começado a saber ajustar minhas omoplatas, adequar a postura correcta, saber inspirar e expirar. Não deu tempo porque a porta se fechava no meu movimento esquecido de respirar.
Na capoeira as galinhas correm para o milho, debicam um a um, gritam desassossegadas, abrem as asas e não voam. Ensurdecedor o ruído das galinhas na capoeira.
Fico pensando que prometi escrever, você está longe do outro lado do mar, lá onde os homens são mais baixos, olhos puxados, hábitos outros. Você está por aí tentando adivinhar se respiro. Confesso que tento, ai como tento fingir que tudo isto aconteceu para meu bem. E assim esotérica vejo na desgraça a luz.
A minha ginecologista diz que tenho quistos no colo do útero porque engoli as palavras e cultivei um jardim de bolinhas sebosas na entrada do meu sexo. Receitou florais de bach, um para o coração, outro para o sono e finalmente, outro para a timidez.. O do coração é para quem sofre de ciúmes e possessividade. Tão bem se ajusta a mim que sempre amei tomando posse do meu amado. O do sono é tão óbvio, serve para dormir! O da timidez para que eu me expresse. Parece que meus quistos assim explodem e dos meus lábios as palavras aparecerão a contar a minha dor.
O meu amor abriu a porta e saiu. Lá na casa dele, só entro se pedir autorização. Na geladeira dele as frutas e legumes fazem a festa. Almofadas cor de laranja, Bilal na parede a contar em quadrinhos, histórias de amor. Os discos – são tantos- ainda moram aqui, assim quando me viro à direita e vejo o passado, dos clássicos ao jazz, do rock ao pop, os meus brasileiros ainda desarrumados. Quando me visita vai à estante e tira um par de discos. Pouco a pouco a nossa história vai ficando sem peças.
Hoje, disse como está feliz. Abriu a porta de nossa casa, fechou e saiu. Lá na casa dele sozinho acorda quando quer. Se tem companhia para dar o bom dia não sei. Sei que na minha cama tomei seu lugar, me viro a direita e vejo o vazio. Por mais que me toque não vem o orgasmo, estou sozinha.
Da rua vejo sua janela, indiscreta adivinho sua rotina. Por vezes telefona-me e vamos ao supermercado. E assim os dois nos encontramos nos corredores das frutas e congelados. Tão grande foi o ultimo super que só lá voltaremos talvez daqui a dois meses. Assim, não sei que pretexto teremos para estarmos juntos de novo. Tão feliz está ele a viver sozinho.
Meu cunhado telefona e diz que temos de facturar, “Tu não estás motivada”. O informático aproveita e diz que seus erros são fruto da minha tristeza.
Fui trabalhar e doente fiquei, tão mal cabia naquele espaço. Prometi escrever, mas só lembro da porta fechando. Você que está aí desse lado do outro lado do mar adivinhando se ainda respiro. Eu te digo que por vezes me sonho no mar, por vezes me vejo na lama. Seja onde for espirro vezes sem conta porque estou alérgica ao ar.
Assim descanse que entre um espirro e outro vou respirando.
Clara devolve a carta. Calada, sempre calada me abraça. Não há o que corrigir nesse texto
Mais uma de António Maria Lisboa: "Cadame" (excertos)
A vida é bela • comecemos
Primeiro: o maior descanso
Segundo: a maior liberdade
Terceiro: o tratar-se dos pés
Quarto: queimar
António Maria Lisboa (em co-autoria com Mário Cesariny), excertos de "Cadame", in Poesia de António Maria Lisboa, Assírio & Alvim, Lisboa, 1977, pág. 124.
sábado, 29 de janeiro de 2011
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Descobrir Buda, hoje, já!
Descobrir Buda, o meu último livro, vai ser apresentado hoje, 28 de Janeiro, 6ª feira, pelas 18.30, na FNAC - Chiado, pelo Prof. Dr. Carlos João Correia (Departamento de Filosofia da Universidade de Lisboa).
Sejam bem vindos!
"O presente livro visa dar a conhecer alguns aspectos fundamentais da via do Buda ou do Despertar da nossa potencialidade ou natureza profunda. Pela sabedoria que nele possa transparecer, não nossa, mas vinda dessa natureza encoberta em todos os seres sencientes, a maior aspiração ao publicá-lo é contribuir para que ela se descubra em todos nós. Daí o título: Descobrir Buda. Com efeito, seja qual for o nome que lhe dermos, que haverá de mais importante do que desencobrir isso de mais fundo que tantas vezes, nos momentos culminantes das nossas vidas, pressentimos ou vislumbramos residir em nós e em tudo? Algo infinitamente livre, sábio e bondoso, apenas velado pela percepção de uma separação entre nós e os outros, entre nós e o mundo, e pelo medo daí resultante, que origina todas as egocêntricas tendências inconscientes, o apego e a aversão que se combinam em todo o tipo de emoções perturbadoras e conceitos, incluindo os budistas. Descobrir(-se) Buda, remover os véus que encobrem o que realmente somos e deixar que isso se manifeste plenamente, numa espontaneidade benéfica para todos os seres, é na verdade o único fim de todo o estudo e prática do chamado “budismo”, que neste sentido, mais do que uma filosofia ou religião, é uma via para nos libertarmos de todas as ilusões e cumprirmos o intemporal preceito, comum a Ocidente e Oriente: torna-te o que és" - Paulo Borges
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
obstáculos
moram comigo
dizem bom dia
às vezes com pressa
vivo com eles
desde criança
devagar, muito devagar
dou conta de cada um
quando os reconheço
agradeço-os pelo nome
feliz de os poder abraçar
e desejar boa viagem
Finalmente, o regresso do grande PAN!
http://pan-cultura.blogspot.com/2011/01/partido-pelos-animais-e-pela-natureza-e.html
Há finalmente em Portugal um partido inteiro, pelo bem de tudo e de todos, animais humanos, não-humanos e natureza da qual em comum dependemos! Bem hajam todos os que contribuíram para as 9259 assinaturas e os cerca de 50 000 apoiantes.
Associem-se a esta mudança da política portuguesa, a maior novidade desde o 25 de Abril de 1974.
Pré-inscrições: http://partidoanimaisnatureza.com/pre-inscricao-no-pan.html
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
MELODIA
calam silenciosas as pedras
montanha que nos alcança
sem pressa,voam gaivotas
nasce outra flor, sem dono.
abraço teu corpo no meu
antes que seja noite
melodia que se repete
pausa que tarda
promessa de novo compasso
dança enquanto a noite
se alonga no amanhecer
e eu te diga adeus
outra vez
outra vez
sem valor
Qual é o problema da raiva, da ansiedade, do desespero, da tristeza e da dor ?
Não se trata aqui de defender com o cristianismo dizendo: "todo o sofrimento é bom, (ainda que visto de um certo modo)" ou "sofrer faz bem, (ainda que analisado num certo sentido)" e, do mesmo modo, também não se pretende, com este pensar, chamar até nós um certo marquês. Contudo, não poderemos, também, aceitar acriticamente relações/estados que orientam a nossa vida tais como esses que estabelecemos com a raiva, a ansiedade, o desespero, a tristeza ou a dor e, com isto, declarar guerra aberta a todo o tipo de estados "menos bons", "moralmente inferiores" ou que de "origem educacional dúbia".
A literatura erudita (entenda-se livros de cariz investigativo) sabe-o bem, a restante massificada nem por isso, que raiva, ansiedade, desespero, tristeza, dores, e todos os estados a que habitualmente chamamos negativos, são-no de acordo com as circunstâncias (notemos aqui, que não estamos a referir, com o cristianismo, que todo o sofrimento é bom, ou que todo o sofrer faz bem, de acordo com determinadas circunstâncias - pois que o quantificador universal, é demasiado abrangente), a gravidade prende-se com o fundamento último, ético, que nos leva a considerar a ansiedade como um mal, ou a ansiedade como um bem, em determinadas circunstâncias.
