O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

DESENHO

Passei o dia à janela. Olhando de dentro para fora. Cada forma uma forma. Desenho-as mentalmente. Por onde começa a letra? Com o dedo imagino que nasce de cima para baixo. Encontro o fim e volto ao mesmo. Um desenho que nunca acaba. Como se o mundo fosse só essa curva que gosto. Redonda.

As cores conto-as aos pares. Viajo no espectro, encontro a matemática de cada elemento. Na unidade, procuro o par. Sustento. Reparto. Parto. Desenho que não se acaba, senão quando me canso.

Atravessa o cego com a bengala no ar - o buraco está no chão.
Trinta e seis justos Deus escolheu - sábios ignorantes a vaguear sem destino.
Redonda é a forma - vizinha do fim. Perfume doce em cada manhã.

Parto, reparto, sustento, respiro.
Encontra o cego a migalha de pão - largada no chão.
Do lado de fora, vejo a janela da minha casa. Embaciada.
Invento o começo - sem cor. Sem destino.

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