Procura-se a batuta, o pêndulo em nome do qual, se oscila entre aquilo que "é bom", e aquilo que "é mau".
Procuramos um fundamento? Tal parece-nos uma quimera e não mais do que isso pois atrever-me-ia a dizer: "Daí-me um fundamento, e dar-vos-ei prova da sua falência num caso particular" - pois que quererá um fundamento ser, tão só, regra generalizada ? Procuramos um penúltimo fundamento? E aí não estamos mais do que a colocar tartarugas sobre o Mundo.
Atualmente conduzimos as nossas decisões, decisões graves na nossa e na vida dos que nos rodeiam, com base numa "guerra aberta" a estes "estados negativos" quando, negligentemente, nos recusamos a um pensar franco, acerca deles.
Uma ética das virtudes responderá com uma lista de "boas" virtudes e suponhamos que tal lista se encontra num qualquer acordo, será um acordo, requisito bastante de um fundamento? Isto é, mesmo numa ética das virtudes, exige-se o fundamento que a sustente.
A propósito: de onde nos vem esta ideia de um "pensar franco", porque raio, se procura a franqueza? Qual a égide dos valores em nós impregnados?
Não se trata aqui de defender com o cristianismo dizendo: "todo o sofrimento é bom, (ainda que visto de um certo modo)" ou "sofrer faz bem, (ainda que analisado num certo sentido)" e, do mesmo modo, também não se pretende, com este pensar, chamar até nós um certo marquês. Contudo, não poderemos, também, aceitar acriticamente relações/estados que orientam a nossa vida tais como esses que estabelecemos com a raiva, a ansiedade, o desespero, a tristeza ou a dor e, com isto, declarar guerra aberta a todo o tipo de estados "menos bons", "moralmente inferiores" ou que de "origem educacional dúbia".
A literatura erudita (entenda-se livros de cariz investigativo) sabe-o bem, a restante massificada nem por isso, que raiva, ansiedade, desespero, tristeza, dores, e todos os estados a que habitualmente chamamos negativos, são-no de acordo com as circunstâncias (notemos aqui, que não estamos a referir, com o cristianismo, que todo o sofrimento é bom, ou que todo o sofrer faz bem, de acordo com determinadas circunstâncias - pois que o quantificador universal, é demasiado abrangente), a gravidade prende-se com o fundamento último, ético, que nos leva a considerar a ansiedade como um mal, ou a ansiedade como um bem, em determinadas circunstâncias.
Procura-se a batuta, o pêndulo em nome do qual, se oscila entre aquilo que "é bom", e aquilo que "é mau".
Procuramos um fundamento? Tal parece-nos uma quimera e não mais do que isso pois atrever-me-ia a dizer: "Daí-me um fundamento, e dar-vos-ei prova da sua falência num caso particular" - pois que quererá um fundamento ser, tão só, regra generalizada ? Procuramos um penúltimo fundamento? E aí não estamos mais do que a colocar tartarugas sobre o Mundo.
Atualmente conduzimos as nossas decisões, decisões graves na nossa e na vida dos que nos rodeiam, com base numa "guerra aberta" a estes "estados negativos" quando, negligentemente, nos recusamos a um pensar franco, acerca deles.
Uma ética das virtudes responderá com uma lista de "boas" virtudes e suponhamos que tal lista se encontra num qualquer acordo, será um acordo, requisito bastante de um fundamento? Isto é, mesmo numa ética das virtudes, exige-se o fundamento que a sustente.
A propósito: de onde nos vem esta ideia de um "pensar franco", porque raio, se procura a franqueza? Qual a égide dos valores em nós impregnados?
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
HOJE, 3ª feira, 25, 18.30, FNAC - CHIADO - apresentação do nº2 da Cultura ENTRE Culturas
O nº 2 da revista Cultura ENTRE Culturas será apresentado no dia 25 de Janeiro, pelas 18.30, na FNAC - Chiado, pelo Prof. Dr. António Cândido Franco (Univ. Évora), bem como pelo Director, Paulo Borges, e pelo Director artístico, Luiz Pires dos Reys.
Este número tem como tema "Encontro Ocidente-Oriente" e publica ensaio, poesia, fotografia e pintura.
Colaboradores nacionais: Carlos João Correia, Paulo Borges, Rui Lopo, Ricardo Ventura, Duarte Braga, Maria Sarmento, Ethel Feldman, Sylvia Beirute, Donis de Frol Guilhade, Flávio Lopes da Silva, Miguel Gullander, Miguel Real e Abdul Cadre. Colaboradores estrangeiros: pintor Rômulo de Andrade (Brasil), fotógrafo João Paulo Farkas (Brasil), Dzongsar Khyentse Rinpoche (Butão), monge e cientista Matthieu Ricard (França-Nepal), professores Françoise Bonardel (Sorbonne - França) e Giangiorgio Pasqualotto (Universidade de Pádua - Itália), poeta Vicente Franz Cecim (Brasil), psicólogo Sam Cyrous (Uruguai-Brasil).
A revista publica ainda poesia e textos de Raimon Pannikar, Rumi, Longchenpa, Simeão, o Novo Teólogo, T. S. Eliot e Vergílio Ferreira, bem como dois textos do recentemente falecido pensador António Telmo, entre eles o último que escreveu e deixou inédito.
Uma revista de Todo o Mundo.
arevistaentre.blogspot.com
O próximo número é dedicado a Fernando Pessoa, com um caderno especial sobre Fernando Pessoa e o Oriente, contendo muitos inéditos transcritos do espólio.
À venda nas melhores livrarias do país e na Livraria Couceiro (Santiago de Compostela).
Assinaturas:
Pedidos à editora: 1 Ano (2 números) / 2 Anos (4 números) Portugal: € 30.00 / € 55.00; Europa: € 35.00 / € 65.00; Extra-Europa: € 40.00 / € 75.00.
Pagamento: cheque ou transferência bancária
Âncora Editora - Avenida Infante Santo 52 - 3º esq. 1350-179 Lisboa
tel + 351 213 951 223 fax + 351 213 951 222
e-mail: ancora.editora@ancora-editora.pt
web http://www.ancora-editora.pt
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Eleições Presidenciais de 2011. Comentário e exortação
1 – Os resultados das eleições presidenciais de 2011, com um recorde de abstenções (53,37%), de votos em branco (4,26%) e votos nulos (1, 93%), e com inadmissíveis dificuldades burocráticas (!) que impediram milhares de cidadãos de exercer o seu direito de voto, confirma estarmos numa fase crítica da democracia em que, devido ao descrédito da vida política traduzido na abstenção massiva, uma minoria de votantes (2 230 104, menos de 25% dos 9 629 630 eleitores inscritos) fez eleger o seu candidato à primeira volta. O candidato eleito, Professor Aníbal Cavaco Silva, deveria ter isto em conta na sua consciência e no seu discurso e ter a humildade de não proclamar sem mais que o eleitorado mostrou claramente o presidente que quer. Todas as leituras dos resultados eleitorais se alteram quando se considera que a abstenção, os votos brancos e nulos também traduzem, embora pela negativa, uma intenção, uma disposição e um estado de consciência que um Presidente de “todos os portugueses” não pode ignorar. Nem ele, nem as forças e os comentadores políticos.
2 – O que os resultados eleitorais claramente mostram é que, da minoria dos votantes (4 489 904, apenas 46,63% dos possíveis), a maioria preferiu manter o status quo e, com medo da mudança, deixar Portugal na mesma, apesar de ninguém parecer estar contente com o estado actual da nação.
3 – Se o aumento das abstenções traduz o aumento da indiferença, da recusa do sistema e/ou da descrença na importância deste acto eleitoral e na vida política em geral, o aumento dos votos em branco (191 159 - 4, 26%) e dos votos nulos (86 543 - 1, 93%), que respectivamente mais do que triplicaram e mais do que duplicaram, mostra o aumento do protesto activo contra o actual estado de coisas e o não reconhecimento activo de uma franja considerável de cidadãos nas propostas de qualquer um dos candidatos.
4 – Ao mesmo tempo, a votação histórica no Doutor Fernando Nobre (593 868 – 14, 12%), o único candidato em nome da pura cidadania, sem vida política anterior e independente de qualquer partido, mostra que uma franja ainda mais considerável dos eleitores não se reconhece nas actuais propostas partidárias e deseja uma alternativa às mesmas.
5 – A meu ver, essa alternativa, no momento crítico que o planeta Terra atravessa, só pode passar por um projecto político que tenha a ética e a ciência no seu fundamento e não separe os problemas humanos do modo como o homem se relaciona com a natureza e os demais seres vivos, obedecendo a um novo paradigma holístico que vise o bem dos animais humanos e não-humanos e a harmonia ecológica da qual todos dependem.
6 – Como é público, assumo que esse projecto é o PAN (Partido pelos Animais e pela Natureza), que encarna um novo paradigma mental, ético e civilizacional e, enquanto partido inteiro, que visa o bem de tudo e todos, constitui a maior novidade na política portuguesa desde o 25 de Abril. Trata-se de um partido que assume no centro das suas preocupações a mudança na relação do homem consigo mesmo, com os seres vivos e com a natureza, colocando-se ao lado daqueles que são os mais oprimidos, violentados e desfavorecidos no actual fim de ciclo de uma civilização em que a tecnologia e a economia postas ao serviço do produtivismo e do consumismo ávidos e cegos fazem uma multidão de vítimas: pobres, idosos e animais, além da devastação dos recursos naturais e da degradação do meio ambiente que nos lesam a todos. Defender a natureza, o meio ambiente e os animais não humanos é defender o homem, não fazendo qualquer sentido separar as duas esferas de interesses. A luta contra todas as formas de discriminação, opressão e exploração do homem pelo homem deve ampliar-se à libertação dos animais e à defesa da natureza e do meio ambiente, sem o que perde fundamentação, coerência e valor ético. Ao agredir a natureza e os animais o homem agride-se a si próprio, como é evidente nas consequências desastrosas da agropecuária intensiva e da indústria da carne para a saúde dos homens, o bem-estar dos animais e o equilíbrio ecológico. A actual economia de mercado deve ser reconvertida para o bem social, animal e ecológico.
7 – Neste momento crítico da nossa vida nacional, e em vez de cedermos à indiferença, ao desalento e ao pessimismo, exorto a que todos conheçam a Declaração de Princípios e Objectivos do PAN - http://www.partidoanimaisnatureza.com/declaracao-de-principios.html - , que assume um vasto leque de propostas, também ao nível da saúde, da cultura, da educação e das relações internacionais, para fazermos uma vez mais de Portugal um país moderno e pioneiro, que aposte na Lusofonia como abertura à universalidade multicultural e integre em si o melhor que haja em todo o mundo. Apelo a que contribuam com a vossa reflexão e propostas críticas para o aperfeiçoamento do documento e o divulguem, de modo a que mais amigos se juntem aos cerca de 50 000 apoiantes e simpatizantes deste projecto e ele possa crescer como bola de neve como a grande alternativa que é à política e aos políticos do passado. Deixando uma vez mais para trás os Velhos do Restelo, é a Hora de partirmos para a grande e Nova Descoberta.
Saudações fraternas!
Paulo Borges
24.1.2011
2 – O que os resultados eleitorais claramente mostram é que, da minoria dos votantes (4 489 904, apenas 46,63% dos possíveis), a maioria preferiu manter o status quo e, com medo da mudança, deixar Portugal na mesma, apesar de ninguém parecer estar contente com o estado actual da nação.
3 – Se o aumento das abstenções traduz o aumento da indiferença, da recusa do sistema e/ou da descrença na importância deste acto eleitoral e na vida política em geral, o aumento dos votos em branco (191 159 - 4, 26%) e dos votos nulos (86 543 - 1, 93%), que respectivamente mais do que triplicaram e mais do que duplicaram, mostra o aumento do protesto activo contra o actual estado de coisas e o não reconhecimento activo de uma franja considerável de cidadãos nas propostas de qualquer um dos candidatos.
4 – Ao mesmo tempo, a votação histórica no Doutor Fernando Nobre (593 868 – 14, 12%), o único candidato em nome da pura cidadania, sem vida política anterior e independente de qualquer partido, mostra que uma franja ainda mais considerável dos eleitores não se reconhece nas actuais propostas partidárias e deseja uma alternativa às mesmas.
5 – A meu ver, essa alternativa, no momento crítico que o planeta Terra atravessa, só pode passar por um projecto político que tenha a ética e a ciência no seu fundamento e não separe os problemas humanos do modo como o homem se relaciona com a natureza e os demais seres vivos, obedecendo a um novo paradigma holístico que vise o bem dos animais humanos e não-humanos e a harmonia ecológica da qual todos dependem.
6 – Como é público, assumo que esse projecto é o PAN (Partido pelos Animais e pela Natureza), que encarna um novo paradigma mental, ético e civilizacional e, enquanto partido inteiro, que visa o bem de tudo e todos, constitui a maior novidade na política portuguesa desde o 25 de Abril. Trata-se de um partido que assume no centro das suas preocupações a mudança na relação do homem consigo mesmo, com os seres vivos e com a natureza, colocando-se ao lado daqueles que são os mais oprimidos, violentados e desfavorecidos no actual fim de ciclo de uma civilização em que a tecnologia e a economia postas ao serviço do produtivismo e do consumismo ávidos e cegos fazem uma multidão de vítimas: pobres, idosos e animais, além da devastação dos recursos naturais e da degradação do meio ambiente que nos lesam a todos. Defender a natureza, o meio ambiente e os animais não humanos é defender o homem, não fazendo qualquer sentido separar as duas esferas de interesses. A luta contra todas as formas de discriminação, opressão e exploração do homem pelo homem deve ampliar-se à libertação dos animais e à defesa da natureza e do meio ambiente, sem o que perde fundamentação, coerência e valor ético. Ao agredir a natureza e os animais o homem agride-se a si próprio, como é evidente nas consequências desastrosas da agropecuária intensiva e da indústria da carne para a saúde dos homens, o bem-estar dos animais e o equilíbrio ecológico. A actual economia de mercado deve ser reconvertida para o bem social, animal e ecológico.
7 – Neste momento crítico da nossa vida nacional, e em vez de cedermos à indiferença, ao desalento e ao pessimismo, exorto a que todos conheçam a Declaração de Princípios e Objectivos do PAN - http://www.partidoanimaisnatureza.com/declaracao-de-principios.html - , que assume um vasto leque de propostas, também ao nível da saúde, da cultura, da educação e das relações internacionais, para fazermos uma vez mais de Portugal um país moderno e pioneiro, que aposte na Lusofonia como abertura à universalidade multicultural e integre em si o melhor que haja em todo o mundo. Apelo a que contribuam com a vossa reflexão e propostas críticas para o aperfeiçoamento do documento e o divulguem, de modo a que mais amigos se juntem aos cerca de 50 000 apoiantes e simpatizantes deste projecto e ele possa crescer como bola de neve como a grande alternativa que é à política e aos políticos do passado. Deixando uma vez mais para trás os Velhos do Restelo, é a Hora de partirmos para a grande e Nova Descoberta.
Saudações fraternas!
Paulo Borges
24.1.2011
domingo, 23 de janeiro de 2011
AULA PRÁTICA SOBRE COMO ACENDER O lume
terminadas ELEIÇÕES
- você perdeu?
- votou no Cava - co errado?
- faça por ganhar alguma coisa
- lembra-se da utilização de pratas para atear fogo nas BRASEIRAS?
- pois bem, seguindo esse princípio, experimente socorrer-se de uma telha de cano como auxiliar
(posso garantir-lhe precioso) para acender o seu lume de chão.
- não arrisca nada, e pode ganhar alguma coisa neste dia de eleições
"Ninguém tem necessidade de ir para qualquer outro lado. Todos nós já lá estamos; só falta sabermos que de facto assim é"
"Ninguém tem necessidade de ir para qualquer outro lado. Todos nós já lá estamos; só falta sabermos que de facto assim é. Se eu soubesse realmente quem sou, deixaria de proceder como a pessoa que julgo ser e, se eu deixasse de proceder como a pessoa que suponho ser, saberia quem sou. O que de facto sou - isto se o maniqueu que eu julgo ser me deixar descobrir o que realmente sou - a reconciliação do sim e do não, subsistindo em aceitação total e na abençoada experiêencia do Não-Dois. Em matéria de religião, todas as palavras são obscenas. Toda a criatura que discorre eloquentemente acerca de Buda, de Deus ou de Cristo, merecia que lhe desinfectassem a boca com fenol.
Em virtude da sua aspiração a perpetuar unicamente o sim em todos os pares de coisas antagónicas, o maniqueu que julgo ser não poderá jamais realizar-se na natureza das coisas; condena-se a si próprio a uma frustração incessantemente repetida; a conflitos incessantemente repetidos com outros maniqueus igualmente ambiciosos e frustrados.
Conflitos e frustrações - eis o tema de toda a história e de quase todas as biografias. "Mostrar-te-ei a tristeza" - eis uma frase realista do Buda. Mas ele mostrou igualmente o termo dessa tristeza - o autoconhecimento de cada um, a abençoada experiência do Não-Dois"
- Aldous Huxley, A Ilha, Lisboa, Livros do Brasdil, 1999, pp.48-49.
sábado, 22 de janeiro de 2011
"De todas as coisas que fiz, numa vida comprida como a minha, a melhor foi fazer amor, [...] porque através de um corpo está todo o universo"
- Da esquerda para a direita: Délio Vargas, Artur do Cruzeiro Seixas, Paulo Borges, Alexandre Vargas e António Cândido Franco.
"De todas as coisas que fiz, numa vida comprida como a minha, a melhor foi fazer amor, fazer amor com pessoas, tocar com as mãos um corpo, porque através de um corpo está todo o universo. Isso é o mais importante, muito mais do que a pintura, a arte, os intelectuais, os livros, essas coisas todas" - Artur do Cruzeiro Seixas (citação de memória), no final de um video ontem projectado no Botequim da Graça, na apresentação do livro de António Cândido Franco, Teixeira de Pascoaes nas palavras do surrealismo em português.
Uma noite histórica, acima documentada, com a presença do próprio Cruzeiro Seixas, que será entrevistado e publicará obras suas no nº4 da Cultura ENTRE Culturas.
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
Acabou-se o óleo na lamparina
Mas... eis a lua
que entra pela janela
- Matsuo Bashô
Mas... eis a lua
que entra pela janela
- Matsuo Bashô
HOJE (parte II)
Hoje acordei no verbo não.
Hoje não gosto de vegetais,
não quero saber dos animais.
Hoje não sou contra o roubo nos salários
não sou contra os prémios milionários.
Hoje não condeno o rico ilícito
o esbanjamento ou desperdício.
Hoje, não me indigno com a fuga ao fisco,
com os carros nas garagens abastadas,
ou com as contas recheadas.
Hoje não digo não à corrupção,
aos milhões que se lavam com as mãos.
Hoje não sou contra a tourada,
não me choca a massa humana,
esfomeada.
Hoje não reparo na Ignorância,
nos maus tratos na infância.
Hoje não penso na surdez e na rudeza
Com que abatem a Natureza.
Hoje não escuto os apelos e os clamores
de quem sofre de várias dores.
Hoje não me revolto, não protesto
Hoje não me indigno,
Hoje não choro.
Hoje não. Amanhã? Não sei, logo se vê.
Ou não!
Hoje não gosto de vegetais,
não quero saber dos animais.
Hoje não sou contra o roubo nos salários
não sou contra os prémios milionários.
Hoje não condeno o rico ilícito
o esbanjamento ou desperdício.
Hoje, não me indigno com a fuga ao fisco,
com os carros nas garagens abastadas,
ou com as contas recheadas.
Hoje não digo não à corrupção,
aos milhões que se lavam com as mãos.
Hoje não sou contra a tourada,
não me choca a massa humana,
esfomeada.
Hoje não reparo na Ignorância,
nos maus tratos na infância.
Hoje não penso na surdez e na rudeza
Com que abatem a Natureza.
Hoje não escuto os apelos e os clamores
de quem sofre de várias dores.
Hoje não me revolto, não protesto
Hoje não me indigno,
Hoje não choro.
Hoje não. Amanhã? Não sei, logo se vê.
Ou não!
21
No dia de hoje, partiste. Um ano, ou ontem?
Serenei em mim as lágrimas que já não sei chorar.
Teimo em não recordar, recuso o sentir, a minha saudade.
Não vais voltar, só nos meus sonhos.
É aí, nesse espaço que te encontro
nesse tempo, que escuto,
sábias palavras.
Nesse tempo, eu deito a minha cabeça no teu colo
escuto o teu respirar, sinto o teu afagar.
Nesse tempo, escuto a tua voz, em muitos tons,
quando chamas o cão, "anda, anda comer"
ou a galinha,"piu piu piu",
que morreu de velha.
Quando falas à terra, às árvores,
quando me olhas e perguntas o que quero almoçar.
Caminhas, devagar, tão devagar.
O cágado de estimação fugiu pelo quintal, para outras paragens talvez.
Sorrio quando te vejo caminhar, o som dos teus passos.
Apetece-me sopa de tomate à alentejana, só com tomate e ovo, não quero pão...
Tem um sabor diferente, neste prato estalado e velho. Tem a tua mão, o teu tempero.
Aprendi contigo o arroz doce, sempre muito doce.
Amargo, um amargo,
no fundo de mim,
uma dor e um soluço porque perdi,
o som dos teus passos,
o branco do teu cabelo,
o calor do teu afago,
a tua voz.
Não existes já, só nos meus sonhos. E ainda no meu lembrar.
Serenei em mim as lágrimas que já não sei chorar.
Teimo em não recordar, recuso o sentir, a minha saudade.
Não vais voltar, só nos meus sonhos.
É aí, nesse espaço que te encontro
nesse tempo, que escuto,
sábias palavras.
Nesse tempo, eu deito a minha cabeça no teu colo
escuto o teu respirar, sinto o teu afagar.
Nesse tempo, escuto a tua voz, em muitos tons,
quando chamas o cão, "anda, anda comer"
ou a galinha,"piu piu piu",
que morreu de velha.
Quando falas à terra, às árvores,
quando me olhas e perguntas o que quero almoçar.
Caminhas, devagar, tão devagar.
O cágado de estimação fugiu pelo quintal, para outras paragens talvez.
Sorrio quando te vejo caminhar, o som dos teus passos.
Apetece-me sopa de tomate à alentejana, só com tomate e ovo, não quero pão...
Tem um sabor diferente, neste prato estalado e velho. Tem a tua mão, o teu tempero.
Aprendi contigo o arroz doce, sempre muito doce.
Amargo, um amargo,
no fundo de mim,
uma dor e um soluço porque perdi,
o som dos teus passos,
o branco do teu cabelo,
o calor do teu afago,
a tua voz.
Não existes já, só nos meus sonhos. E ainda no meu lembrar.
HOJE
Hoje,
apetece-me ser a antítese de tudo o que defendo.
Hoje não quero ser amiga, compassiva
simpática e sorrisos.
Hoje não quero pensar, quero antes mergulhar
na indiferença
na anestesia
no conformismo.
Voltar costas ao sofrimento alheio,
à luta.
Vou deixar de acreditar,
baixar os braços,
obedecer sem questionar
e continuar a caminhar, vazia do pensar, vazia do sentir,
entrar em modo automático,
para não sofrer.
Amanhã, quem sabe, volto ao normal.
apetece-me ser a antítese de tudo o que defendo.
Hoje não quero ser amiga, compassiva
simpática e sorrisos.
Hoje não quero pensar, quero antes mergulhar
na indiferença
na anestesia
no conformismo.
Voltar costas ao sofrimento alheio,
à luta.
Vou deixar de acreditar,
baixar os braços,
obedecer sem questionar
e continuar a caminhar, vazia do pensar, vazia do sentir,
entrar em modo automático,
para não sofrer.
Amanhã, quem sabe, volto ao normal.
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Anuncio ao mundo a minha guerra
As minhas palavras de ponta e mola
O meu sangue que não é sangue nem é coisa nenhuma
Os meus poemas imperfeitos mais que imperfeitos
A música que não passou por boca alguma
Anuncio aos céus que saio daqui sem algemas
Que o ridículo aqui sou eu
A abrir portas
A fechar portas
A abrir e a fechar portas
Roubar aos mortos o que a vida nos roubou
Para no fim dizer a cantar e a sangrar
Com as mesmas águas que me fizeram nascer
Que as minhas lágrimas têm direitos reservados
E que nenhum Deus breve (ou tonto)
Pense fazer chuva com elas!
As minhas palavras de ponta e mola
O meu sangue que não é sangue nem é coisa nenhuma
Os meus poemas imperfeitos mais que imperfeitos
A música que não passou por boca alguma
Anuncio aos céus que saio daqui sem algemas
Que o ridículo aqui sou eu
A abrir portas
A fechar portas
A abrir e a fechar portas
Roubar aos mortos o que a vida nos roubou
Para no fim dizer a cantar e a sangrar
Com as mesmas águas que me fizeram nascer
Que as minhas lágrimas têm direitos reservados
E que nenhum Deus breve (ou tonto)
Pense fazer chuva com elas!
Convocatória
Precisa-se urgentemente de uma nova geração de amigos da realidade, que adorem ver as coisas como são, para além de todos os juízos e conceitos, e que amem imparcial e incondicionalmente todos os seres e tudo, homens, animais e todas as vidas invisíveis, o ar, a água, a terra, o fogo, o planeta, o inteiro universo.
Tu podes ser um deles! Precisamos urgentemente de ti!
Tu podes ser um deles! Precisamos urgentemente de ti!
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Altar
(Para a Luíza Dunas, em gratidão.)
Segura nas mãos uma taça vazia
Essa é a sua oração.
O manto que a cobre
É o espírito que a descobre.
A seus pés de água perfumada
Uma vela flutua entre flores brancas.
A oração é o silêncio da entrega
– Eis a taça que sois! Enchei-a do vosso Vazio.
A Plenitude está na Graça
E a Graça é plena de incomensurável Vazio.
Maria Sarmento
Segura nas mãos uma taça vazia
Essa é a sua oração.
O manto que a cobre
É o espírito que a descobre.
A seus pés de água perfumada
Uma vela flutua entre flores brancas.
A oração é o silêncio da entrega
– Eis a taça que sois! Enchei-a do vosso Vazio.
A Plenitude está na Graça
E a Graça é plena de incomensurável Vazio.
Maria Sarmento
"FALO - no Laboratório Mágico ao dar-se a aparição espontânea de Lautréamont e Freud que traziam sobre as sobrancelhas um corte fino a atravessá-Ias..
As cinco letras em vidro
É um estilete de luz
a imensidade de que és feita
e contorna um azul-sonho-neve
igual aos cabelos que descobri a saírem da tua boca
- dos teus olhos de imaginação
- dos teus lábios curvos de aurora.
Saímos
enquanto as pessoas olhavam admiradas o Arco do Triunfo
deixando escorrer dos bolsos fitas e serpentinas
para tudo se passar como no pássaro
para deixar objectivamente escrito
nas margens do rio
do Mar
- o continente submerso
- o navio de todos os amantespor onde rola a carruagem em que viajamos
pintada de Liberdade e de Poesia
contigo a dormir sobre o meu peito.
POR ISSO EU SENTI SER FÁCIL O SUICÍDIO
FÁCIL E POSSÍVEL.
Fixou-se no muro da tua residência
sobre a porta que se abre ao visitante
um símbolo mágico e de cabala
- a oportunidade do meu regresso
- a história maravilhosa que te direi na viagem.
Procurei
nas folhas espalhadas pelo nosso leito
a recordação do que há-de vir
- apenas no esparso
- no diverso
- no acto simultâneo de defesa
- no viajar de aeróstato incógnito de distância
- na noite mágica
NA PRIMEIRA GRANDE NOITE MÁGICA QUE NÓS
TIVEMOS.
Abriu-se a janela que caminhava sozinha
e saiu um sonho simples de criança:
O METEORO DA TRANSFORMAÇÃO
pousado a um canto o meu Jogo de Cabala
(um montinho de quadrados,
de círculos, de triângulos,
dispostos geometricamente
sobre um tabuleiro grande)
o meu Tratado de Magia Humana
(um caminho de ogivas, um
relógio a dar horas sobreum túmulo em pé, os postes
magnéticos, os cordões da angústia)
FALO - no Laboratório Mágico ao dar-se a aparição espon
-tânea de Lautréamont e Freud que traziam sobre as
sobrancelhas um corte fino a atravessá-Ias lado a
lado:
-Ao aparecer a mulher escandalosamente
vestida de vermelho
ele dirige-se para a jovem
e os outros passeiam sobre as rochas
onde fica oculto o corpo do homem que chega continuamente
MUDO APONTA O HORIZONTE.
(In A Intervenção Surrealista)
ANTÓNIO MARIA LISBOAO Surrealismo na POESIA PORTUGUESA
organização, prefácio e notas, Natália Correia)
É um estilete de luz
a imensidade de que és feita
e contorna um azul-sonho-neve
igual aos cabelos que descobri a saírem da tua boca
- dos teus olhos de imaginação
- dos teus lábios curvos de aurora.
Saímos
enquanto as pessoas olhavam admiradas o Arco do Triunfo
deixando escorrer dos bolsos fitas e serpentinas
para tudo se passar como no pássaro
para deixar objectivamente escrito
nas margens do rio
do Mar
- o continente submerso
- o navio de todos os amantespor onde rola a carruagem em que viajamos
pintada de Liberdade e de Poesia
contigo a dormir sobre o meu peito.
POR ISSO EU SENTI SER FÁCIL O SUICÍDIO
FÁCIL E POSSÍVEL.
Fixou-se no muro da tua residência
sobre a porta que se abre ao visitante
um símbolo mágico e de cabala
- a oportunidade do meu regresso
- a história maravilhosa que te direi na viagem.
Procurei
nas folhas espalhadas pelo nosso leito
a recordação do que há-de vir
- apenas no esparso
- no diverso
- no acto simultâneo de defesa
- no viajar de aeróstato incógnito de distância
- na noite mágica
NA PRIMEIRA GRANDE NOITE MÁGICA QUE NÓS
TIVEMOS.
Abriu-se a janela que caminhava sozinha
e saiu um sonho simples de criança:
O METEORO DA TRANSFORMAÇÃO
pousado a um canto o meu Jogo de Cabala
(um montinho de quadrados,
de círculos, de triângulos,
dispostos geometricamente
sobre um tabuleiro grande)
o meu Tratado de Magia Humana
(um caminho de ogivas, um
relógio a dar horas sobreum túmulo em pé, os postes
magnéticos, os cordões da angústia)
FALO - no Laboratório Mágico ao dar-se a aparição espon
-tânea de Lautréamont e Freud que traziam sobre as
sobrancelhas um corte fino a atravessá-Ias lado a
lado:
-Ao aparecer a mulher escandalosamente
vestida de vermelho
ele dirige-se para a jovem
e os outros passeiam sobre as rochas
onde fica oculto o corpo do homem que chega continuamente
MUDO APONTA O HORIZONTE.
(In A Intervenção Surrealista)
ANTÓNIO MARIA LISBOAO Surrealismo na POESIA PORTUGUESA
organização, prefácio e notas, Natália Correia)
ENTRE
Intervalo onde nos encontramos. Disseste-me que estaríamos Entre. Inventaste um espaço onde tudo seria possível. Amor que não se cansa. Limite que não se conhece. Uma janela - eterno Entre na paisagem.
Tudo em aberto- intervalo inventado por ti, agora finito.
Quando a unidade procura o vazio e quase chega lá, dita a física que esse encontro nunca se faz por mais próximo que seja, em absoluto não existe.
Dá-me então esse relativo, onde existimos sem forma e limite. Este que cresce quanto mais Entre estivermos.
No limite, vivemos fora dele, sempre a procurar o infinito.
No intervalo que acabaste por definir - ilusão de finito, deixámos de amar.
Aparece o o sol a dizer que é azul
Olho e vejo o espectro
Vem o cego, toca meu seio
diz que é preto
eu o sinto tão sem cor, agora!
Falas do elo que falta, e eu te respondo que é na ausência que vivem os meus textos. O silêncio entre a última e a próxima palavra - ali onde respira o que não deve ser dito.
Dá-me um beijo na boca
Intervalo que somos
Um no outro - agora
Entre um beijo e outro
Procura a semente, cultiva, colhe
Fruta da época - Entre uma estação
e outra
Mortas as maçãs do meu pomar
Sementes de novo
Ama enquanto for tempo
Morre dentro do tempo
Semente de novo
Intervalo que não se acaba
Entre - Sempre
Tudo em aberto- intervalo inventado por ti, agora finito.
Quando a unidade procura o vazio e quase chega lá, dita a física que esse encontro nunca se faz por mais próximo que seja, em absoluto não existe.
Dá-me então esse relativo, onde existimos sem forma e limite. Este que cresce quanto mais Entre estivermos.
No limite, vivemos fora dele, sempre a procurar o infinito.
No intervalo que acabaste por definir - ilusão de finito, deixámos de amar.
Aparece o o sol a dizer que é azul
Olho e vejo o espectro
Vem o cego, toca meu seio
diz que é preto
eu o sinto tão sem cor, agora!
Falas do elo que falta, e eu te respondo que é na ausência que vivem os meus textos. O silêncio entre a última e a próxima palavra - ali onde respira o que não deve ser dito.
Dá-me um beijo na boca
Intervalo que somos
Um no outro - agora
Entre um beijo e outro
Procura a semente, cultiva, colhe
Fruta da época - Entre uma estação
e outra
Mortas as maçãs do meu pomar
Sementes de novo
Ama enquanto for tempo
Morre dentro do tempo
Semente de novo
Intervalo que não se acaba
Entre - Sempre
“É de ver que se trata de gente doida com aparência de sábios, gente que sabe, que sabe muito, gente para fuzilar.” [António Maria Lisboa, falando acerca de Fausto, mas poderia falar também de outra muito boa gente]
Etiquetas:
António Maria Lisboa,
indouto saber,
saber,
vaidade
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
TEMPESTADE
ensaio de espetáculo
de música e som
a levar à cena no Inferno
NOTA
breve apontamento de solidariedade para com a nação e o povo brasileiros
estranho é que entre os candidatos à Presidência da República Portuguesa
nem uma só candidatura tenha manifestado a sua solidariedade para com as vítimas da tragédia
DRAMA também é que um dos (sensíveis) candidatos não demora a ser investido como Presidente de todos os portugueses
Declaração de apoio ao Dr. Fernando Nobre
Apesar de considerar que nenhum dos candidatos à Presidência da República Portuguesa representa o novo paradigma mental, ético e civilizacional que considero urgente, torno público o meu apoio ao Dr. Fernando Nobre, pelas qualidades que pessoalmente lhe conheço, pela sua vida solidária e pelo seu perfil suprapartidário, além da sua sensibilidade à questão dos animais e do equilíbrio ecológico. Este apoio é estritamente pessoal e não vincula nenhuma das instituições que represento.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
SOL
O sol aparece sem dizer bom dia. Abraça quem dorme. Toma conta do dia. Nos dias de festa, fica até tarde.
Preguiçoso, adormece comigo na cama. Morre um homem. Nasce outra flor. Chove. Molha meu corpo de novo.
Nos dias de festa, o sol fica até tarde. Dorme comigo. Morre e nasce. Outra vez.
Nas estações de comboio chegavam homens de fora. Das prisões saíam heróis. Abraços que se prolongavam na canção da liberdade.
Não importa se gritavam sozinhos ou acompanhados, os seus pulmões descobriam caminho e entoavam sem medo:
- Camarada!
Homens que choram, sem vergonha do choro. Em cada abraço a memória da luta pela liberdade. Em cada sorriso, a esperança de um novo dia.
Da minha janela vejo o mar. Conto as ondas que se repetem na minha boca. Quando o sol aparece, abraça-me devagar. Peço a ele que fique e me aqueça, entre ir e voltar.
Os pescadores escolhem o melhor peixe. Os eleitos secam devagar, no sol. Voam morcegos nas noites quentes. Não escolhidos, voltam ao mar os peixes sobreviventes.
Morreu de morte matada. Escapou da fome. Regressou ao mar, o peixe que sobrou na rede do pescador. Cantou o galo pior sorte. Ensaguentado o touro explodiu.
Morrem os pobres - felizes antes de morrerem de fome. Desgraça assistida.
De noite conto as estrelas cadentes. Dançam sempre antes de morrer.
Preguiçoso, adormece comigo na cama. Morre um homem. Nasce outra flor. Chove. Molha meu corpo de novo.
Nos dias de festa, o sol fica até tarde. Dorme comigo. Morre e nasce. Outra vez.
Nas estações de comboio chegavam homens de fora. Das prisões saíam heróis. Abraços que se prolongavam na canção da liberdade.
Não importa se gritavam sozinhos ou acompanhados, os seus pulmões descobriam caminho e entoavam sem medo:
- Camarada!
Homens que choram, sem vergonha do choro. Em cada abraço a memória da luta pela liberdade. Em cada sorriso, a esperança de um novo dia.
Da minha janela vejo o mar. Conto as ondas que se repetem na minha boca. Quando o sol aparece, abraça-me devagar. Peço a ele que fique e me aqueça, entre ir e voltar.
Os pescadores escolhem o melhor peixe. Os eleitos secam devagar, no sol. Voam morcegos nas noites quentes. Não escolhidos, voltam ao mar os peixes sobreviventes.
Morreu de morte matada. Escapou da fome. Regressou ao mar, o peixe que sobrou na rede do pescador. Cantou o galo pior sorte. Ensaguentado o touro explodiu.
Morrem os pobres - felizes antes de morrerem de fome. Desgraça assistida.
De noite conto as estrelas cadentes. Dançam sempre antes de morrer.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Salmo
Ninguém nos moldará de novo em terra e barro,
ninguém animará pela palavra o nosso pó.
Ninguém.
Louvado sejas, Ninguém.
Por amor de ti queremos
florir.
Em direcção
a ti.
Um Nada
fomos, somos, continuaremos
a ser, florescendo:
a rosa do Nada, a
de Ninguém.
Com
o estilete claro-de-alma,
o estame ermo-de-céu,
a corola vermelha
da purpúrea palavra que cantámos
sobre,
oh sobre
o espinho.
Paul Celan in "Sete Rosas Mais Tarde", Edições Cotovia, Lisboa, 1996,pp 103 - 105
(Tradução de Yvette K. Centeno e João Barrento)
ninguém animará pela palavra o nosso pó.
Ninguém.
Louvado sejas, Ninguém.
Por amor de ti queremos
florir.
Em direcção
a ti.
Um Nada
fomos, somos, continuaremos
a ser, florescendo:
a rosa do Nada, a
de Ninguém.
Com
o estilete claro-de-alma,
o estame ermo-de-céu,
a corola vermelha
da purpúrea palavra que cantámos
sobre,
oh sobre
o espinho.
Paul Celan in "Sete Rosas Mais Tarde", Edições Cotovia, Lisboa, 1996,pp 103 - 105
(Tradução de Yvette K. Centeno e João Barrento)
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Os espanhóis, mais uma vez, levam-nos a dianteira; nós, como de costume, nem atrás de nós mesmos conseguimos ir. Vergonha!
"A RTVE, rádio e Tv públicas de Espanha, já não emitia touradas. O argumento era poupar as crianças ao conteúdo que considerava violento. E porque é caro cobrir uma corrida. Mas agora incluiu no seu Livro de Estilo a tourada como uma actividade que pratica a 'violência com animais' "
Fonte: http://www.publico.pt/Media/livro-de-estilo-da-tv-publica-espanhola-relaciona-touradas-com-violencia-contra-animais_1474350
Fonte: http://www.publico.pt/Media/livro-de-estilo-da-tv-publica-espanhola-relaciona-touradas-com-violencia-contra-animais_1474350
Etiquetas:
defesa dos animais,
Não-Violência,
Petição pela abolição das touradas e de todos os espectáculos com touros
sábado, 8 de janeiro de 2011
V V - vá votar
fosse a Justiça verdade
neste mundo de aldrabões
metade da humanidade
usava algema e grilhões
Caros amigos, agradeço a divulgação possível :)
22 de Janeiro
Workshop Filosofia para Crianças, Criatividade & Meia Dúzia de Chapéus às Cores®
para pais, professores, educadores e agentes educativos (6h)
local: CCPE - Av. 5 de Outubro 23, 1º - 1050-047 - Lisboa
informações & inscrições: contacto@ccpe.com.pt
29 de Janeiro
Oficinas A Filosofia é trabalhos de pensar
para pais e filhos (dos 4 aos 12 anos)
local: CCPE - Av. 5 de Outubro 23, 1º - 1050-047 - Lisboa
informações & inscrições: contacto@ccpe.com.pt
19 de Fevereiro
Sentir Pensamentos | Pensar Sentidos
I Encontro de Filosofia para Crianças e Criatividade
local: Colégio D. José I (em Aveiro)
informações e inscrições: encontrofilosofiacriatividade@gmail.com
26 de Fevereiro
Filósofo por um dia: aprender a pensar
local: X-Plain - Rua Fernando Lopes Graça, 6 A - (Telheiras) Lisboa
informações e inscrições: geral@x-plain.pt
Workshop Filosofia para Crianças, Criatividade & Meia Dúzia de Chapéus às Cores®
para pais, professores, educadores e agentes educativos (6h)
local: CCPE - Av. 5 de Outubro 23, 1º - 1050-047 - Lisboa
informações & inscrições: contacto@ccpe.com.pt
29 de Janeiro
Oficinas A Filosofia é trabalhos de pensar
para pais e filhos (dos 4 aos 12 anos)
local: CCPE - Av. 5 de Outubro 23, 1º - 1050-047 - Lisboa
informações & inscrições: contacto@ccpe.com.pt
19 de Fevereiro
Sentir Pensamentos | Pensar Sentidos
I Encontro de Filosofia para Crianças e Criatividade
local: Colégio D. José I (em Aveiro)
informações e inscrições: encontrofilosofiacriatividade@gmail.com
26 de Fevereiro
Filósofo por um dia: aprender a pensar
local: X-Plain - Rua Fernando Lopes Graça, 6 A - (Telheiras) Lisboa
informações e inscrições: geral@x-plain.pt
Formadora: Joana Sousa
"A man who does not think for himself does not think at all" (Oscar Wilde)
Etiquetas:
liberdade,
Oscar Wilde,
pensamento
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
amor inventado
Atravessei a rua, sem ver
Pisei no chão, descalça
Abracei o estranho, cega
Ri sem motivo, feito criança
Embriagada amei
teu corpo no meu
meu beijo no teu
parte quem nunca chegou
amor inventado
Pisei no chão, descalça
Abracei o estranho, cega
Ri sem motivo, feito criança
Embriagada amei
teu corpo no meu
meu beijo no teu
parte quem nunca chegou
amor inventado
poema e...
Escuta o barco que vai na estrada.
olha como brilha o redondo cio da lua.
demora em mim como um ser quieto.
escreve como quem fode a dor.
escreve a hora que é hora de sonhar.
fala com formas. Se te olho como um número inalcançável ou sonda que abala a terra, é porque existe um verbo que por nenhuma boca passou.sonho-te como um acreditado em OVNIS. como um inocente que se oferece para ser condenado. e vejo-te no princípio agora e sempre, amém. Tocas em mim feito nó cego.
algo inseparável. dois filhos unidos pela cabeça. duas rotas encontradas na curva do joelho. dois sóis feitos com a melhor fazenda do universo.
amor, por que me tocas com incendiária melodia. água benta a ressuscitar o meu nome,
e me desejas como um fruto que a terra ainda não deu?
fala-me do berço de todas as lembranças. do embalo suave da manhã, da casca da noz que nos transporta para lá do que é imortal.
vejo-te, e que isso nunca me cegue.
escuto-te. e que isso nunca me faça perder-te de vista.
És a minha visita logo pela manhã. o santuário onde só eu posso entrar. a luz febril na minha carne.
toco-te em animal(sidão). em flocos de sangue a trespassar as suas margens.
depois com os intestinos, com o coração a pedir mais e mais.
a minha raça aumenta. o meu destino torna-se em bagaço mudo. e expludo em selvática melancolia a desejar-te na oblíqua dor.
no vertical amor de vencer todos os tornados, e rompo o teu corpo com um disparo de neve. e torno-me ateu só de olhar a tua nudez
amor, conta-me as estradas,
manda o silêncio para a noite que o pariu, enterra o ciúme na terra e a terra no ciúme.
diz-lhes que estás a matar e a ser morta.
se tapo todos os silêncios do teu corpo,
é porque o meu clarão é uma música que invade, é algo que o Guinesse Book não registou
nem nunca ouviu falar. porque o meu
tesão tem algo de construtivismo.
e assim, amor, sei que vês estrelas polares no céu da minha boca. e sei que sou um filho da puta que te ama mais do que qualquer outro filho da puta
POESIA
Quando crescer vou ser poeta
contar da flor que nasce
daquela que agora morre
Quando crescer farei poesia
da poesia de cada encontro
Quando crescer, bastará fechar os olhos
abraçar tudo que vejo
Instante que amo e largo
Intervalo sem tempo
Poema que assiste a vida
contar da flor que nasce
daquela que agora morre
Quando crescer farei poesia
da poesia de cada encontro
Quando crescer, bastará fechar os olhos
abraçar tudo que vejo
Instante que amo e largo
Intervalo sem tempo
Poema que assiste a vida
DESENHO
Passei o dia à janela. Olhando de dentro para fora. Cada forma uma forma. Desenho-as mentalmente. Por onde começa a letra? Com o dedo imagino que nasce de cima para baixo. Encontro o fim e volto ao mesmo. Um desenho que nunca acaba. Como se o mundo fosse só essa curva que gosto. Redonda.
As cores conto-as aos pares. Viajo no espectro, encontro a matemática de cada elemento. Na unidade, procuro o par. Sustento. Reparto. Parto. Desenho que não se acaba, senão quando me canso.
Atravessa o cego com a bengala no ar - o buraco está no chão.
Trinta e seis justos Deus escolheu - sábios ignorantes a vaguear sem destino.
Redonda é a forma - vizinha do fim. Perfume doce em cada manhã.
Parto, reparto, sustento, respiro.
Encontra o cego a migalha de pão - largada no chão.
Do lado de fora, vejo a janela da minha casa. Embaciada.
Invento o começo - sem cor. Sem destino.
As cores conto-as aos pares. Viajo no espectro, encontro a matemática de cada elemento. Na unidade, procuro o par. Sustento. Reparto. Parto. Desenho que não se acaba, senão quando me canso.
Atravessa o cego com a bengala no ar - o buraco está no chão.
Trinta e seis justos Deus escolheu - sábios ignorantes a vaguear sem destino.
Redonda é a forma - vizinha do fim. Perfume doce em cada manhã.
Parto, reparto, sustento, respiro.
Encontra o cego a migalha de pão - largada no chão.
Do lado de fora, vejo a janela da minha casa. Embaciada.
Invento o começo - sem cor. Sem destino.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Rosas
(Dedicado a Platero que gosta de rosas...)
(…)
Noite das rosas noite das rosas.
Noite de rosas noite de muitas muitas
claras rosas, clara noite de rosas,
sono das mil pálpebras de rosas,
claro sono da rosas, sou eu que te durmo:
Claro dormente dos teus aromas, fundo
dormente das tuas frescas intimidades.
Como desfalecente a ti me entrego,
agora tens que responder pelo meu ser
Meu destino se dissolva
no mais incrível repouso,
e o instinto de abrir-se
sem ferir.
Espaço de rosas, nascido nas rosas,
nas rosas criado em segredo,
de rosas abertas nos acresce
grande como o do coração, para que também mesmo fora
nos possamos sentir no espaço das rosas.
( Paris, Julho de 1914 )
Excerto -Poemas II - Rainer Maria Rilke
(…)
Noite das rosas noite das rosas.
Noite de rosas noite de muitas muitas
claras rosas, clara noite de rosas,
sono das mil pálpebras de rosas,
claro sono da rosas, sou eu que te durmo:
Claro dormente dos teus aromas, fundo
dormente das tuas frescas intimidades.
Como desfalecente a ti me entrego,
agora tens que responder pelo meu ser
Meu destino se dissolva
no mais incrível repouso,
e o instinto de abrir-se
sem ferir.
Espaço de rosas, nascido nas rosas,
nas rosas criado em segredo,
de rosas abertas nos acresce
grande como o do coração, para que também mesmo fora
nos possamos sentir no espaço das rosas.
( Paris, Julho de 1914 )
Excerto -Poemas II - Rainer Maria Rilke
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
o pai não o deixava escrever poemas, porque para o seu pai, escrever poemas é coisa de maricas, não deixam crescer a barba de um homem e, um rapaz, para ser homem a sério, tem de primeiro ir à bola, aprender como se racha lenha numa só machadada. mas o rapaz, lá na mesa de jantar, dizia que tinha um pássaro dentro do coração que queria voar e, só por dizer, o seu pai batia com a mão na mesa que o fazia assustar e fugir para o quarto, onde, sozinho vai crescendo com os seus poemas escondidos na cabeça, lá num cantinho, pois para ele, a cabeça é o melhor lugar para se esconder de tudo e de todos. Um dia, enquanto brincava na rua, caiu, deu de corpo inteiro no chão e desmaiou. O seu pai estava por perto e foi de imediato socorrê-lo e, ao ter o filhos nos braços, cheirou-lhe a morte. E chorou. Chorou tão intensamente que, uns pequenos pássaros, vindos da ferida aberta do lado esquerdo do peito do rapaz, foram-lhe beber água aos olhos.
Grávida do mais profundo silêncio,
Ainda escuto a tua voz, meu Amor,
De um timbre inigualável,
De abalos momentâneos,
De imediatos entusiasmos de impulsividade,
De um querer que, assim que é,
Deixa logo de o ser.
Em mim reina o mais efémero
De todos os efémeros sentimentos,
De uma vontade in-constante.
Suave, leve, encantatório,
Por instantes,
Levas-me, pela tua mão,
Meu amor de agora,
Para os intricados labirintos
Do Amor
Onde nada se aquieta.
É o círculo do prazer e da ausência,
Também da felicidade e da solidão,
Que sempre se ergue,
Continuadamente,
Numa comunhão descontinua
De encontros e des-encontros orgásticos,
Que a alma inquieta
E o corpo excita, incita...
À mais plena união.
Isabel Rosete, 07/04/2008
Ainda escuto a tua voz, meu Amor,
De um timbre inigualável,
De abalos momentâneos,
De imediatos entusiasmos de impulsividade,
De um querer que, assim que é,
Deixa logo de o ser.
Em mim reina o mais efémero
De todos os efémeros sentimentos,
De uma vontade in-constante.
Suave, leve, encantatório,
Por instantes,
Levas-me, pela tua mão,
Meu amor de agora,
Para os intricados labirintos
Do Amor
Onde nada se aquieta.
É o círculo do prazer e da ausência,
Também da felicidade e da solidão,
Que sempre se ergue,
Continuadamente,
Numa comunhão descontinua
De encontros e des-encontros orgásticos,
Que a alma inquieta
E o corpo excita, incita...
À mais plena união.
Isabel Rosete, 07/04/2008
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
TEMPO DE ESQUECIMENTO
Teu corpo pequeno, redondo na minha mão, sorri.
Deito de costas. Olho o tempo. De trás para frente sempre a contar. Coisas do outro tempo.
A flor nasceu contigo. Sempre uma nova, na tua cama.
Quase brancas, lembram que o dia só acaba quando adormece.
Teu corpo pequeno, redondo sempre a crescer. Um adeus, até amanhã. Um beijo em cada partida. Um abraço a perder de vista.
Meu corpo a ceder.
Deito de lado. Sobre o coração pesa agora meu corpo. Uma história que sei contar às avessas.
Teu corpo pequeno, redondo, longe de mim.
Resta sempre o amanhã no dia que agora parte, deixando teu sorriso na mimha memória.
Teu corpo pequeno, redondo - livre.
Deito de costas. Olho o tempo. De trás para frente sempre a contar. Coisas do outro tempo.
A flor nasceu contigo. Sempre uma nova, na tua cama.
Quase brancas, lembram que o dia só acaba quando adormece.
Teu corpo pequeno, redondo sempre a crescer. Um adeus, até amanhã. Um beijo em cada partida. Um abraço a perder de vista.
Meu corpo a ceder.
Deito de lado. Sobre o coração pesa agora meu corpo. Uma história que sei contar às avessas.
Teu corpo pequeno, redondo, longe de mim.
Resta sempre o amanhã no dia que agora parte, deixando teu sorriso na mimha memória.
Teu corpo pequeno, redondo - livre.
domingo, 2 de janeiro de 2011
sábado, 1 de janeiro de 2011
Ano Novo
Quero uma agenda sem começo.
Como o tempo que sinto.
Contínuo nos intervalos.
Entre a infância e a semana passada, confundo o passado.
Subi a montanha. Presa no tronco, a dois passos do chão - chorei com medo da queda.
Presa com a boia, junto à terra - tive medo de me afundar.
Na escola, aprendi a ler. O 'A 'vem antes do 'C' e do 'B'. O '2' acompanha o '3'.
Há sempre um antes e outro depois. O tempo a subtrair tempo, no tempo que aprendo.
O tempo de ontem, no ventre da minha mãe.
Noto o mar preguiçoso, mesmo quando se mostra revolto.
Daqui a pouco sereno. É assim o seu tempo. Sempre novo.
O rio acaricia a montanha, a borboleta beija a flor.
Saboreio a maçã, toco meu corpo molhado.
É assim a natureza. Em todos os intervalos.
Uma agenda sem início, nem fim.
Como o tempo que sinto.
Contínuo nos intervalos.
Entre a infância e a semana passada, confundo o passado.
Subi a montanha. Presa no tronco, a dois passos do chão - chorei com medo da queda.
Presa com a boia, junto à terra - tive medo de me afundar.
Na escola, aprendi a ler. O 'A 'vem antes do 'C' e do 'B'. O '2' acompanha o '3'.
Há sempre um antes e outro depois. O tempo a subtrair tempo, no tempo que aprendo.
O tempo de ontem, no ventre da minha mãe.
Noto o mar preguiçoso, mesmo quando se mostra revolto.
Daqui a pouco sereno. É assim o seu tempo. Sempre novo.
O rio acaricia a montanha, a borboleta beija a flor.
Saboreio a maçã, toco meu corpo molhado.
É assim a natureza. Em todos os intervalos.
Uma agenda sem início, nem fim.
Subscrever:
Mensagens (Atom)